FLAVIA LIMA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os episódios de corrupção que se espalharam pela América Latina colocaram as instituições da região em xeque, desiludiram a população e devem pautar o ciclo eleitoral pelo qual passam diversos países latino-americanos.
Esta foi a conclusão dos especialistas que participaram do painel “Panorama da América Latina” sobre o ciclo eleitoral e seus efeitos sobre a dinâmica regional.
Há uma onda de movimentos que contestam a democracia porque se deram conta de que ela funciona mal, distorcida pela corrupção, disse Denise Dresser, analista política do Instituto Tecnológico Autônomo do México.
“O fato é que a Odebrecht conseguiu unir a região”, disse Dresser, em referência aos escândalos de corrupção nos quais a empreiteira está envolvida e que alcançam diversos países latino-americanos, do Peru ao Brasil.
Além da corrupção, disse Dresser, reformas estruturais como as empreendidas no México, sem a necessária inclusão dos mais pobres, aumentam a insatisfação.
Único brasileiro presente ao debate, Ricardo Villela Marinho, vice-presidente executivo do Itaú Unibanco, afirmou que as instituições democráticas estão sendo questionadas e que o eleitor repele políticos de tradição.
“É um momento de muita turbulência. O que salva é que estamos num contexto de crescimento global de mais de 4%.”
Otimista, a vice-presidente do Panamá, Isabel de Saint Malo de Alvarado, disse que a indignação das pessoas força uma resposta das instituições. “Diria que o fato de casos de corrupção terem vindo a público é boa notícia. Tomara que isso influencie o ciclo eleitoral”, afirmou.
Daniel Zovatto, diretor do Instituto Internacional para a Democracia, defendeu que é prematuro dizer que a região se move toda para a centro-direita, como já visto nas eleições no Chile ou na Argentina. “Acho que a discussão entre esquerda e direita é reducionista.”
Villela, do Itaú, afirmou que, para além da esquerda ou da direita, o debate “é se vamos para adiante ou para trás”. Para isso, defendeu, é preciso uma nova geração de políticos, que faça reformas.
Sugerindo mais coordenação à região, Alicia Bárcena Ibarra, secretaria-executiva da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina, disse que o presidente americano, Donald Trump, mudou o paradigma ao propor o “América primeiro”, e questionou quais serão as propostas para a América Latina.
Trump foi debatido também no painel sobre a América Latina em uma ordem global baseada em acordos, no qual a ex-chanceler espanhola Trinidad Jiménez Garcia Herrera, e o ex-secretário-assistente de Estado dos EUA, Arturo Valenzuela, destacaram os riscos que os EUA correm ao se fecharem.
“Se os EUA começam a fechar suas fronteiras, os EUA perdem, e América Latina se vira para o outro lado, para a Ásia. A região já está chegando a acordos comerciais com a Ásia, a China está cada vez mais forte na América Latina e no Brasil”, disse Herrera.
Para Valenzuela, hoje conselheiro sênior do escritório de advocacia Covington & Burling, o foco tem sido sobre o impacto que a decisão dos EUA pode causar nos outros países. “Mas 45% de todos as exportações dos EUA vão para o continente, então a região tem um grande peso para os EUA.”