“No Pain, No Gain”. Sem dor, sem ganho; frase motivacional muito comum entre praticantes de diversos esportes, estabelecendo que só se atinge determinado objetivo superando dores e desconfortos resultantes do treinamento. Algo exagerado em modalidades amadoras e algumas profissionais, mas tido como mantra comum até mesmo entre “coachs” empresariais.
Evidentemente determinação e resiliência são indispensáveis para se obter sucesso, e isso inclui quase sempre suportar cansaço, incompreensão, algumas derrotas e recomeços, mas obstáculos devem ser vencidos e não procurados, não há mérito na busca da dor e sim em suplanta-la quando inevitável.
O sentimento de sacrifício está imbricado ao de troca na maioria das vezes, renunciar ou postergar algo que se deseja pode ser o caminho para obtê-lo com maior merecimento. Estudar para atingir bom resultado em concursos ou exames não é fácil geralmente, representa desistir de diversões ou descanso, mas é a melhor maneira de chegar ao sucesso. Trabalhar com afinco, da mesma forma, sempre esteve associado a isso também.
Na antiguidade os sacrifícios humanos eram associados a uma homenagem a divindades, e entre muitos povos, Maias e Astecas por exemplo, as vítimas mais valorizadas era voluntárias.
Todos já experimentamos na carne a constatação de que o maior sacrifício não é aquele que forças externas nos infligem, mas sobretudo aquele que cada um obriga a si mesmo, tanto movido pela noção de honra ou justiça, quanto pelo sentimento mais básico de garantir a sobrevivência daqueles que nos são importantes ou a pessoal, mesmo que em detrimento de termos muitas vezes o peso de uma consciência ferida nos seus valores essenciais.
Sacrifícios tem uma natureza e uma função social, e são de diferentes concepções: sacrifício-dádiva, sacrifício-alimento e sacrifício-contrato, cada um com seus efeitos e rituais, desde os primórdios da civilização, com os sacrifícios humanos ou animais, que possivelmente representavam forma de estabelecer uma troca de sangue direta entre o clã e o deus, apesar de cedo os costumes que protegiam na sociedade a vida dos indivíduos tenham prescrito a antropofagia.
Os animais domésticos, por serem consumidos rotineiramente na alimentação humana, terminaram por fazer com que divindades se separassem de suas formas animais, e passar a vê-los como oferendas significava uma dádiva do homem aos deuses, ou seja, um sacrifício dádiva, que se transformaram em sacrifícios expiatórios pelo sangue derramado e dor provocada, ao mesmo tempo em que, por ser uma renúncia de sua propriedade, deveriam tornar os deuses propícios.
Esta espécie de troca com o divino tornou-se a regra da maior parte das religiões primitivas, e portanto a base mesmo das mais recentes, e inclusive numa altura em que não seria possível falar ainda em comunidade científica, casos singulares como o de Giordano Bruno, um teólogo, filósofo, e religioso italiano que defendeu a ciência em detrimento do senso comum, teve sua morte numa fogueira considerada por muitos como um verdadeiro sacrifício de alguém que, pelo dissenso mantido como ato de coragem, deixou de fazer parte da comunidade humana. Hoje o vemos como um herói, alguém que renunciou à vida pelos seus princípios, que acreditou tanto na racionalidade que não cedeu à força bruta e ignorância.
E na verdade muitos sacrifícios são feitos para o avanço do conhecimento, para obtenção de dignidade, como foi o caso das trabalhadoras de uma fábrica americana, conscientes de que mulheres não poderiam enfrentar jornadas de doze ou quatorze horas diárias, pois em casa seus filhos precisavam delas para alimentar-se melhor, ficarem mais calmos e crescerem de forma equilibrada, benefício para toda a sociedade e não apenas lucro para um patrão, e por isso foram também assassinadas. O sacrifício delas é lembrado até hoje, nas instituições educacionais não se permite o esquecimento destas pessoas corajosas, para que escolares em formação saibam o quanto tais sofrimentos foram importantes para um mundo mais justo e igualitário.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.