CARLOS MESSIAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Não é permitido perguntar sobre as calcinhas que as fãs atiram no palco.” Essa foi uma das condições passadas pela assessoria de imprensa que intermediou a entrevista por telefone do cantor galês Tom Jones à Folha de S.Paulo.
Não devem ser incomuns perguntas desse teor ao crooner de “Sex Bomb”, cuja persona no palco se notabilizou pela camisa abotoada até a metade. Bem antes do surgimento de Wando.
Em 1965, Tom Jones integrava o catálogo da gravadora inglesa Decca, junto com Rolling Stones, Small Faces e Them, à época liderado por Van Morrison. Com seu hit “It’s Not Unusual”, Jones se tornou um dos principais artistas solo da Invasão Britânica, fenômeno que levou bandas como Beatles, Kinks e os próprios Stones ao topo das paradas nos EUA. Desde então, os passos na carreira do intérprete se mantiveram superlativos.
Vendeu mais de 100 milhões de discos, impulsionados por sucessos como “Delilah”, “Moma Told me Not to Come” e “What’s New Pussycat?”, de Burt Bacharat. Estrelou um programa de TV com a diva Raquel Welsh, veio ao Rio em 1974 para um show de gala no Hotel Nacional e fez temporadas regulares em Las Vegas, entre 1967 e 2011.
“Parei de tocar lá porque deixou de ser divertido. Antes eu me apresentava com gente como Elvis, Sinatra e Aretha Franklin. Mas o público agora só está interessado em musicais. É Cirque du Soleil Beatles, Cirque du Soleil Elvis”, diz Tom Jones.
Nesta terça (13), o músico realiza no Citibank Hall, em São Paulo, seu segundo show no Brasil. Mesmo com a presença garantida dos seus sucessos mais pop, o setlist também vai contemplar uma fase musicalmente mais sóbria do artista, na qual vem resgatando suas raízes country, blues e gospel, gêneros que costumava sintonizar pela BBC e pela Radio Luxenbourg antes de deixar o País de Gales.
A guinada artística ocorreu em 2010, quando assinou com a Island Records e começou a trabalhar com o produtor Ethan Johns, que já havia gravado de Crosby, Stills and Nash a Kings of Leon. “Ele disse: ‘Escuto características da sua voz que acho que ainda não foram devidamente exploradas’. Então começamos a trabalhar juntos e fiquei muito contente com o resultado”, afirma Jones.
A parceria rendeu três álbuns: “Praise and Blame” (2010), “Spirit in the Room” (2012) e “Long Lost Suitcase” (2015). Pelos arranjos e pela rouquidão do vocal, a tríade lembra a série American, que encerrou a discografia de Johnny Cash. Inclusive, “Praise and Blame” traz “Ain’t No Grave” e “Run On”, duas tradicionais canções gospel que haviam sido interpretadas pelo ícone country nos discos “American V” (2006) e “American VI” (2010).
O britânico, no entanto, nega ter havido influência. “Foi uma coincidência. Eu só conhecia ‘Run On’ na versão do Elvis Presley. E escutei ‘Ain’t No Grave’ pelo Johnny Cash depois que lancei o disco”, explica.
Apesar do teor mais cru dos álbuns mais recentes, centrados na combinação voz e violão, Jones traz a São Paulo uma banda completa, com direito a naipe de metais.
“Faço novos arranjos das velhas canções, inclusive para mantê-las interessantes para mim. Mas sempre entendi que, uma vez no palco, você não está lá só para se satisfazer, tem que agradar o público. De modo que dá para reconhecer os hits assim que eu começo a cantar. Não será nada como Bob Dylan [risos]”, brinca o músico.
TOM JONES
QUANDO: Terça (13), às 21h30
ONDE: Citibank Hall, av. das Nações Unidas, 17.955, Santo Amaro, tel.: 11 4003-5588.
QUANTO: A partir de R$ 120 p/ ticketsforfun.com.