ESTELITA HASS CARAZZAI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Executivo de uma das empreiteiras que pagou propina ao ex-gerente da Petrobras Roberto Gonçalves, preso nesta terça (28), Rogério Araújo, da Odebrecht, orientou o servidor da estatal sobre como receber as vantagens indevidas e chegou a emprestar uma conta a ele.
“Eu cometi um desatino, né. Abri uma conta em meu nome e dei para ele, para ele usar essa conta. Não deixei de ser, desculpa o termo, um ‘laranja’ dele”, declarou Araújo, um dos delatores da Odebrecht, em depoimento prestado ao Ministério Público Federal.
Ele recebeu cerca de R$ 2,2 milhões nessa conta, segundo Araújo. O dinheiro, que não foi movimentado, acabou sendo restituído no acordo de delação da Odebrecht.
O executivo afirmou que Gonçalves, que sucedeu Pedro Barusco na gerência da diretoria de Serviços da Petrobras, era novato no recebimento de propinas -ao contrário de outros executivos, que já estavam “em velocidade de cruzeiro”.
“Eu tinha preocupação porque era o primeiro negócio de vantagem indevida que a gente estava fazendo com ele. Era diferente do Barusco, do Paulo Roberto Costa [ex-diretor da Petrobras], que já estavam, vamos dizer, em velocidade de cruzeiro, em linha de produção.”
A Odebrecht resolveu pagar a Gonçalves R$ 5 milhões para viabilizar uma contratação direta da empreiteira, sem licitação, para uma obra do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
A ideia era “melhorar o relacionamento” e “ter uma aproximação maior” com o novo gerente executivo, segundo Araújo. Em troca, Gonçalves concedia informações sobre futuras contratações na Petrobras e eventualmente intercedia em favor da empreiteira na estatal.
Para receber a propina, Gonçalves abriu uma conta na Suíça, por orientação de Araújo.
Mais adiante, porém, por causa de “dificuldades” no recebimento da propina, por ser uma pessoa politicamente exposta, segundo teria relatado a Araújo, o ex-gerente acabou emprestando a conta do executivo da Odebrecht, para pagamento de propina por outras empresas.
OUTRO LADO
O advogado de Roberto Gonçalves, James Walker Júnior, afirmou que seu cliente nunca foi apadrinhado de nenhum político ou partido na Petrobras.
Segundo ele, Gonçalves era funcionário de carreira da estatal e que todos os cargos que ocupou na empresa foi devido ao seu esforço pessoal e à sua condição de “engenheiro com formação no exterior”.
Ele afirmou que foi surpreendido com a decisão da prisão e que seu cliente se encontrava visitando parentes de sua mulher, em Roraima.
O advogado não quis comentar as informações específicas divulgadas pela força tarefa da Lava Jato, por não ter tido ainda acesso as peças no processo que justificaram o pedido de prisão.
O advogado embarca amanhã de manhã para Curitiba. Já Gonçalves, disse, deve ser transferido ou nesta terça ou quarta de Roraima para Curitiba.