GUILHERME SETO SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Como sempre acontece em momentos em que a seleção argentina fracassa na conquista de um título com Messi, torcedores mais exaltados contestam o seu vínculo com o país em que nasceu.

Morador da Catalunha, na Espanha, desde os 13 anos de idade, quando passou a jogar nas categorias de base do Barcelona, Messi não mora na Argentina desde então. Alguns torcedores se deixam afetar por isso em situações dramáticas -foram três derrotas em finais nos últimos anos- e dizem que ele é mais espanhol que argentino.

No entanto, segundo aqueles que conviveram ou ainda convivem com o jogador, não há como sustentar essas “acusações”. Em seus hábitos diários, Messi ainda reproduz costumes que aprendeu em Rosario, a 300 quilômetros de Buenos Aires. “Não há nada mais distante da realidade. É uma injustiça que cometem com ele. Messi vive na Catalunha, claro, mas toma mate e come ‘tostada’ com marmelada, costumes tipicamente argentinos, rosarinos. Ouve muita cumbia (ritmo musical típico em diversos países sul-americanos) também. Ele é mais argentino que qualquer outro argentino. Ele escolheu ser argentino quando poderia facilmente ser espanhol”, diz à reportagem Federico Russo, jornalista argentino que criou o programa “Mundo Messi”, dedicado ao jogador, e conhecido por ser o profissional que tem mais contato com o atleta que na segunda (27) disse que não voltará a jogar pela Argentina.

“Ele viaja constantemente a Rosario, é muito humilde, jamais esqueceu dos amigos de sua cidade”, completa. Em 2015, Messi divulgou ao jornal espanhol “Sport” as suas dez músicas preferidas. Sete delas são argentinas e três colombianas. Ao todo, cinco pertencem ao gênero cumbia (três de Sergio Torres, uma dos Pibes Chorros e outra de El Polaco. Sua música preferida é “Hijo”, da banda de reggae argentina Los Cafres.

Dois jogadores brasileiros que atuaram ao lado de Messi no Barcelona corroboram o que diz o jornalista. “É uma bobagem [dizer que Messi é espanhol]. Ele fala como argentino, vive como argentino, nunca vi nada que não fosse argentino nele. Como alguém pode dizer que o Messi não é argentino? Só de ouvi-lo falar você vê que ele é de lá, pelo sotaque que ele fez questão de nunca perder.

Casou-se com uma argentina, convive muito nesse ambiente com os pais e irmãos, todos argentinos”, diz o ex-lateral Sylvinho, que jogou no Barcelona de 2004 a 2009. “Quem conviveu, sabe como ele é argentino. Adora comer uma carne, tem muita amizade com jogadores do mesmo país. A Argentina é a essência dele. Na Espanha, tem o outro lado da moeda: eles veem que o Messi fala o espanhol com sotaque argentino, e isso nunca é colocado em questão. Eles o aceitam como argentino, sabem disso, e não é um problema. Para eles, o melhor jogador do mundo é argentino, mas joga no país deles, e tudo bem”, completa.

O ex-volante Edmilson, que jogou no Barcelona de 2004 a 2008 e atualmente é membro do comitê de reformas da CBF, também lembra do “argentinismo” de Messi. “Quem vivia com ele percebia que ele se mostrava muito afetivo ao falar da Argentina. Além disso, ele tinha um jeito sul-americano de ser, muito relaxado, solto. Antes de uma partida enorme, como Barcelona e Juventus, os europeus ficam quietinhos, concentrados, cara fechada, buscando o foco. Mas ele não se sentia pressionado com qualquer tipo de jogo ou ambiente”, diz.

“Eu lembro de vários ‘novos Messis’ europeus que surgiram e nunca chegaram perto dele, talvez por isso [não saber lidar com a pressão]. Com o Bojan, foi assim. Alguns diziam que seria melhor que o Messi, ele foi chamado para a seleção espanhola [para disputar a Eurocopa-2008], teve um ataque de ansiedade e nem conseguiu jogar [recusou a convocação]”, analisa Edmilson.