Cecília tentou parar de fumar uma vez, não deu certo. Voltou fumando cigarros mais fortes e em quantidade maior. A oportunidade de emprego na área de saúde, porém, acendeu o alerta e ela aderiu ao programa antitabagismo oferecido em postos de saúde da Prefeitura.

Não foi fácil, mas Cecília conseguiu e há mais de cinco anos abandonou o vício. Respira com mais facilidade, tem mais disposição, sente aromas e sabores com definição e melhorou indicadores de saúde.

Cecília, hoje com 48 anos, integrou um dos primeiros grupos de apoio oferecidos pelo posto de saúde Santa Felicidade. A Secretaria Municipal da Saúde mantém o programa do SUS, com equipes multidisciplinares capacitadas, em 40 dos 110 postos de saúde distribuídos pela cidade.

O tratamento para o usuário pode ser em grupo ou individual e nem sempre é necessário o uso de medicamentos. Caso seja preciso, apoio medicamentoso é fornecido pelo posto de saúde.

Programa

Carlos Graça, que coordena o programa pela Secretaria Municipal da Saúde, explica que as abordagens cognitivo-comportamentais estimulam o usuário a se conscientizar do hábito e dos gatilhos que o levam a fumar. A partir de então, são mostrados mecanismos que o usuário pode lançar mão para evitar o ato de levar o cigarro à boca. As equipes são treinadas para abordar o usuário sem julgamentos, entendendo que é um processo difícil, mas necessário, comentou.

A dificuldade Cecília conhece muito bem. O que a fez tomar a decisão certeira de abandonar o cigarro foi ter passado no concurso para agente comunitário de saúde. Como eu iria promover ações e conversar com pessoas sobre hábitos saudáveis se eu fumava? Foi aí que decidi procurar ajuda, soube do programa e comecei a participar dos grupos, relatou. Ela conta que ver pessoas com consumo maior de cigarros pararem de fumar a incentivou a abandonar o vício, além do uso do adesivo prescrito pelo médico.

Minha disposição é outra, pontua. Disposição ela precisa bastante, pois percorre as ruas do São Braz conversando com usuários da unidade, verificando a saúde deles e divulgando, entre outras ações, o programa que a tirou do vício em tabaco. Não sou chata, nem pressiono quem fuma para largar o cigarro. Sei como é fundamental a pessoa se conscientizar da necessidade de respirar sem fumaça, mas a implicância por si só não adianta.

Conscientização

A conscientização é o que levou alguns postos de saúde a promoverem ações durante esta quarta-feira (31/5), Dia Mundial sem Tabaco.

Um exemplo foi o posto de saúde Trindade, no Cajuru. Um usuário que parou de fumar por participar do programa oferecido pela Secretaria Municipal da Saúde deu seu depoimento na recepção da unidade. Para reforçar os benefícios de cessar de fumar e sensibilizar ainda mais quem estava na recepção, a equipe montou apresentação teatral.

São conhecidas, relacionadas ao tabagismo, 56 doenças respiratórias, circulatórias e neoplásicas. No sistema respiratório, estão as doenças pulmonares obstrutivas crônicas, o conhecido enfisema. Começa com tosse matutina, que vira crônica, e evolui para falta de ar, predisposição a infecções, dependência de oxigênio e falta de ar ao repouso, para então matar o paciente. No sistema circulatório, as doenças mais conhecidas são AVC e infarto.

Porém, os tumores são os mais beneficiados pelo ato de fumar. O tabagismo piora o quadro para todo e qualquer tipo de câncer, mas os principais, além do pulmão, atingem bexiga, boca, esôfago, estômago e laringe. Não existe sinal de alerta. Ao perceber sintoma, como tosse crônica, a doença já está instalada, pode ser bronquite. Desse ponto não há retorno. Ao parar de fumar o paciente pode estabilizar a doença, mas ela não irá regredir, explica Aneliza Fernandes, oncologista do Hospital do Idoso Zilda Arns.

Passivos

Quem convive com fumantes também está exposto aos mesmos riscos. O desenvolvimento das doenças está relacionado à quantidade de fumaça tóxica inalada. Por isso é importante não fumar em ambientes fechados para evitar expor outros ao perigo, diz Aneliza. A médica ressalta que outros ambientes, como casa com fogão à lenha sem exaustão adequada e mesmo as ruas com trânsito pesado, também podem predispor a pessoa a quadros neoplásicos.

A quantidade de fumaça e elementos tóxicos inalados pelo fumante combinam com predisposição genética e outros fatores para agravar o quadro de saúde. O narguilé e o cigarro sem filtro, por não terem barreira física para a fumaça, aumentam a quantidade de toxidade inaladas e são mais prejudiciais à saúde do fumante.