DANIELLE BRANT SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As sucessivas polêmicas envolvendo a JBS neste ano, entre elas duas operações da Polícia Federal, uma do Ibama e as delações do empresário Joesley Batista, já sangraram R$ 15 bilhões em valor de mercado da companhia. No período que vai de 28 de dezembro do ano passado até esta terça-feira (23), a avaliação da JBS na Bolsa despencou quase à metade, passando de R$ 32,8 bilhões para R$ 17,9 bilhões, segundo dados da Bloomberg. O estrago era para ser maior, considerando que as ações da empresa chegaram a recuar 12% na sessão desta terça e entraram em dez leilões, na tentativa de estabilizar os preços. À tarde, conseguiram reverter a situação e subiram 9,53%, maior alta diária desde 6 de dezembro do ano passado, quando os papéis dispararam 19,07%. A alta desta terça, porém, não é indicativo de perspectiva melhor para a empresa, na avaliação de um dos poucos analistas que se arrisca a fazer algum comentário sobre a companhia. Poucos vêm a público tentar delinear um cenário para a JBS em um momento em que a companhia está imersa na maior crise de sua história. Aldo Moniz, analista-chefe da Um Investimentos, aponta que a multa a ser paga na delação, ainda em negociação, é um fator de risco às finanças da empresa. Os procuradores querem R$ 11,2 bilhões (ou 5,8% do faturamento do grupo em 2016). A JBS propõe pagar R$ 1 bilhão (0,5% do faturamento). “Eu não recomendo comprar ações da JBS. Há uma preocupação com o acordo, além de todas as acusações de uso de informação privilegiada, de vender ações para lucrar com essa história”, afirma. O analista se refere às investigações em curso na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre a atuação da empresa nos dias anteriores à delação de Joesley, na última quarta-feira. A JBS teria comprado uma quantidade expressiva de dólares supostamente para aproveitar a valorização da moeda americana -o dólar disparou 8% na quinta-feira, um dia após o presidente da empresa informar que tinha áudios que comprometeriam o presidente Michel Temer. A empresa diz que comprou a moeda para proteção financeira. Os acionistas controladores também teriam vendido ações nos dias anteriores, supostamente escapando de uma desvalorização que somou 37% somente entre o fechamento de quarta-feira e o pregão desta segunda. Na Bolsa brasileira, a JBS é listada no segmento Novo Mercado, que exige que emita apenas ações com direito a voto e possui regras mais rígidas de governança. Questionada sobre a possibilidade de a JBS ser retirada do segmento, a B3, operadora da Bolsa, diz que não comenta empresas. PISO Para Aldo Moniz, da Um Investimentos, o atual preço da JBS, de R$ 6,55, ainda está acima do que considera adequado para o cenário da empresa. “Eu ainda não acho que o valor seja justo. Acho que pode trabalhar abaixo de R$ 4, numa análise mais pessimista.” A visão é compartilhada pela corretora Elite, que afirma que a JBS tem tendência de queda clara, até o piso de R$ 3,22. A empresa teve a nota de crédito cortada por duas agências de classificação de risco: Moody’s e Fitch. A Moody’s atribuiu a decisão à confirmação de que sete executivos da empresa e a controladora J&F fizeram acordo de leniência com o Ministério Público Federal sobre alegações de corrupção. A Fitch, ao comentar o corte, disse que a admissão do pagamento de suborno a políticos deve prejudicar as fontes de financiamento da JBS e afetar a abertura de capital da unidade internacional da companhia.