
‘The Batman’, o mais novo filme do homem-morcego, estreia nesta quinta-feira (3) em Curitiba com a premissa de ressaltar que o herói é o maior detetive do mundo. Uma premissa mais ou menos falsa, já que, em ‘Cavaleiro da Trevas’, Batman usou seus conhecimentos de detetive várias vezes – inclusive para se antecipar e pegar o Coringa. Contudo, a ideia de entregar uma versão mais detetivesca do herói é a principal razão existencial na qual ‘The Batman’ se apoia. Isso porque trata-se da terceira versão do Batman a surgir nos últimos 10 anos. Em 2012, Christian Bale se despediu do personagem ao fechar a trilogia de Christopher Nolan (com ‘Batman Begins’, de 2005, ‘Cavaleiro das Trevas’, de 2008, e ‘Batman: o Cavaleiros das Trevas Ressurge’). E Ben Affleck interpretou outra versão do herói em ‘Batman vs Superman’, de 2016, e ‘Liga da Justiça’, de 2017.
O maior medo em ‘The Batman’ mostrou-se injustificado. Robert Pattinson convence no papel. A escolha não era bem vista pelos fãs do herói, que consideravam Pattinson como juvenil demais para o papel. Mas o que se vê na telona não lembra em nada o colega mais velho de Harry Potter (em ‘Harry Potter e o Cálide de Fogo’), tampouco o vampiro adolescente da saga ‘Crepúsculo’. Pattinson entrega um Bruce Wayne adulto demais, amargurado demais, recluso demais e quase suicida (e fisicamente apto a ser o Batman).
Batman à parte, os personagens de Charada e James Gordon ganham destaque no filme dirigido por Matt Reeves. O Charada até cabia no contexto dos coloridos anos 1960 (e olhe lá), mas ficou ridículo quando o mundo do Batman ganhou um mínimo de seriedade, seja nos quadrinhos ou nos filmes. Ao contrário de outros, como Coringa e Mulher-Gato, ele passou a não fazer sentido (que vilão se vestiria de colante verde, cheio de pontos de interrogação na roupa, e pensaria em deixar pistas deliberadas nas cenas de crime? Pelamor…) Desta vez, o Charada ganhou uma roupagem diferente. Tecnicamente, é um “terrorista influencer”, um vilão que acha que tem uma missão e que tem milhares de seguidores em redes sociais. Mais compatível com o contexto atual.
Gordon, por sua vez, aparece bem mais que em outros filmes. Ele ainda não é o comissário de polícia, mas sabe que Batman é um parceiro de grande valia na solução de crimes – ainda que metade do departamento de polícia, incluindo o chefe de Gordon, não goste da ideia. Os policiais torcem o nariz quando Batman entra nas cenas de crime e sentem inveja quando ele, e não outra pessoa, sai de lá com a solução. Gordon sabe o que faz. Mais de uma vez, ele defende o herói. Mais de uma vez, aparece combatendo o crime nas ruas lado a lado com o morcegão. Desta vez, é ele, e não o mordomo Alfred, que ganha espaço ao lado de Batman.
Ainda há Selina Kyle. Ela trabalha no clube do Pinguim e é ladra nas horas vagas. Acaba se envolvendo com a trama porque uma amiga sua, Annika, que também trabalha lá, acaba sendo alvo dos mafiosos. Nem o Batman a chama de “Mulher-Gato” nem ela o chama de “Batman” – ela o chama de “Vingança”. Mas se aliam, se separam, se aliam… E Selina ainda tem que expor o passado do pai.
Ao contrário de outros filmes, ‘The Batman’ não traz nenhuma cena explícita dos pais de Bruce Wayne sendo mortos a tiros. Mas nem por isso deixa de revirar o passado. O pai de Bruce, Thomas Wayne, era um entusiasta da ideia de formar um fundo bilionário em prol dos órfãos de Gotham City – isso pouco antes de ser morto junto com a mulher, Martha. Vinte anos depois, outras pessoas ligadas a esse ideal, como o prefeito Don Mitchell Jr, candidato à reeleição, começam a ser mortos de forma misteriosa por uma figura que deixa charadas nas cenas de crime – e que por isso passa a ser chamado de “Charada”. A essa altura, Batman já existe e já é um aliado informal do tenente de polícia James Gordon. Assim, ele também passa a investigar os assassinatos. O que o leva a cruzar o caminho de figuras clássicas do submundo de Gotham, como o gângster Oswald Copplepot, o Pinguim, a ladra Selina Kyle e o chefão da máfia Carmine Falcone.
Matt Reeves consegue criar um clima próprio para o Batman. Sua versão de Gotham é sufocante e escura. Diferente da visão gótica de Tim Burton (1989 e 1992), da versão com cores neon de Joel Schumacher (1995 e 1997), da versão realista de Christopher Nolan (2005, 2008 e 2012), da versão com outros super-heróis (2016 e 2017). O longa de Reeves até derrapa no fim em algumas redundâncias de filmes de heróis, mas se garante o suficiente para bancar uma continuação. Afinal, seja qual for a versão, em Gotham não faltam criminosos para o Batman perseguir.