SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sinopse da obra: em suas desventuras para se aproximar do objeto amado, o monsieur Vieux Bois se envolve em brigas com vizinhos, acaba preso, torna-se eremita e entra em guerra com monges, sendo condenado à fogueira. Mas o “objeto amado” citado no texto não é um cofre cheio de moedas ou um castiçal de ouro, mas sim uma mulher.


Trata-se de “Monsieur Vieux Bois”, a primeira história em quadrinhos, desenhada pelo suíço Rodolphe Töpffer em 1827. O álbum revela, em 92 páginas, detalhes da vida europeia em meados do século 19 e, como se viu, dá uma luz de como as mulheres eram tratadas na época. “Há ironia aos amores impossíveis do romantismo e crítica ao catolicismo, na figura dos monges atrasados e intolerantes”, diz o historiador André Caramuru Aubert, que escreve o prefácio.


Organizador da coleção da editora Sesi-SP, iniciada há pouco mais de um ano, Aubert afirma que “hoje há um certo consenso de que Töpffer é o pioneiro das HQs”. O primeiro volume, lançado em 2017, foi “Monsieur Jabot”, de 1833. Nesta quinta (17), a editora lança o quarto (descrito acima) e o quinto, “Monsieur Crépin”.


Em “Mounsier Crépin”, um homem regressa de viagem e se depara com um tutor contratado por sua esposa para ensinar os 11 filhos do casal. A sátira, no caso, é contra os pedagogos e teorias aclamadas na época.


Apesar de ser o pai do gênero, Töpffer é desconhecido por aqui. A única edição brasileira de uma obra sua, “Monsieur Vieux Bois”, havia sido publicada em 1860, pela Livraria Garnier, sob o nome de “Os Amores do Senhor Jacarandá”.


“Era uma edição pirata. Como aconteceu muito na época, o autor foi pirateado em diversos lugares da Europa, além dos Estados Unidos e Brasil”, diz Aubert. Na época, como a obra de arte ainda não havia entrado na era da reprodutibilidade técnica, restava a quem quisesse lançar o livro sem contatar o autor copiá-lo a mão. Assim, os desenhos eram redesenhados em outros países.


Os cinco livros publicados até agora foram tirados das primeiras edições das obras, que Aubert herdou de sua família suíça. “Töpffer foi casado com a irmã do meu tataravô. Quando meu avô veio para o Brasil após a Segunda Guerra, trouxe oito volumes, que acabaram comigo”, conta o historiador.


E há um dedo do grande poeta alemão Goethe na materialização das histórias em quadrinhos. Filho de pintor renomado, Rodolphe Töpffer começou mexendo com telas, mas um problema de visão o impediu de continuar na área. Tornou-se professor infantil e, depois, de universidade, e passou a desenhar e a mostrar essas criações a amigos.


Mas o artista temia, como alguns de seus personagens, desagradar a alta sociedade de Paris e Genebra. A situação foi resolvida quando um desses amigos, que trabalhava como assistente de Goethe, levou algumas histórias em quadrinhos ao chefe, que as elogiou em carta.


“Devolvo os curiosos livrinhos com meus agradecimentos. […] É prova de que o artista sabe captar com graça seu tempo presente”, escreveu Goethe em 1830. E em 1832: “As tirinhas que me foram enviadas, notáveis no texto e no traço, merecem todas um elogio especial, que desde já eu faço.”


Os calorosos cumprimentos do mestre alemão dissiparam os receios de Töpffer, que passou ele mesmo a cuidar das impressões e comercialização das obras. E que, finalmente, mais de 180 anos depois, chegam agora ao Brasil.


MONSIEUR VIEUX BOIS E MONSIEUR CRÉPIN


Quando: lançamento nesta quinta (17), às 19h, com bate-papo entre o organizador e a cartunista Luli Penna


Onde: Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915),


Preço: R$ 49,90 (104 págs.) e R$ 44 (96 págs.)


Autor: Rodolphe Töpffer; trad.: Heloisa Jahn; org.: André Caramuru Aubert


Editora: Sesi-SP