CLEOMAR ALMEIDA GOIÂNIA, GO (FOLHAPRESS) – “Ele apontou a arma primeiro para mim, mas virou e atirou no João Pedro Calembo, que sentava atrás dele.” É o que narra uma aluna da mesma turma do suspeito, de 14 anos, detalhando o tiroteio em uma sala do oitavo ano do ensino fundamental da escola particular Goyases, em Goiânia, na manhã desta sexta-feira (20).

A colega de turma do suspeito disse que estava conversando com outro estudante perto dela e, em seguida, olhou aleatoriamente para a direção do atirador. “Eu olhei para o lado, aleatoriamente, e, nesse momento, eu o vi tirando a arma da mochila e apontando para mim. Pensei que seria a primeira baleada”, disse. “Mas acho que ele não atirou porque eu não tinha conflito com ele e, às vezes, como moramos perto, íamos embora a pé juntos da escola”, acrescentou.

O delegado Luiz Gonzaga Júnior, delegado titular da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais, não confirmou, mas alunos da escola disseram que ele tinha inimizade com Calembo. Ele já havia pensado em matar o colega há cerca de três meses, quando começou a pesquisar crimes em escolas nos EUA e no Rio. Ele disse à polícia que se inspirou em duas tragédias -o massacre de Columbine, em 1999, nos EUA, e o de Realengo, em 2011, no Rio de Janeiro.

De acordo com a estudante, outros colegas de turma chamavam o suspeito de “satanista”. Em uma ocasião, segundo outros alunos, o adolescente chegou a desenhar o símbolo do nazismo em uma aula de ética. O ataque ocorreu no intervalo antes da última aula. A aluna relatou, ainda, que se jogou no chão e saiu engatinhando após o primeiro disparo. João Vitor Gomes, que era do mesmo grupo de colegas próximos do suspeito, foi a segunda vítima atingida pelos disparos e que morreu no local.

Outros quatro alunos foram feridos pelos disparos. O garoto disparou ao menos 11 tiros, segundo o delegado de Homicídios de Goiânia Francisco Costa. “Tem marcas de tiros nas paredes e no chão. A gente encontrou até agora 11 cápsulas (de balas) e alguns projéteis espalhados”, afirmou Costa, logo após deixar o local. “Vi dois corpos (de alunos) dentro da sala revirados, várias marcas de sangue, do terceiro andar até o térreo, algumas salas reviradas”, contou.

Alunos disseram que o adolescente sofria bullying e tinha o apelido de “fedido”, segundo eles, porque não usava desodorante. Ao menos nove estudantes relataram o apelido à reportagem, seis da classe dele. A polícia confirma a mesma apuração. Atirador e vítimas eram da mesma sala.

Na porta do colégio, estudantes disseram à reportagem que o atirador é “muito inteligente e muito calado.” Alunos da escola estão transtornados e se lamentam. “Isso não está acontecendo. O ano acabou”, disse uma estudante -por serem menores de idade, a Folhapress preserva a identidade.

Segundo Gonzaga Júnior, o jovem pegou a arma em um móvel de casa na noite de quinta-feira (19). Ainda de acordo com a estudante, o suspeito, em outra ocasião, havia ameaçado a família dela. “Ele disse para mim que iria à minha casa e matar os meus pais, mas eu nunca pensei que ele pudesse fazer algo assim.”

Filho de policiais militares, o adolescente usou a arma da corporação que era da mãe, segundo Luiz Gonzaga Júnior, delegado titular da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais. O suspeito tem um irmão mais novo, que também estuda na escola. Ele foi encaminhado para a Depai (Delegacia de Apuração de Atos Infracionais) de Goiânia.