GUILHERME GENESTRETI
GRAMADO, RS (FOLHAPRESS) – Quem não conhecer a trajetória de Elis Regina e topar com a cinebiografia “Elis”, que estreia em novembro, vai formar na cabeça a ideia de uma cantora que pautou toda a carreira pela necessidade de se afirmar — contra rivais na música, contra gravadoras, contra a ditadura militar, contra os maridos.
“Ela teve que se impor num ambiente muito machista, por isso esse retrato”, diz à Folha o diretor Hugo Prata, logo após a exibição do filme em Gramado, na noite deste sábado (27). “Elis” abriu a competição de filmes nacionais no festival de cinema da serra gaúcha.
Sobre o consumo de drogas, que fulminaria a vida da cantora em 1982, a menção é tímida. “Consegue um pouco daquele barato? Preciso de energia” é a única frase que o público tem como deixa para perceber o envolvimento de Elis com cocaína.
“Ela era muito careta. O uso de drogas ocorreu só mesmo nos últimos meses de vida dela”, diz Prata.
“Elis” é uma cinebiografia clássica. Repassa, de forma cronológica os 18 anos de carreira da cantora gaúcha, desde que ela desembarcou no Rio para tentar gravar o primeiro disco, em meio à convulsão do golpe militar, até a morte, em São Paulo.
Os principais momentos de sua carreira, descritos com didatismo, estão todos ali: os primeiros shows no Beco das Garrafas, em Copacabana, com Miéle e Bôscoli; o estouro na TV, quando São Paulo destronou o Rio como capital da música brasileira; e os embates com a ditadura e com a esquerda, que não a perdoou quando ela foi obrigada a cantar para os militares.
No papel principal, Andréia Horta repete os mesmos trejeitos e tiques da cantora: os pulinhos no palco, os braços em hélice, o sorriso gengival. O estreante Prata, que veio da direção de videoclipes, dá bastante destaque para as performances, que contam com Andréia dublando a personagem.
ROUBO DA JULES RIMET
Compete com “Elis”pelo Kikito a comédia “O Roubo da Taça”, que também foi exibida na noite de sábado.
O filme, dirigido por Caíto Ortiz, remonta o desastrado e cômico roubo da taça do tricampeonato.
Paulo Tiefenthaler (do programa “Larica Total”) e Danilo Grangheia fazem a improvável dupla de bandidos pé-de-chinelo que invadiram a sede da CBF, no Rio, em 1983, e levaram a taça Jules Rimet.
O filme se esbalda na comicidade de um evento de tintas tão patéticas que só poderia acontecer no Brasil: sabe-se-lá-porquê, a réplica estava guardada no cofre, e a original ficava exposta sob um vidro mal pregado.
“Como um país desses ganhou três Copas?”, diz um dos personagens. Outra tirada que despertou gargalhada generalizada: “A CBF é séria!”, diz o dirigente da entidade, interpretado por Stepan Nercessian.
O jogo cômico do filme é completado pela atriz Taís Araújo, que vive a fogosa mulher de Peralta (Tiefenthaler).
O anúncio dos vencedores da mostra sai na noite de sábado (3). São seis filmes nacionais no páreo, incluindo as novas produções de Domingos Oliveira (“Barata Ribeiro”) e Marco Dutra (“O Silêncio do Céu”).
O Festival de Gramado abriu na sexta (25), com a exibição de “Aquarius”, fora da competição.
O filme de Kleber Mendonça Filho foi ovacionado em sessão que contou com gritos de “Fora, Temer”, vindos do público. Marcelo Calero, ministro da Cultura, estava no cinema e foi vaiado.
“Nunca é demais repetir que é golpe”, disse, sobre o impeachment de Dilma, a atriz Sonia Braga, protagonista de Aquarius”, na coletiva de imprensa que ocorreu no sábado (26).
O jornalista viajou a convite do Festival de Gramado