Uma das muitas peças que o destino costuma pregar afastou Andrea Maltarolli da TV por alguns anos. A carioca passou parte da infância e da adolescência entre o Amapá e o Pará, onde o aparelho era luxo na época. Mais tarde, a mãe proibiria a garota de ver novelas porque considerava o gênero inapropriado para menores. Não adiantou. Formada em jornalismo, teve o primeiro contato com um roteiro em um elevador e ficou impressionada. Depois, pediu para uma amiga que morava no mesmo prédio que Antônio Grassi roubar capítulos que o ator jogava no lixo. Virou autora. É uma das criadoras de “Malhação”, colaborou com humorísticos como “Escolinha do Professor Raimundo” e “Zorra Total” e hoje assina a próxima novela das sete, “Beleza Pura”, que estréia dia 18 na TV Globo.
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“Li 40 sinopses e a única que gostei foi a dela”, diz Silvio de Abreu, supervisor do texto. A trama tem ares de superprodução. Cada capítulo custa R$ 280 mil e a primeira semana conta com um acidente de helicóptero que vai sacudir a vida dos protagonistas, Guilherme (Edson Celulari) e Joana (Regiane Alves). Beleza e ética são panos de fundo para a história central. Andrea falou sobre o desafio em papo exclusivo com a Agência Estado.

AGÊNCIA ESTADO – Quando descobriu que queria ser novelista?

ANDREA MALTAROLLI – Eu estava insatisfeita com a carreira de jornalista. Na época trabalhava na falecida Editora Bloch. Um dia, fui tomar um café no boteco da esquina, peguei o elevador, entrou o Fernando Vanucci, seguido de uma produtora da Manchete, que pedia modificações no roteiro que tinha em mãos. Quando o elevador chegou no térreo, decidi que queria fazer roteiros. Pedi demissão e comecei a batalhar com esse objetivo.

AE – Qual a primeira lembrança de novela que lhe vem à mente?

ANDREA MALTAROLLI – A primeira versão de ‘Estúpido Cupido’ (1976). Não acompanhei a novela direito porque minha mãe não deixava assistir. Achava tudo lindo, antigo, divertido. Sempre gostei de comédias.

AE – Quais são os seus ídolos e influências na teledramaturgia?

ANDREA MALTAROLLI – Sou fã das novelas do Silvio de Abreu, do Carlos Lombardi e do Cassiano Gabus Mendes. ‘Beleza Pura’ tem um pouco do humor de cada um deles, de situação.

AE – E as novelas preferidas?

ANDREA MALTAROLLI – As comédias. Algumas foram marcantes, como ‘Guerra dos Sexos’ (1983), um clássico, ‘Que Rei Sou Eu?’ (1989), do Cassiano, e ‘Perigosas Peruas’ (1992), do Lombardi.

AE – Vê TV por diversão ou trabalho?

ANDREA MALTAROLLI – Assisto novela para descontar o tempo em que minha mãe não deixava (risos). E série americana e programa de humor. Atualmente, sou fã de ‘House’ e de ‘monk’.

AE – O que faz uma boa novela? E um bom personagem?

ANDREA MALTAROLLI – Depende do que é uma boa novela para você. Tem gente que liga em um horário apenas para ver determinado personagem ou ator. Eu me ligo mais na história e nas pequenas situações que ocorrem paralelamente à trama. Um bom personagem é um personagem verdadeiro. Mesmo em uma comédia pastelão, ele tem que existir, o público deve ser capaz de falar sobre ele como se o conhecesse, prever suas reações, dizer ‘ah, fulano faria’ ou ‘não faria isso’.

AE – O que é um novelista?

ANDREA MALTAROLLI – São as modernas Sherazades. Têm que contar uma história por dia e terminar cada capítulo prendendo a atenção do público para o seguinte. Se não for assim, ‘morre’.

AE – Qual o papel da teledramaturgia hoje? Houve uma época em que era politizada, em outra, novelão…

ANDREA MALTAROLLI – Em primeiro lugar e sempre, entreter. As grandes ideologias, as absolutas, morreram. Hoje damos importância à individualidade e à cidadania. O novelista participa disso, tem uma função quase jornalística de repercutir e mostrar o que se passa e editorialista quando comenta e opina sobre a realidade.

AE – Silvio de Abreu diz que as tramas andam mais preocupadas com tecnologia do que com emoção. Você faz coro com o autor?

ANDREA MALTAROLLI – A essência da novela é a emoção. A excelência da técnica e o imenso trabalho que ela dá acabam por nos afastar da emoção. Um ‘Big Brother’ da vida faz tanto sucesso porque é o mais próximo da emoção verdadeira que a TV tem chegado atualmente. O resgate começa com a conscientização do problema.

AE – Qual a expectativa com a estréia? Teme fracassar?

ANDREA MALTAROLLI – Minha expectativa é que a novela divirta as pessoas. Fracasso é uma coisa muito aborrecida, mas todo mundo passa por ele. Novela não é ciência exata.