GIANCARLO GIAMPIETRO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Ei, dá a bola para ele.”
Restam pouco menos de dez segundos para o fim do primeiro tempo, e o Paulistano tem a posse de bola em jogo parelho contra o Bauru, na primeira partida das finais do NBB, em São Paulo.
Antes da reposição, o técnico Gustavo de Conti instrui seus jogadores e deixa claro que o último ataque ficaria sob responsabilidade justamente do jogador mais jovem e mais baixo em quadra: Yago dos Santos, de 18 anos e, oficialmente, 1,75 m.
O pedido do treinador demonstrou toda a confiança que o caçula de seu elenco conquistou em somente cinco meses de clube.
Revelação da base do Palmeiras, Yago foi contratado pelo Paulistano já com a temporada em andamento -estreou no dia 20 de dezembro.
Assim como tudo que faz em quadra, o elétrico armador teve adaptação muito mais acelerada do que a comissão técnica previa. O plano era que fosse aproveitado só na próxima temporada.
“Terminei meu ano no Palmeiras e vim. Não esperava ter importância, muito menos ser protagonista. Vim aprender com o Georginho e o Pecos [os titulares da posição], que são jovens, mas mais experientes. O George ficou doente e tive uma chance. Estava treinando bem e agarrei. O Gustavo e o time me passam muita confiança”, disse o jovem jogador.
No sábado (27), Yago entrou para a história como o mais jovem a pontuar pelas finais do NBB. Foi o cestinha do time: saiu de quadra com 14 pontos em 21 minutos, contribuindo para vitória por 82 a 78 para abrir a série melhor de cinco. A segunda partida será na sexta-feira (2), agora fora de casa, em Bauru.
‘NÃO VAI DAR’
A cada momento em que Yago era chamado por De Conti, a torcida cantava seu nome. O apelo popular não se constrói apenas pela efetividade em quadra. A baixa estatura se torna um chamariz. É normal que torcedores desavisados se refiram ao paulista de Tupã genericamente como “o baixinho”.
Algo que condiz com aquilo que ouviu em todos os lugares por que passou, desde a base -que a altura seria um obstáculo intransponível para virar jogador de basquete.
“Escuto isso desde que comecei. Foi assim quando cheguei a São Paulo e quando decidi vir ao Paulistano. Mas não atrapalha. Sei o que tenho de fazer contra jogadores mais altos ou contra mais baixos. Se estou em quadra, é por competência”, disse.
“Agora, diziam que eu tinha muito o que aprender ainda, que era jovem e baixo [para o NBB]. Falavam que não era a hora. Mas arrisquei e está dando certo.”
Nas categorias de base, Yago fez fama ao liderar a equipe sub-15 do Palmeiras que ficou dois anos invicta. Foi presença constante nas seleções. Agora, antecipando seu calendário, começa a se provar em níveis mais altos. Sua breve experiência pelo NBB até o momento contradiz os mais céticos.
O progresso precoce não mexe com a cabeça do armador, cuja compostura e frieza impressionam técnicos e companheiros. Mesmo sendo o mais jovem do Paulistano, não dá sinal de que sinta a pressão. “Costumo tratar como se fosse treino, ou qualquer outro jogo. Sei que é uma final, mas faço o meu. Às vezes rio, às vezes não. É o meu jeito”, disse.
É desse jeito, sem receio, que o Paulistano põe a bola nas mãos de Yago em uma final, não importando os centímetros a mais ou a menos.