“A arte une, a política divide! O demônio da política pode dividir: é o seu ofício. Mas a arte reúne o que estava dividido; é a sua grandiosa missão, a sua força incoercível.” Com essas palavras, proferidas no dia 26 de outubro de 1896, véspera do funeral do compositor Antonio Carlos Gomes (1836/1896), no extinto Teatro São Carlos, o jornalista Julio Mesquita, fundador de O Estado de S. Paulo, orador oficial da cerimônia, definiu o que seria a força da arte na vida da nação. Mas não apenas. Sem saber, passados 120 anos, sua fala foi a responsável para que o historiador e advogado Jorge Alves de Lima, 79, se inspirasse em contar a vida do maestro.

Na última terça no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Campinas, Lima lança pela Editora Solution o livro Carlos Gomes — Sou e sempre serei: o Tonico de Campinas. “A frase do discurso de Julio Mesquita (‘A arte une, a política divide’), mostrou a importância de Gomes, cidadão, acima do compositor. Mostrou que, com a dor de sua doença e morte, conseguiu unir o País num momento em que estávamos diante de problemas políticos e revoltas que ameaçavam dividir o Brasil em muitos”, diz o historiador.

“O traslado do corpo de Belém até Campinas, de navio e de trem, parando para homenagens em Salvador, Rio, Santos, São Paulo e Jundiaí, serviu para avivar o clamor de união entre os brasileiros como um só povo. Ele foi, à época, fator de pacificação e unidade territorial”, explica Lima.

Jorge Alves de Lima, que é autor de outros três livros sobre Campinas no fim do ciclo imperial, pesquisou em arquivos de Campinas e Belém, onde o maestro morreu em 16 de setembro, vítima de um câncer na boca. “É preciso redescobri-lo porque o Brasil está carente de livros e heróis”, diz.