Além de 5G, internet das coisas e outros temas discutidos na Futurecom — principal feira de telecomunicações da América Latina que aconteceu na semana passada em São Paulo — as operadoras também debateram como conectar o grande número de pessoas que ainda não têm acesso a internet no Brasil. De acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2015, realizada pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), o número de lares desconectados no País chega a 32,8 milhões ou 42% do total.

Ao contrário do que muitos imaginam, os ‘desconectados’ estão espalhados por todo o País. Pessoas das classes C, D e E — sejam elas moradoras de pequenas cidades ou grandes centros urbanos — estão fora da internet por falta de dinheiro, embora morem em regiões atendidas pelo serviço fixo e móvel. No total, são quase 30 milhões de lares ou mais de 90% do total os desconectados.

Enquanto isso, na zona rural, a situação também é crítica porque a conexão de internet, em muitos casos, não chega às casas. Segundo a pesquisa, só 22% das moradias têm banda larga na zona rural no Brasil.

Para Aníbal Diniz, conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o desafio das operadoras é tão grande quanto a cobertura de voz no passado. No começo, o Brasil não tinha cobertura por voz em todos municípios, disse Diniz. Conseguimos vencer isso aos poucos e, agora, teremos de vencer a falta de banda larga. Não vai ser fácil.

Momento deve ser visto como uma oportunidade

A tarefa, apesar de difícil, representa uma oportunidade para as operadoras, que podem ganhar mais dinheiro ao conectar mais pessoas. Durante a Futurecom, o presidente executivo da TIM, Stefano de Angelis, ressaltou que a companhia quer chegar às pessoas onde a conexão de banda larga ainda não está disponível. Precisamos investir nesses lugares para aumentarmos nossa presença pelo País, disse o executivo. A empresa pretende levar conexão 4G para 2 mil municípios até 2017 – hoje, a operadora atende 664 cidades.

A Telebrás, empresa de economia mista que lidera os esforços do governo no setor, pretende investir na expansão de sua rede de fibra óptica, que já tem 28 mil quilômetros e lançar seu primeiro satélite, que vai cobrir o País inteiro. Essas tecnologias poderão alcançar municípios que nunca tiveram acesso à internet, disse o diretor técnicos da Telebrás, Jarbas Valente.

As fabricantes de equipamentos também estão de olho nesse mercado. A PromonLogicalis, por exemplo, desenvolveu um balão que distribui conexão de banda larga em fazendas.

O balão pode custar até cinco vezes menos do que uma antena de transmissão convencional, afirma Lucas Pinz, diretor de tecnologia da fornecedora. Atualmente, é um dos meios mais fáceis e baratos de conectar a zona rural.

Nos dias atuais 2,7 bi estão conectados

Mais da metade das pessoas no Brasil assistem a vídeos por meio de streaming diariamente e a tendência é que esta estatística aumente. Em um futuro muito próximo, a chamada internet das coisas (IoT) vai conectar à rede toda sorte de dispositivos, desde eletrodomésticos até máquinas industriais. Nos dias atuais, cerca de 2,7 bilhões de pessoas estão diariamente conectadas no mundo inteiro. A estimativa é de que em dez anos sejam aproximadamente 250 bilhões de conexões, entre pessoas e máquinas.

Para Sylvio Peres, vice-presidente de vendas para Caribe e América Latina da CommScope, multinacional do setor de telecomunicações, tais evoluções exigirão baixa latência (quedas de sinal) e alta velocidade de conexão diante de um cenário que prevê uma estrutura que permita que automóveis estejam conectados e médicos possam fazer cirurgias remotamente.


Rápida

Dificuldade
A rede cabeada no Brasil, assim como na América Latina de uma maneira geral, cobre cerca de 20% do território. As características geográficas, muito variadas de região para região, dificultam a chegada a locais mais distantes, como as zonas rurais.