O deputado federal Osmar Serraglio (PMDB) foi escolhido ontem pelo presidente Michel Temer para assumir o Ministério da Justiça, em substituição a Alexandre de Moraes, indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF). O parlamentar, que nasceu em Erechin (RS), fez carreira política no Paraná, estado pelo qual cumpre seu quinto mandato na Câmara. A nomeação foi confirmada na noite de ontem pelo porta-voz da Presidência, Alexandre Parola. Segundo ele, o presidente expressou “plena confiança” na capacidade de Serraglio para onduzir os trabalhos da pasta.

Serraglio assume a nova função no momento em que crescem as suspeitas sobre um acordão entre políticos para tentar barrar as investigações da operação Lava Jato, que atingem grande parte dos caciques do PMDB no Congresso e do núcleo principal do governo Temer. A Polícia Federal, responsável pela investigação, é subordinada ao Ministério da Justiça.

Além disso, Serraglio também chega sob a suspeita de ser aliado do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), preso desde outubro do ano passado em Curitiba por ordem do juiz federal Sérgio Moro, acusado de cobrar propina para intermediar contratos da Petrobrás. Em abril do ano passado, o parlamentar chegou a defender que Cunha fosse anistiado por ter conduzido o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Além disso, Serraglio foi acusado de promover manobras na CCJ para atrasar o processo de cassação de Cunha.

Diante dessas suspeitas, Serraglio afirmou ontem ter combinado com Temer que não haverá qualquer interferência na operação. A ordem é manter distância (da Lava Jato), porque a gente sabe que qualquer coisa que você faça, você se contamina, então é pra deixar pra lá, afirmou ele ao jornal Folha de São Paulo. Imagina um ministro da Justiça pedir para alguém tergiversar nessa investigação? Isso seria a negação da República, alegou.

Ele também negou que tenha qualquer dívida com Eduardo Cunha, que apoiou sua eleição para presidente da CCJ da Câmara. Essa história de que devo favor a Cunha é folclore, rebateu. Claro que não vou minimizar a importância política e a liderança que ele exercia na Casa, mas a Comissão de Constituição e Justiça reconheceu que não agi de forma parcial, garantiu, lembrando que a comissão rejeitou o pedido de Cunha para anular seu processo de cassação.

Em seu quinto mandato como deputado federal, Serraglio é ligado à bancada ruralista, exercendo a coordenação da Frente Parlamentar da Agricultura. O deputado também foi 1º secretário da Mesa da Câmara de 1º de fevereiro de 2007 a 1º de fevereiro de 2009 e presidente da Comissão de Constituição e Justiça em 2016.

Mensalão

Serraglio ganhou projeção nacional entre 2005 e 2006, quando foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, que investigou o caso do mensalão no governo do ex-presidente Lula. Na época, ele foi apontado como um relator rigoroso, por ter denunciado integrantes do alto escalão do governo petista.

Mais tarde, apesar de integrar a base do governo Dilma Rousseff na Câmara, ele foi um dos primeiros parlamentares peemedebistas a aderir à tese do impeachment e se aproximar do grupo de Eduardo Cunha. O parlamentar assume o cargo de ministro com o apoio da bancada do PMDB na Câmara, que cobrava de Temer mais espaço para o partido no primeiro escalão do governo.

Mais recentemente, Serraglio defendeu a quebra do sigilo de delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato. Tem que abrir o sigilo. Quando você abre as janelas da colaboração, facilita a investigação, afirmou no início do mês ao Estado de São Paulo.