GUILHERME GENESTRETI SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morto neste domingo (20), o comediante Jerry Lewis colecionou polêmicas, principalmente relacionadas a comentários ofensivos feitos à população LGBT, e uma fama de rabugento incorrigível. Numa de suas últimas entrevistas, concedida em 2016 à revista “The Hollywood Reporter”, deixou seu entrevistador nitidamente constrangido com respostas monossilábicas e mal-humoradas. Convidado em 2013 para uma ponta no filme brasileiro “Até que a Sorte nos Separe 2”, o ator americano deixou apreensiva a equipe do longa. Na trama, Lewis interpreta o carregador de malas do hotel em Las Vegas em que se hospeda o milionário interpretado por Leandro Hassum. “Ele chegou com mil restrições: não podia ficar muito tempo de pé, tinha um problema na coluna…”, lembra o diretor do filme, Roberto Santucci. “Mas aos poucos ele começou a tomar conta do set. Dava para ver que ele se transformava quando fazia aquilo que mais gostava, que era o humor. Quando ele entrava no barato dele, a idade desaparecia.” Não que as coisas tenham corrido com total serenidade. “Ele não queria botar o smoking do personagem. Muitas vezes eu tinha que tentar convencê-lo de fazer algumas coisas, mas foi uma experiência bacana”, afirma o diretor. A ideia de trazer Lewis ao filme -e de nele reprisar seu papel em “O Mensageiro Trapalhão” (1960)- teve dedo do comediante Marcius Melhem, parceiro de Hassum. “Todo comediante da minha geração foi influenciado pelo humor dele”, diz Melhem. “Eu, que por muito tempo fiz humor físico, era fissurado no trabalho dele. O que ele fazia com Dean Martin influenciou muito o que eu e Leandro Hassum fizemos.” Tanto Melhem quanto Hassum contracenaram com Jerry Lewis em “Até que a Sorte nos Separe 2”. “Só de estar ao lado dele no set depois de tudo o que vi dele foi inesquecível”, diz Melhem. Produtor do longa, Fabiano Gullane lembra do primeiro contato que teve com o americano, para fazer o convite da participação. “Ele chegou com uma pastinha tipo 007 para fazer a reunião. De repente, abre e saca um nariz de palhaço e baralho de mágico”, diz o produtor. “Em sua última cena, ele foi ovacionado.” POLÊMICAS COM GAYS Encanto à parte, Jerry Lewis protagonizou diversas polêmicas com a comunidade LGBT, que o levaram a ter de pedir desculpas. Durante uma maratona beneficente feita em 2007, o ator fez piada com um parente imaginário seu, que ele chamou de “Jesse, The Illiterate Faggot” (algo como “Jesse, o viado analfabeto”). Ele teve que se desculpar publicamente pelo comentário. No ano seguinte, falando à TV australiana, o ator disse que achava o críquete, paixão nacional naquele país, um “esporte de maricas”. O comentário foi acompanhado de Lewis gesticulando de maneira afeminada. Lewis também era conhecido pelo mau-humor com que tratava jornalistas e o público de seus shows. No ano passado, para um especial feito pela revista “The Hollywood Reporter” com artistas nonagenários, foi rude com seu entrevistador, despejando uma série de respostas monossilábicas. Lewis ainda imitou a risada do jornalista com desdém. “Ele se dedica -quase de maneira alegre- a ser uma pessoa difícil”, comentou o repórter sobre a experiência com Lewis. A reportagem em vídeo viralizou e ganhou o apelido de “a mais constrangedora entrevista de 2016”.