GIULIANA MIRANDA PORTO, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – No dia seguinte ao maior incêndio de sua história, Portugal ainda contabilizava os estragos da tragédia. Pelo menos 62 pessoas, incluindo quatro crianças, morreram em Pedrógão Grande e arredores, na região de Leiria, no centro do país. Até a madrugada desta segunda-feira (19), o fogo, que começou na tarde de sábado (17), ainda não estava controlado. Apesar do trabalho de cerca de 750 bombeiros, pelo menos cinco frentes de incêndio permaneciam ativas. O vento forte e o tempo quente e seco na região facilitaram a propagação das labaredas. Por isso, temendo novas vítimas, as autoridades portuguesas determinaram a evacuação de cinco aldeias e não descartam novas remoções. Entre os sobreviventes, o relato é de cenas de terror. A aldeia de Pobrais, concelho (equivalente a município) de Pedrógão Grande, perdeu um terço de seus habitantes: há pelo menos 11 mortos no vilarejo. Situação semelhante viveu a aldeia de Nodeirinho em que 10 pessoas perderam a vida. “Nunca tinha visto uma coisa assim. O fogo voava”, conta Eugénio Santos, um dos sobreviventes do incêndio, que diz ter auxiliado vários vizinhos, mas ainda não tinha notícias do paradeiro do próprio filho. Chegou-se a cogitar que o incêndio seria criminoso, mas a hipótese foi descartada pela Polícia Judiciária, responsável pela investigação. Segundo a instituição, o fogo começou com um raio que atingiu uma árvore, em Pedrógão Grande, e chegou com velocidade aos concelhos adjacentes de Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra. Apesar de quase 2.000 homens terem se revezado durante o domingo no combate ao incêndio, diversos moradores reclamaram da quantidade insuficiente de bombeiros. A televisão portuguesa chegou a transmitir, ao vivo, a tentativa desesperada de moradores da aldeia de Ansião de combater o fogo com as próprias mãos e com recursos das fazendas. Em toda a região atingida, cerca de 150 pessoas estão desabrigadas. ESTRADA DA MORTE Das 62 vítimas do incêndio, 47 estavam na estrada nacional 236, que já está sendo chamada de rodovia da morte pelos portugueses. A estrada regional é cercada por uma vegetação densa que levou o incêndio a se propagar rapidamente. Dos 47 mortos na via, 30 foram encontrados em seus carros e os outros 17, fora dos veículos ou à beira da estrada. A maioria morreu carbonizada. Grande parte das vítimas estava em um trecho de cerca de 500 metros da rodovia, onde as árvores em chamas e a fumaça densa acabaram encurralando os carros. O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, foram até local acompanhar as operações. “Muito provavelmente, o número de mortos irá subir”, admitiu Costa. Diversos países europeus manifestaram solidariedade. Os governos da França e da Espanha estão enviando auxílio material, sobretudo helicópteros. Devido ao fogo, várias regiões ficaram isoladas, com as estradas cortadas, e também sem luz, telefone e internet. A tragédia provocou uma onda de solidariedade pelo país. Diversos artistas anunciaram shows beneficentes para arrecadar verbas para as vítimas.