Uma montadora americana de automóveis desembarca em Curitiba no mês de dezembro para o lançamento mundial do carro Klamby, que será vendido por R$ 12 mil. As vendas começam em janeiro de 2018 e já tem uma fila de espera de mais de 15 mil unidades só na capital paranaense. O valor de venda é bem inferior ao praticado hoje no mercado automobilístico e a estimativa da fabricante é de comercializar 200 mil unidades em todo o Brasil nos primeiros três meses. O diretor mundial de comunicação da montadora, John Layer Firmand, explica com exclusividade a este blog os motivos que levaram Curitiba a ser a cidade escolhida e qual a receita para viabilizar a venda de um carro por apenas R$ 12 mil. O fato de Curitiba parecer muito com a Europa foi determinante, diz Firmand, sem dar detalhes sobre a festa de lançamento do Klamby. Quanto ao preço do carro, reduzimos muito os gastos de produção e vamos apostar no volume de vendas, que deve bater todos os recordes mundiais. A ideia é sacudir mesmo o mercado de automóveis, completou.
Ao ler o título desta coluna, você com certeza teve a atenção voltada para a notícia. Se esta lendo este parágrafo é porque mostrou interesse em comprar o Klamby e quer mais detalhes do carro anunciado pelo diretor Firmand. Sinto muito, caro leitor. Mas não existe Klamby algum. Muito menos o senhor Firmand. Esta é uma notícia falsa – uma fake news. Mas perceba como foi fácil atrair você até aqui. E com certeza muitos leitores caíram nesta pegadinha. Mas não desista do texto. Vá até o final e perceba que você, assim como milhares de pessoas, eu inclusive, somos enganados diariamente.
As redes sociais propagam todos os dias notícias falsas. Não é exagero. Todos os dias sim. Faça o teste. Abra algum grupo do seu WhatsApp ou navegue por poucos minutos pelo Facebook que você vai se deparar com uma fake news. E elas se propagam em minutos – vão sendo repassadas e repassadas e, assim, alcançam milhões de pessoas. Em alguns casos as consequências foram gravíssimas. Há relatos que uma falsa notícia sobre pessoas que estariam sequestrando crianças levou a morte de sete pessoas.
Eu mesmo recebi duas nos últimos dias. Uma em cada aplicativo. A primeira dizia que uma das maiores companhias aéreas do Brasil estava oferecendo gratuitamente duas passagens aéreas em comemoração aos 41 anos da empresa. Bastava clicar no link indicado e desfrute do seu voo. A segunda fake news dizia respeito ao deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli (PSB) – líder do governo Beto Richa na Assembleia Legislativa. Era uma notícia falsa dizendo que um caminhão da empresa de Romanelli fora apreendido com mais de seis toneladas de droga.
Duas notícias falsas. Mas teve gente que acreditou nas histórias e repassou para grupos do WathsApp. Entrei no site da empresa aérea e nada constava sobre a mentira publicada. Já Romanelli tratou de desmentir aos quatro cantos do Paraná que nada tem a ver com o caminhão apreendido com droga. Chegou a fazer um boletim no Núcleo de Combate aos Ciber Crimes – unidade especializada da Polícia Civil do Paraná. Por ser um deputado estadual, a notícia correu que nem pólvora. A Revista Veja, com circulação nacional, publicou uma notícia desmentindo a fake news.
No caso de Romanelli, a preocupação é que a notícia, quer dizer a fake news, pode ter consequências negativas para a carreira política e pessoal do parlamentar. Por isso, o deputado usou as redes sociais para disseminar a notícia mentirosa e discursou na Assembleia sobre o tema. Esta viralização de notícias falsas é tão séria que jornalistas estão se especializando em detectar as fake news e os grandes conglomerados de comunicação do país também estão atentos aos compartilhamentos. Nos Estados Unidos já existe um site, o Politifacts, especializado em checagem de fatos. A equipe do site ganhou o prêmio Pulitzer de 2009, o mais importante do jornalismo americano, pela checagem de fatos nas eleições americanas de 2008. No Brasil, alguns grandes veículos de comunicação já criaram editorias para detectar as fake news e propagar a notícia real.
Falando em eleição, a disputa eleitoral que terminou com a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos foi recheada de fake news. E o processo eleitoral do Brasil em 2018, quando vamos às urnas para eleger presidente, senadores e deputados federais e estaduais, pode sofrer com notícias falsas sendo reproduzidas principalmente pelas redes sociais.
Importante ressaltar que a propagação de notícias fakes pode ter consequência criminal. A pena para o crime de injúria, calúnia e difamação é de três meses a dois anos de prisão. Portanto, cuidado com o que você anda passando para seus amigos pelas redes sociais. Existem algumas dicas para que você e eu não sejamos contaminados com estas notícias falsas. É preciso conhecer o site que você lê a notícia. Ver se a reportagem é assinada por jornalista. E fuja, quase sempre, daquelas que anunciam: Notícia Bomba – estas quase sempre não merecem sua atenção.
E quando você se deparar com um título da matéria e se perguntar: meu deus será possível? Certamente é uma notícia falsa. Ou você acha que algum carro pode ser vendido por R$ 12 mil? Não, nem mesmo o Klamby.

* Esta coluna é publicada todas as quartas-feiras