WÁLTER NUNES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A negociação da delação premiada do empresário Henrique Constantino, sócio da Gol Linhas Aéreas, com a Procuradoria-Geral da República sofreu uma reviravolta e foi cancelada pelos procuradores. A decisão foi tomada há três semanas e o motivo foi o fechamento do acordo de colaboração do corretor de valores Lúcio Funaro, operador do PMDB.
As revelações de Funaro englobavam os casos relatados por Henrique Constantino e avançavam em outros pontos, atingindo o presidente Michel Temer e os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha. Funaro também delatou episódios de corrupção envolvendo o próprio dono da Gol.
Henrique Constantino é investigado nas operações Sepsis e Cui Bono?, acusado de pagar propina a políticos do PMDB em troca de financiamentos do FI-FGTS (Fundo de Investimento do FGTS) a duas de suas companhias, a Comporte (grupo de empresas de ônibus) e a Via Rondon (concessionária de rodovia).
Os advogados do empresário vão tentar retomar do zero a negociação com a nova equipe da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, substituta de Rodrigo Janot, mas fontes ouvidas pela reportagem relatam que o clima é de ceticismo quanto à possibilidade de que ele consiga benefícios.
QUASE FECHADA
Até três meses atrás o cenário era o oposto. Os defensores do empresário e os procuradores estavam ajustando as minutas (espécie de rascunho) do documento da delação, uma das últimas fases antes da assinatura que formaliza a colaboração premiada. O próprio Henrique Constantino participou de reuniões com os procuradores.
As negociações se iniciaram em julho do ano passado e foram conduzidas pelo procurador Anselmo Lopes, do Ministério Público Federal do Distrito Federal, responsável pela Operação Sepsis. Em julho deste ano o caso foi remetido à Procuradoria-Geral da República e as conversas passaram a ser com o procurador Sérgio Bruno, integrante da força-tarefa da Lava Jato.
Na proposta de delação rejeitada, Constantino relatou o pagamento de R$ 10 milhões de propina destinados a políticos do PMDB, entre eles o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves.
Constantino também informou ter doado em caixa dois dinheiro de propina para a campanha de Gabriel Chalita, atualmente no PDT, que na ocasião, em 2012, era candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo. O repasse teria atendido pedido do presidente Michel Temer.
Na delação de Funaro, ele forneceu uma planilha onde há referências aos pagamentos de propina feitos por Constantino aos peemedebistas. Nela a Polícia Federal descobriu a indicação de que Constantino teria comprado um automóvel Porsche Cayenne, no valor de mais de R$ 400 mil, para Eduardo Cunha.
OUTRO LADO
Em nota, a assessoria de imprensa do grupo Comporte disse que “segue colaborando com as autoridades para o total esclarecimento dos fatos”.