O momento do luto pela perda do animal de estimação também pede a preparação e conforto aos tutores (Fotos: Divulgação)

A perda de um ser amado para a morte é algo arrasador. É quando se perde o chão e uma tristeza profunda pode atacar. Por que seria diferente quando este ser é um animal de estimação? Pois não é! E o luto que envolve os médicos veterinários, quando perdem um paciente ou precisam falar sobre abreviar uma vida de sofrimento?

O luto por um pet ainda está entre os não reconhecidos pela sociedade, apesar da importância dos animais nas famílias brasileiras. Acolher é preciso e a reportagem conversou com profissionais que tentam levar conforto, nestes momentos.

“O grande desafio da sociedade é compreender que o luto por um pet é tão doloroso quanto qualquer outro. Não era ‘só um cachorro’ e não ‘é só comprar outro’. É um luto silencioso e não acolhido”, avalia Fabiana Witthoeft, psicóloga especializada em luto e perdas. “Estamos falando de uma construção de apego importantíssima, que se perde. O processo de luto pela morte do ente querido animal é autêntico e similar ao do ente querido humano, nas reações de pesar e nas formas de enfrentamento”, observa ela, que buscou a especialização depois da morte do pai.

Durante os estudos, ao se debruçar sobre os lutos não reconhecidos pela sociedade, se deparou com o dos tutores e fez sua escolha. “Ofereço o momento para que falem e expressem a dor, sabendo que não serão julgados”, diz. “Utilizo técnicas específicas de atenção plena ou projetivas para elaborar melhor as emoções e pensamentos. Também explico sobre os movimentos naturais de um luto”, completa ela, que trabalha com lutos e perdas no geral, em atendimentos presenciais ou online.

Cíntia Rezende Lima se formou em Psicologia, mas a frustração levou à desistência. Dez anos depois, já resgatando animais, fez veterinária e percebeu como a profissão é estressante, pois o veterinário passa por muitas situações de luto. “Senti necessidade de criar um espaço de acolhimento para esta dor que não é falada. O veterinário vive entre muitos atendimentos, perde um e tem outro paciente esperando. Não tem tempo para entender o que se deu com ele”, avalia a pós graduanda em Ações Terapêuticas e Situações de Luto pela PUC-SP.

Na outra ponta está o tutor que, quando recebe um diagnóstico, já entra em luto antecipatório e vai expressar sua angústias para o doutor. “Quando minha Nina teve câncer, meu olhar ficou mais atento e percebi a necessidade de um lugar pra falar sobre este luto que não encontra abrigo nem na família, muitas vezes”, observa ela que atende exclusivamente tutores e veterinários.

A doutora Gisele Brenny, da Clínica Abranches, tem seis anos de experiência lidando com perdas, suas e dos tutores. “A eutanásia é indicada como última opção quando nenhum tratamento está dando certo ou existe muito sofrimento — não come, está emagrecendo, faz xixi e coco nele mesmo, ou em fase terminal de alguma doença oncológica”, explica, acrescentando que “manter a vida a qualquer custo pode ser sofrido para o paciente e para os donos”.

É importante, no entanto, ter sensibilidade e se colocar no lugar do proprietário, a partir do momento que há um diagnóstico. “Todo cuidado e atenção na hora de explicar a situação, em um ambiente tranquilo e com privacidade. A decisão da eutanásia deve ser única e exclusivamente do proprietário e não se deve apressa-lo”.

Em geral, nem passa pela mente que aquela pessoa sempre tão dona de si pode, também, estar num torvelinho de emoções. “Não é uma decisão fácil. Ah, se pudéssemos salvar todos… Porém com a vivência, dependendo da doença já sabemos que vai ser só sofrimento”, diz, lembrando que “existem os cuidados paliativos caso o dono opte pela morte natural”. “Cuidados Paliativos” é um termo que define cuidados prestados a quem está com doença grave, progressiva, que ameaça a vida. “São essenciais para todo paciente, principalmente geriátricos. As doenças debilitam, geram dores crônicas, falência de órgãos e tem recursos alopáticos, homeopáticos, nutricionais para ajudar o paciente”.


Ideia nasceu da experiência da família que perdeu a mascote
Sobre o luto do profissional, Gisele diz que ele deve ser sentido “com uma sensação de dever cumprido”. “Certo de que fez tudo que estava ao alcance da medicina e do dono para dar a melhor qualidade de vida para o paciente”, explica.

Se tudo foi feito e chegou a, inevitável, hora da despedida, é bom também ter pessoas que ajudem. O Pet World Crematório de Animais oferece equipes profissionais para cuidar de todo o trâmite. Tudo começou quando a família da pedagoga Léia Consani Penner perdeu seu mascote, não havia crematório especializado e o destino do amigo foi incerto. A família decidiu pensar em algo que confortasse nestes momentos e surgiu a ideia do crematório de animais. Existiam apenas quatro no Brasil. “Foi difícil. Tivemos que ir abrindo a ‘densa mata fechada’”, explica Léia, sobre os dois primeiros anos até que, em 2005, com tudo legalizado, iniciaram oficialmente as atividades.

Outros desafios vieram, pois não existia a gama de profissionais e produtos especializados para os pets como hoje. “Desde o começo decidimos promover um espaço para o tutor abrir o coração sem ser julgado, colocar sua dor sem medos”, conta, sobre o Cantinho da Saudade, espaço para depoimentos dos tutores que se tornou o ponto mais importante no pós perda. Para o público infantil foi criado o Estrela Guia, espaço lúdico para enfrentar com uma certa leveza o luto sentido.

Atualmente, uma estrutura de 32 mil metros quadrados está preparada para atender as cremações. Cada pet recebe o cuidado de no mínimo quatro profissionais e desde 2009 o crematório oferece também um plano exclusivo para facilitar os trâmites funerários. “Lidar com a dor de alguém que você recém conhece pelo telefone, é um ato de extrema empatia e responsabilidade. Isso faz toda a diferença por abraçar em gestos e cuidados uma pessoa que lhe confia plenamente seu sentimento. É inexplicável e uma honra poder cuidar de alguém neste momento”, diz Léia.

Serviço:
Fabiana Witthoeft – 4199723-3727 @psifabiwitt
Cíntia Lima – @cintiarezendelima
Gisele Brenny
facebook.com/veterinariaabranches
Crematório
https://www.petworldcrematorio.com.br/

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