DIOGO BERCITO E CAROLINA VILA-NOVA
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Nem a previsibilidade do resultado nem a chuva fria impediram que alemães fossem às urnas neste domingo (24) para suas eleições federais.
A chanceler Angela Merkel deve se reeleger com folga para um quarto mandato consecutivo, no final do qual ela terá completado 16 anos no poder, se igualando ao ex-chanceler Helmut Kohl.
Merkel se manterá, assim, no cargo de uma das mulheres mais poderosas do mundo -a Alemanha é a maior economia da União Europeia, com PIB estimado em US$ 3,4 trilhões neste ano.
Ela acumulará ainda a fama informal de líder do mundo livre, em um cenário internacional marcado pela ausência de referentes morais desde o fim do governo de Barack Obama nos EUA.
Merkel votou às 14h45 locais (9h45 em Brasília), mas não deu declarações à imprensa. Tampouco havia grandes aglomerações, em uma campanha marcada pela discrição.
O partido da chanceler, a CDU (Aliança Democrata-Cristã), deve receber 36% dos votos, segundo uma sondagem recente do Forschungsgruppe Wahlen. O segundo lugar ficaria com a sigla rival SPD (Partido Social-Democrata), com 21,5%.
São esperados 60 milhões de eleitores, e se prevê que superem a participação de 71% das eleições anteriores, em 2013. As urnas fecham às 18h (13h em Brasília) e as primeiras pesquisas de boca de urna devem ser publicadas em seguida. O resultado será computado nas horas seguintes, na noite adentro.
CDU e SPD governam hoje na chamada “grande coalizão”, algo que pode se repetir pelos próximos quatro anos. Mas a formação do governo será apenas discutida durante os próximos dias.
A alternativa seria uma aliança entre CDU, FDP (Partido Democrático Liberal) e os Verdes. O trio teria, junto, cerca de 54% dos votos.
O líder do SPD, Martin Schulz, voltou cedo, e bem-humorado, em seu distrito eleitoral, Würlesen. “Aqui está o voto decisivo”, disse, mostrando sua cédula. Ao lado da mulher, Inge, brincou: “Votei duas vezes.”
Mas a novidade deste pleito não deve ser o governo, e sim a oposição. Pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra, em 1945, um partido de extrema direita deve entrar no Parlamento alemão.
Trata-se da populista AfD (Alternativa para a Alemanha), contrária à migração e à presença do islã na nação.
Diante disso, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, publicou um artigo para o jornal “Bild am Sonntag” pedindo que as pessoas fossem votar. “Aqueles que não votam deixam que os outros decidam o futuro do país”, escreveu. “Talvez nunca tenha sido tão notado que as eleições são também sobre o futuro e a democracia da Europa.”
O crescimento do populismo na União Europeia é o grande tema político destes dois últimos anos, como mostrou em junho de 2016 o voto britânico para deixar o bloco econômico, processo conhecido como “brexit”.
Na França, o desafio veio da sigla de direita nacionalista Frente Nacional, de Marine Le Pen, que teve 34% dos votos no segundo turno em 7 de maio, sendo derrotada pelo centrista Emmanuel Macron, hoje o presidente.
Macron e Merkel têm fortalecido o eixo entre Paris e Berlim para possivelmente reformar a União Europeia e lidar com a insatisfação que resulta no voto populista.
Por essa razão, “a questão central destas eleições é o futuro da Europa”, diz à Folha Markus Kaim, analista do SWP (Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança). Merkel representa, para parte do eleitorado, um voto por mais integração regional e mais estabilidade.