DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Uma investigação do jornal britânico “Guardian” concluiu, nesta segunda-feira (29), que o programa de auxílio das Nações Unidas resultou na distribuição de contratos e fundos para pessoas próximas ao regime do ditador sírio, Bashar al-Assad.
A ONU teria pago, por exemplo, mais de US$ 4 milhões (R$ 13 milhões) a um fornecedor estatal de combustível que está na lista de sanções da União Europeia. Já a OMS (Organização Mundial da Saúde) teria gasto mais de US$ 5 milhões (R$ 16 milhões) no banco de sangue sírio, controlado pelo departamento de defesa de Assad.
Outro beneficiado de agências da ONU seria uma organização de caridade criada e dirigida por Asma al-Assad, mulher do ditador, com US$ 8,5 milhões (R$ 27 milhões). Asma é alvo de sanções da União Europeia e dos Estados Unidos.
A ONU também destinou fundos para o empresário Rami Makhlouf, considerado o homem mais rico da Síria e um dos principais aliados de Assad. Makhlouf controla a empresa de celular Syriatel.
DIFICULDADES
O relatório do diário britânico sugere que a ONU prioriza áreas controladas pelo regime sírio e, dessa maneira, ajuda a manter uma ditadura que é responsável pela morte de centenas de milhares de civis.
Há divergências a respeito do número de mortos neste conflito, iniciado em 2011. A estimativa varia em torno de 400 mil ou 500 mil vítimas.
Em sua defesa, a ONU afirma fazer o possível para garantir que o dinheiro seja gasto de maneira adequada, dadas as dificuldades de suas operações na Síria -onde o regime de Assad precisa aprovar todas as parcerias.
As Nações Unidas afirmam precisar trabalhar com o regime para poder operar na Síria, e que o seu trabalho salvou milhões de vidas. “Para trabalhar na Síria, as forças humanitárias precisam tomar decisões difíceis”, disse um porta-voz da organização.
Diante de decisão de aliar-se a empresários que possam ser afiliados ao regime ou deixar civis sem a assistência necessária, segundo o porta-voz da ONU, a escolha é evidente: os civis.
Além disso, a ONU trabalha a partir da sua própria lista de sanções, e não aquelas emitidas por EUA e UE.