GUILHERME GENESTRETI, ENVIADO ESPECIAL
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – “O Processo”, documentário da diretora brasiliense Maria Augusta Ramos que mostra os bastidores do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, teve sua primeira sessão no Festival de Berlim aos gritos de “Fora, Temer”, ovações a Dilma, vaias a Aécio, e Janaína Paschoal como mote de gargalhadas.
A sessão, na noite desta quarta (21) na capital alemã, teve lotação máxima, com maioria de brasileiros no público, incluindo diretores como Karim Aïnouz, Luiz Bolognesi e Guilherme Coelho. Antes da projeção, um protesto tomou a praça próxima à sede do festival, na capital alemã em apoio a Lula e Dilma.
O filme se apoia numa estrutura clara para esmiuçar o que a diretora chama de “teatro da justiça” e defende a sua tese de que o impeachment transcorreu com requintes kafkianos. É com Kafka, aliás, que o próprio senador petista Lindberg Farias chega a fazer analogias numa cena, comparando a ex-presidente e o absurdamente injustiçado protagonista do romance “O Processo” –o que ecoa no título do filme.
Nos gabinetes de senadores petistas, Gleisi Hoffmann, Lindbergh e José Eduardo Cardozo se debruçam sobre estratégias argumentativas para defender Dilma durante o processo; muitas vezes, deixando escapar a estafa. Cardozo é o jurista de oratória brilhante e raciocínio lógico; Lindberg, aguerrido; e Gleisi, sensata.
Do outro lado do ringue político, não impera a mesma razoabilidade; vêm à tona menções religiosas e absurdos cômicos.
Janaína Paschoal, criminalista autora do pedido de impeachment, vira motivo de comédia. Ela choraminga, alonga demoradamente os braços e o pescoço antes de tomar o microfone, acolhe fãs cristãos e toma um Toddynho enquanto analisa os autos. O público reagia aos risos.
Aécio e Bolsonaro foram vaiados quando pulularam na tela; os discursos de Dilma ganharam na edição tom catártico.
Logo após a sessão, a diretora foi questionada sobre o fato de o filme se apoiar mais num dos lados do Fla-Flu político.
“Eu tinha entender os argumentos dos dois lados, e ouvi também senadores pró-impeachment ”, diz. O objetivo, contudo, era “descontruir a narrativa oficial que se contava à época, de que Dilma havia cometido um crime.”
O filme foi ovacionado; e a diretora, aplaudida de pé.