Principal causa de mortalidade infantil em todo o mundo, os acidentes causam no Paraná a morte de uma criança ou adolescente a cada 14 horas. Segundo informações do Ministério da Saúde, entre 2011 e 2015 (último ano com dados disponíveis) foram 3.113 óbitos no estado envolvendo jovens com idade entre 0 e 19 anos. O levantamento revela ainda que as ocorrências de acidente de transporte são responsáveis pela maioria dos registros (67%), seguidos pelos casos de afogamentos (14,7%), sufocação (11,2%), queimaduras (3%) e quedas (2,9%).

Em todo o Brasil, o DATASUS estima 5 mil mortes por ano e mais de 100 mil internações hospitalares, o que caracteriza um grave problema de saúde pública. Além disso, de cada 4 crianças que vão parar no hospital, uma sai de lá com sequelas permanentes, como amputações, paralisações e queimaduras, entre outras.

Ainda há, porém, esperanças (e necessidade) de se contornar essa situação. Segundo a ONG Criança Segura Brasil, 90% dos acidentes com crianças poderiam ser evitados com medidas simples. E no Paraná, uma iniciativa inédita vem tratando de contribuir para mudar esse quadro. Trata-se do programa Angelino – O anjinho distraído, disponível para escolas, condomínios, hotéis e hospitais.

Criado para reduzir o número de acidentes com crianças, o programa conta com uma coleção de livros didáticos e oferece ainda em diversos meios (redes sociais, blog, vídeos, etc) informação de graça. Educar é o maior objetivo do Angelino, diz Daniela Capeletti, coordenadora do projeto, explicando ainda que os estabelecimentos que abraçam a iniciativa passam por uma série de etapas.

Em Curitiba, quem já adotou a iniciativa foram as escolas Espaço Feliz Baby e Espaço Feliz Kids, localizadas no bairro Água Verde. Assim, passou primeiro por uma vistoria das instalações, de forma a se identificar as oportunidades de melhorias na infraestrurura. Em seguida, foi vez de os educadores serem capacitados e também serem feitas atividades com crianças. Por último, foi a vez de conscientizar os pais através de palestras e eventos. E o resultado foi notável.

Antes aconteciam acidentes envolvendo tropeços, daí as vezes a criança caía e batia em quinas, também tínhamos problemas com os protetores das tomadas. Depois do programa e do treinamento, conseguimos reduzir os n´úmeros de acidentes em 70%, conta Karina Azevedo, diretora do Espaço Feliz Kids. O balanço é bem positivo. Só temos bons resultados e a iniciativa acabou expandindo para as casas, com as crianças cobrando dos próprios pais, complementa.

Anjinho faz sucesso com a criançada

Tamanho sucesso da iniciativa tem explicação. Usando um anjo da guarda (o Angelino, um anjinho distraído) como personagem, o programa consegue atrair a atenção das crianças para o problema de forma didática. Assim, enquanto se divertem lendo as histórias do anjinho, contadas em quatro livros que trazem diferentes situações – nas quais é o Angelino quem sempre acaba se dando mal para salvar as crianças de acidentes -, os pequenos aprendem também sobre os perigos ao redor. Aprendem e ensinam.

Quando o projeto começou foi uma surpresa. Assim que ela chegou da escola já contou sobre o anjinho distraído. Hoje, quando vamos ao mercado, estamos no trânsito se ela vê algo errado já vai comentando, fala do Angelino, contam os educadores Viviane e André Malucelli, pais da Carolina. Você como pai fala, explica, conversa milhões de vezes. Aí alguém de fora vem, fala a mesma coisa e a criança já absorve. Então facilita muito (o Angelino)

Mari Oliveira, mãe do Alexandre, concorda. Tudo o que a gente fala ele quer saber o porquê. O que é proibido chama mais a atenção e daí o Angelino ajuda muito no argumento.

Dicas para evitar acidentes

Afogamentos

– Nunca deixe as crianças sem vigilância próximas a pias, vasos sanitários, banheiras, baldes e recipientes com água

– Esvazie baldes, banheiras e piscinas infantis depois do uso e guarde-os sempre virados para baixo e longe do alcance das crianças

– Piscinas devem ser protegidas com cercas que não possam ser escaladas e portões com cadeados ou trava que dificultem o acesso dos pequenos. Também use alarmes e capas de píscina para garantir mais proteção

Sufocamento

– Corte alimentos em pedaços bem pequenos na hora de alimentar a criança

Remova do berço todos os brinquedos, travesseiros e objetos macios quando o bebê estiver dormindo, para reduzir o risco de asfixia

Bebês devem dormir em colchão firme, de barriga para cima, cobertos até a altura do peito com lençol ou manta presos embaixo do colchão e os bracinhos para fora. O colchão deve estar bem preso ao berço (não mais que dois dedos de espaço entre o berço e o colchão) e sem qualquer embalagem plástica

Quedas

Use portões de segurança no topo e na base das escadas. Se a escada for aberta, instale redes ao longo dela. Ponha antiderrapante nos tapetes

Instale grades ou redes de proteção nas janelas, sacadas e mezaninos. As redes devem ter espaços de no máximo 6 cm

Crianças devem ser sempre observadas quando estiverem brincando nos parquinhos. O risco de lesão é quatro vezes maior se a criança cair de um brinquedo com altura superior a 1,5 m.

Queimaduras

Mantenha a criança longe da cozinha e do fogão

Cozinhe nas bocas de trás do fogão e sempre com os cabos das panelas virados para trás, para evitar que as crianças entornem os conteúdos sobre elas

Quando estiver segurando líquidos quentes, fique longe das crianças

Envenenamento / intoxicação

Guarde todos os produtos de higiene e limpeza, venenos e medicamentos trancados, fora da vista e do alcance das crianças

Saiba quais produtos são tóxicos. Produtos comuns, como enxaguantes bucais, podem ser nocivos se a criança engolir em grande quantidade

Crianças com até dois anos de idade correm maior risco de envenenamento não intencional. Produtos de limpeza e medicamentos são riscos significativos. Os bebês também podem se envenenar respirando a fumaça de cigarros.