Em briga de marido e mulher é possível meter a colher… com classe. Isso, é claro, se o intrometido em questão souber lidar adequadamente com o fervor das questões conjugais. Não se trata apenas de bom senso, nem de conselho de amigo. Há até cursos para gente interessada em se tornar especialista em resolver problemas alheios: são os mediadores, como o advogado Cássio Filgueiras. Ironicamente, a mediação é uma forma de evitar que as pessoas tenham apenas o advogado como opção para resolver dilemas matrimoniais. “O divórcio movimenta um grande mercado na sociedade atual e não seria errado dizer que ele é lucrativo. Novas casas, com novos utensílios são montadas. Além disso, o processo é dispendioso, quase sempre envolve dois advogados. A mediação, além de minimizar o desgaste emocional do casal, é mais barata, já que pode ser realizada apenas por um advogado. No Canadá, o processo é até obrigatório para os casais que se separam e têm filhos”, conta Filgueiras.

Inspirado por um modelo de aconselhamento praticado no Canadá desde os anos 80, o advogado decidiu incorporar a mediação à dinâmica de suas consultas. “Trabalhando com direito de família há alguns anos, percebi que muitas vezes me transformava em um instrumento de vingança de uma das partes, o que me incomodava bastante. A mediação é um instrumento para resolver conflitos, nunca acirrá-los. Ela é indicada sobretudo nos casos em que existem relações continuadas, ou seja, as partes não podem evitar o encontro.”

Mercado não falta para quem pretende trabalhar com mediação: segundo o IBGE, o número de divórcios cresceu 44% nos últimos dez anos. Cientes da crescente desavença entre os pares, um grupo de psicólogas decidiu montar uma sociedade de mediadores, o grupo Them (Transformação Humana em Educação e Mediação). Ali, desenvolveram um método organizado e esquemático para dissolver os conflitos conjugais. “Trabalhamos em grupos de quatro, além do casal. São dois mediadores e uma dupla reflexiva, que ajuda a elaborar soluções para o determinado caso”, conta uma das integrantes do grupo, a psicóloga Marta Marioni.

Segundo a profissional, casais com filhos formam grande parte da clientela. Este é o caso do engenheiro Flávio Fonseca, de 33 anos, e da professora Maria Luísa Fonseca, de 32. “Após sete encontros, os dois conseguiram se acalmar e chegaram a acordos razoáveis sobre questões importantes, como guarda das crianças, visitas e partilha dos bens. Perceberam que é preciso ceder para que ambos ganhem. Não há grande possibilidade de um diálogo deste tipo quando o caso chega ao juiz. Como desconhece necessidades individuais, vai decidir as questões orientado só pela lei”, avalia Marta.

COMUNICAÇÃO ENTRE AS PARTES

A psicóloga Marta Marioni, formada em mediação pelo Instituto Familiae, e

integrante do Them (Transformação Humana em Educação e Mediação) explicou, em entrevista, como funciona o processo de mediação.

A mediação não se confunde com a já conhecida terapia de casal?

MARTA MARIONI – Não. A mediação, ao contrário da terapia de casal, não tem o propósito de reconciliar as partes. Eles já têm certeza de que a separação é a melhor opção, resta acerta detalhes práticos do processo. O objetivo da mediação é restabelecer a comunicação entre pessoas que não podem romper laços.

Há regras específicas que precisam ser respeitadas durante um processo de mediação?

MARTA MARIONI – Há regras claras. O tempo que cada parte tem para falar, por exemplo, é sempre igual. Enquanto um fala, o outro necessariamente tem de ouvir. Também é possível que um dos mediados peça o que chamamos de “caucus”, ou seja: momentos para uma conversa reservada com os mediadores para expor problemas que não conseguem discutir na presença do outro. Se a questão é séria, ajudamos a pessoa a encontrar a melhor forma de explorar o assunto. Geralmente realizamos oito encontros, sendo que cada um dura duas horas e meia. O mais difícil é convencer o casal a experimentar o método. Muitos chegam desgastados por brigas anteriores.