SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A atriz, diretora e escritora Lena Dunham, cocriadora de “Girls”, pediu desculpas por defender Murray Miller, roteirista e produtor da série, acusado pela atriz Aurora Perrineau de estuprá-la em 2012, quando tinha 17 anos.
“Toda mulher que se manifeste [com relação a acusações de cunho sexual] deve ser ouvida, inteira e completamente”, disse nesta segunda-feira (20) Dunham, tida por muitos como símbolo do feminismo nos anos 2010.
Antes, contudo, Dunham e a colega Jennifer Konner, também diretora de “Girls”, haviam divulgado um comunicado em que defendiam o roteirista.
No texto, citando “informações internas”, elas classificavam a acusação de Perrineau como mentirosa.
“Nossas informações internas sobre a situação de Murray nos deixam confiantes de que infelizmente essa acusação é um entre os 3 por cento de casos de estupro que são reportados indevidamente todo ano”, dizia o texto. “Nós apoiamos Murray e isso é tudo o que diremos sobre esse tema.”
Miller foi acusado de estupro, na última sexta-feira (17), pela atriz Aurora Perrineau, protagonista do filme-musical “Jem and the Holograms” (2015).
Em depoimento à polícia de Los Angeles, Perrineau disse ter conhecido Miller enquanto bebia com amigos no bar do hotel L.A.’s Standard, em 2012. À época, a atriz tinha 17 anos.
Miller teria convidado ela e amigos para ir à casa dele, segundo a atriz, que diz ter adormecido e acordado com o roteirista sobre ela, “em meio a uma relação sexual”, afirma.
“Em dado momento, acordei na cama dele, nua. Ele estava em cima de mim em meio a uma relação sexual. Eu surtei e fiquei extremamente chateada e traumatizada. Em nenhum momento consenti com qualquer contato sexual com Murray”, disse Perrineau em um comunicado à imprensa.
O advogado de Miller, Matthew Walerstein, afirmou à Associated Press que o roteirista “categorica e veementemente” nega as alegações de Perrineau e que sua equipe jurídica “reuniu evidências de contradições nessas alegações falsas e ofensivas”.
‘FEMINISMO BRANCO’
O posicionamento inicial de Dunham foi duramente criticado pela aparente contradição com relação ao que já disse a respeito da credibilidade de vítimas mulheres.
Em agosto, por exemplo, Dunham publicou no Twitter:
“Coisas sobre as quais as mulheres mentem: o que elas comeram no almoço. Coisas sobre as quais as mulheres não mentem: estupro.”
Dunham também foi questionada por praticar suposto preconceito racial. Perrineau é descrita como negra pela imprensa norte-americana, onde foram reforçadas críticas já anteriormente citadas a um “feminismo branco” da autora de “Girls”.
Após as reações, Dunham afirmou que “como feministas, vivemos e morremos por nossa postura política, e acreditar nas mulheres é a primeira escolha que fazemos todos os dias ao acordar”.
“Até que sejamos todas acreditadas, nenhuma de nós será acreditada. Nós pedimos desculpas a qualquer mulher que tenha se sentido desapontada.”
Em resposta, a escritora Zinzi Clemmons publicou um comunicado anunciando que não seguirá como colaboradora da newsletter feminista “Lenny Letter”, e encorajou outras mulheres negras a fazerem o mesmo.
“A todas as escritoras que estão indignadas com o que ela fez, eu as encorajo a fazer o mesmo que eu. Especialmente mulheres negras. Ela não pode ter nossas palavras se não pode nos respeitar.”