DIOGO BERCITO, ENVIADO ESPECIAL AMATRICE, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Subiu para 250 o número de mortos após o forte terremoto que atingiu a região central da Itália na madrugada desta quarta-feira (24), segundo balanço divulgado pela Defesa Civil italiana na tarde desta quinta (25). Outras 365 pessoas ficaram feridas na região.

Equipes de socorristas mantêm ininterruptas as buscas nesta quinta, conscientes de que correm contra o tempo para encontrar e resgatar com vida pessoas presas sob os escombros. “É possível que o número de vítimas cresça”, advertiu durante a tarde de quarta o chefe de governo italiano, Mateo Renzi, que percorreu a zona afetada e prometeu ajuda para as famílias afetadas. Segundo fontes da imprensa, dezenas de pessoas continuam desaparecidas e, provavelmente, estão sepultadas vivas.

O tremor foi descrito como “severo” pelas autoridades italianas. Diversos vilarejos foram afetados, alguns deles com parte de suas construções desmoronadas. A zona em questão, porém, não é densamente povoada. “Metade da cidade não existe mais”, afirmou Sergio Pirozzi, prefeito de Amatrice. Vivem ali menos de 3.000 habitantes. O acesso foi bloqueado por um deslizamento de terra e pela queda de uma ponte.

A cidade sediaria, em três dias, um já tradicional festival gastronômico, e muitos visitantes já estavam em Amatrice. Cerca de 70 hóspedes estavam registrados no Hotel Roma. De lá, foram retirados sete corpos, até o momento em que as operações de resgate foram suspensas na noite desta quarta. Não há informações sobre a situação dos demais hóspedes.

O serviço geológico dos EUA registrou que o terremoto, às 3h30 locais (22h30 em Brasília) teve magnitude de 6,2, a dez quilômetros de profundidade, com epicentro em Norcia. Houve réplicas pela região, com tremores sentidos até em Roma. O instituto italiano para terremotos contou 60 réplicas durante quatro horas. “Nós viemos para a praça e parecia o Inferno de Dante”, conta Agostino Severo, em uma referência à “Divina Comédia”, do escritor italiano Dante Alighieri.

Severo, que mora em Roma e visitava o vilarejo de Illica, ao norte de Amatrice, afirma que “as pessoas choravam por ajuda. O resgate chegou após uma hora, uma hora e meia”. Pacientes de um hospital local foram deslocados à praça de Amatrice. Em outros povoados afetados, moradores abandonaram as casas durante a madrugada após os tremores. O premiê italiano, Matteo Renzi, afirmou que “nenhuma família, nenhuma cidade, nenhuma aldeia será deixada abandonada”. Em pronunciamento à TV italiana, ele disse que a prioridade para os próximos dias é resgatar sobreviventes que possam estar soterrados nos escombros.

Em nota divulgada na manhã de ontem, o Itamaraty afirmou que, até o momento, não há registro de brasileiros entre as vítimas e expressou solidariedade ao povo italiano. De acordo com a rede pública italiana Rai, houve mortos em Pescara del Tronto, Accumoli e Amatrice. O prefeito de Accumoli, Stefano Petrucci, afirmou que 2.000 pessoas perderam suas casas.

MORADORES

“Aqui se ouvem apenas os gatos”, afirmou à agência AFP Guido Bordo, 69, morador de Accumoli, enquanto esperava notícias de sua irmã, soterrada nos escombros. “Ela não dá sinais de estar viva.” Um morador de Arquata, citado pela RaiNews, revelou que vários prédios ficaram destruídos na localidade, a 25 km de Norcia, mas não citou feridos. “Os moradores estão na praça central e muitos prédios desabaram.”

Equipes de resgate trabalhavam durante a manhã em busca de sobreviventes. Moradores da região relatavam vozes vindas debaixo dos escombros. Com diversos povoados montanhosos afetados pelo tremor, as operações enfrentavam dificuldades de logística. A Cruz Vermelha pediu que automóveis evitem as estradas ao norte de Roma para ajudar as equipes a chegar às zonas afetadas. No Vaticano, o papa Francisco cancelou sua catequese matutina a peregrinos na praça de São Pedro para orar pelas vítimas. A Santa Sé informou que enviou um grupo de seis bombeiros a Amatrice para auxiliar no resgate de vítimas.

TERREMOTOS

A Itália é um dos países com maior atividade sísmica na Europa, devido a sua posição entre duas falhas geológicas. Em 2009, um terremoto de magnitude 6,3 na cidade de Áquila deixou mais de 300 mortos. O tremor mais letal no país desde o início do século 20 ocorreu em 1908, com estimativas de 95 mil mortos na região sul.