Preconceito que anteriormente era relativamente raro na literatura acadêmica brasileira, o termo etarismo aparece hoje com mais frequência na literatura voltada às relações de trabalho e mesmo nas instituições escolares, como foi o recente caso de alunas que fizeram bullying com colega de quarenta anos. O caso chamou bastante a atenção exatamente porque ambientes de estudos costumam ser mais inclusivos, e pela percepção de uma tendência generalizada de volta aos bancos escolares pela necessidade de requalificação profissional e complementos culturais de pessoas até com bem mais idade que isso.

Entretanto, é no contexto profissional que o etarismo, solidamente alicerçado em estereótipos e preconceitos relacionados à idade, torna-se mais explícito e com uma tendência bastante presente de desligar profissionais plenamente capazes pelo fato de terem atingido determinada idade.

O argumento para este tipo de política organizacional tem como lógica “mostrar aos jovens que há espaço para crescer na empresa”, desafio real de muitos empregadores para satisfazer as aspirações de jovens trabalhadores, impacientes por oportunidades promocionais, em que pese representarem também uma discriminação em relação a uma pessoa ou grupo, com base em sua faixa etária.

Quanto mais velho o trabalhador, mais são considerados “dispendiosos” em relação aos seus colegas mais jovens e mais propensos a serem demitidos, esquecendo que de forma geral são também mais experientes e menos inclinados a decisões precipitadas e algumas vezes equivocadas.

Em função disso, são frequentemente desconsiderados em ocasiões de treinamento, pelo pressuposto de que não estarem interessados ou aptos para atualização; mais jovens algumas vezes consideram que mais velhos detém o conhecimento e obstruem seu caminho em termos do progresso nas empresas.

No entanto, a discriminação pode assumir formatos que à princípio não tem forma negativa; o tratamento com exagerada condescendência, paternalismo ou até infantilizado pode também mostrar não atitudes “carinhosas”, e sim premissas estereotipadas sobre como as pessoas com mais idade atuam no contexto profissional.

O envelhecimento populacional que avança em quase todos os países ocidentais, em função da melhoria de acesso aos alimentos, programas de vacinação e noções básicas de saúde aponta para a discriminação de idade como dominante no mundo do trabalho futuro. Estas discriminações, diferentemente das baseadas em sexo e raça, são relacionais, não absolutas, pois as fronteiras de pertencimento a este grupo são difusas, em alguns países idosos são aqueles com mais de sessenta anos, em outros é preciso setenta ou até mais anos.

Por isso mesmo, terminam por dar mais espaço aos preconceitos “cordiais”, sutis, implícitos; e são

mais difíceis de serem combatidos por serem entendidos como brincadeiras – caso recente das jovens que zombaram da colega – ou naturais, normais e costumeiras.

A construção social do conceito de velhice vem se transformando em função da transição demográfica, diminuição de taxas de natalidade e de mortalidade, e esta realidade mundial pode assumir formas distintas nos países emergentes ou ricos. O Brasil foi considerado ao longo dos anos um país jovem, inclusivo, com o mito de não apresentar preconceitos, imagem que aos poucos se desconstrói: alguns estereótipos têm se mostrado fortes, levando muito tempo para serem alterados.

Embora nem toda discriminação se manifeste de forma consciente, pois todos julgamos segundo padrões familiares ou regionais, é nas escolas que temos maior possibilidade de discutir procedimentos que muitas vezes parecem ser racionais e neutros, mas que, quando analisados de perto mostram-se simples conceitos aprendidos ao longo da infância sem base na realidade.

Fala-se que em regiões polares havia até há certo tempo o costume de “descartar” os idosos, menos capazes para caçadas e atividades de coleta, e consumidores de recursos escassos da comunidade; a esse respeito há uma história: vendo o pai voltar para casa com um grande cesto, o rapaz indagou de que se tratava, a resposta foi “levei meu pai neste cesto para morrer por estar muito velho…”, o jovem refletiu e pediu “guarde bem o cesto por favor”.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.