GABRIELA SÁ PESSOA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mais do que a programação cultural, a protagonista da Virada Cultural é a cidade de São Paulo. Transferi-la para Interlagos, como anunciou João Doria nesta segunda (5), descaracteriza a festa.
A opinião é compartilhada por quem é intimamente ligado ao evento -a reportagem ouviu Carlos Augusto Calil, ex-secretário municipal de Cultura, José Mauro Gnaspini, produtor que participou de todas as 12 edições do evento. E o vereador Andrea Matarazzo (PSD), ex-secretário estadual de Cultura, subprefeito da Sé no primeiro ano do evento e autor do projeto de lei que garante a festa no calendário oficial paulistano.
“É um erro crasso. A virada é o centro, representa o processo de revitalização humana da região”, diz Calil, que chefiou a pasta da Cultura nas oito primeiras edições. “Ela teve o efeito importante de chamar a atenção das pessoas para lá. Todos têm seu bairro, mas o centro é um lugar comum para todo mundo. O que a Virada fazia era permitir o encontro das várias classes sociais num mesmo território. Tem um valor simbólico, material.”
Já Matarazzo é a favor de levar a Virada para todas as subprefeituras da cidade, além do centro. Contanto que ela permaneça nas ruas: “O essencial é que conheçam os espaços, que abram os restaurantes, os bares. Confinar é como um show patrocinado como qualquer outro em Interlagos. Vão credenciar, vai ter camarote VIP, toda aquela coisa”.
Além dos eventos automobilísticos, o autódromo recebe desde 2014 o festival Lollapalooza.
Para Gnaspini, a Virada “nunca foi um evento cultural ‘stricto sensu’. É experiencia urbanística. Se você confina a festa em um lugar só, perde”. O produtor afirma que até seria viável promovê-la em Interlagos, além do centro. Mas nas ruas, avenidas e praças, “mostrando o bairro para a população”.
Amigo de André Sturm, futuro secretário de Cultura, Calil diz duvidar que a ideia tenha partido dele: “Ele não faria uma coisa dessas”. A reportagem apurou que Sturm não sabia da decisão -procurado, ele não atendeu à reportagem até as 21h.
“Uma interferência do prefeito direto na Cultura não é boa. Não é por aí que se faz”, critica Calil.
Também próximo ao futuro secretário, Matarazzo diz ter “esperança de que Sturm, que conhece isso bem, convença a prefeitura a fazer a Virada como foi concebida por Serra e Kassab”.