SILAS MARTÍ
NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – “Da boca do próprio Marin, vocês podem ouvir que ele recebeu propina.” Kristin Mace, a procuradora americana que abriu as considerações finais do julgamento do escândalo de corrupção da Fifa, lembrou gravação de conversa do ex-presidente da CBF com o empresário J.Hawilla como prova cabal dos crimes dos quais o cartola é acusado em Nova York.
José Maria Marin, um dos réus do caso que se dizem inocentes, é suspeito de cometer sete crimes em contratos da Copa América, Libertadores e Copa do Brasil.
Procuradores apontaram a Fifa como maior vítima do esquema e relembraram a conversa do cartola com o dono da Traffic, detalhes de e-mails e planilhas de pagamentos secretos de um executivo da Torneos y Competencias, a firma argentina de marketing no centro do esquema, e extratos bancários de Marin.
Ele teria movimentado até US$ 200 mil por mês de uma conta no nome da Firelli, empresa de sua propriedade, para fazer compras em lojas de luxo em várias cidades dos EUA -deixou US$ 50 mil na Bulgari, US$ 28 mil na Dior e US$ 22 mil na Valentino. Muitos dos gastos eram presentes para sua mulher, Neusa.
Segundo a Justiça americana, o ex-presidente da CBF recebeu no total US$ 6,55 milhões em propina desde que assumiu o comando do futebol brasileiro em 2012, no lugar de Ricardo Teixeira.
Na gravação lembrada por Mace, Marin diz a J.Hawilla que “já está na hora disso chegar pro nosso lado”.
Segundo a acusação, ele fala sobre pagamentos de propina que Teixeira ainda recebia pela Copa do Brasil, mas reclamava que só ele e Marco Polo Del Nero, então representante do Brasil na Fifa e na Conmebol, deveriam estar recebendo os valores.
Mace deu detalhes de como o dinheiro pago por empresas de marketing esportivo chegava às mãos de Marin por meio de transferências a empresas de fachada criadas por Wagner Abrahão, dono da agência de viagens Stella Barros que também prestava serviços de logística à CBF.
Na conversa em que discute propina com Hawilla, Marin diz ter “enfrentado a Fifa sozinho” em defesa de Abrahão, o que, segundo os procuradores, deixa claro o seu vínculo com o empresário.
Duas firmas de Abrahão recebiam transferências de offshores das firmas de marketing e repassavam os valores à conta da Firelli.
Em julho de 2013, foi feita remessa de US$ 3 milhões para a Firelli. Outros três pagamentos, cada um no valor de US$ 500 mil, foram feitos à firma do cartola brasileiro.
“O caminho do dinheiro até Marin era complicado”, disse Mace aos jurados. “É uma forma de esconder e disfarçar o dinheiro ilícito.”
Os 12 jurados devem chegar a veredicto unânime. Eles começam a deliberar sobre o destino de Marin e outros dois réus no fim dessa semana.
A defesa de Marin deve fazer suas considerações finais nesta quinta-feira (14).
Wagner Abrahão não foi encontrado pela Folha até o fechamento desta edição.