DANIELLE BRANT SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uruburetama fica a 115 km de Fortaleza, capital do Ceará. A cidade, cercada por serras, recebeu esse nome por causa da quantidade de urubus que sobrevoavam a caatinga para se alimentar de animais mortos. A economia local gira em torno do cultivo de banana, de uma cooperativa de castanha e da indústria de calçados. Nos últimos três anos, o município, de 21 mil habitantes, foi o destino de alguns dos prêmios mais importantes de educação financeira do país. E o responsável pelo feito é o professor de português Fabiano Silva Ferreira, 33.

Fabiano conquistou um prêmio da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e coordenou o trabalho de alunos que venceram dois outros concursos da autarquia. Vídeos falavam sobre como guardar dinheiro para o futuro, evitar gastos desnecessários e começar a investir. Os estudantes desbancaram trabalhos de cidades maiores e que ostentam indicadores socioeconômicos melhores. Uruburetama é o 35º município do Ceará no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal elaborado pelo IBGE em 2010.

A cidade recebeu a mesma nota de Ribeirão Branco, a de pior colocação em São Paulo. Caçula de dez filhos, Fabiano foi o único da família a se formar em uma universidade. Os pais são agricultores analfabetos, e a maioria dos irmãos não concluiu o ensino médio. Para cursar a faculdade, ele contou com a ajuda de uma associação italiana que arcava com parte da mensalidade.

ANOTAR NA CADERNETA

O desafio de se graduar só não foi maior do que o de ensinar educação financeira na cidade. Em Uruburetama, ainda é comum comprar em comércios e anotar os gastos em caderneta, diz. “As pessoas não têm controle financeiro, elas ficam altamente endividadas”, diz. “Mães que trabalham na fábrica de calçados, ganham um salário mínimo e pagam R$ 500 de aluguel compram sapato de R$ 400 para o filho, sendo que a pessoa tem que almoçar, jantar e comprar outras coisas para sobrevivência”, afirma.

Fabiano começou a falar de finanças aos alunos antes de saber dos concursos da CVM. Tratava de temas como crédito, conta-corrente e investimentos quando soube do prêmio. “Fiquei com medo de trabalhar um tema que não domino. Estudei e essa experiência me fez crescer como pessoa”, afirma. Ao sugerir às turmas que participassem do concurso, foi recebido com descrença. “Eles tinham a ideia de que pessoas do interior não ganhavam esses concursos. Somos do interior, mas temos oportunidade de concorrer sim”, afirma.