A atividade esportiva, em todas as suas modalidades, é parte integrante das estruturas neoliberais da economia de mercado, ou seja, é também uma instituição financeira representante dos interesses das corporações nacionais e internacionais que ditam as regras no mercado mundial.

Esta instrumentalização política se deve a muitas características, entre elas ser uma atividade com regras de fácil compreensão, linguagem simples mas que proporciona tensão emocional, o que é muito adequado para veicular objetivos e ideologias de dirigentes, como foi o caso da pretensa superioridade ariana fartamente ilustrada pelos esportes no caso do nazismo, que terminou sendo um tiro no pé, porém eficiente enquanto durou.

Esportes permitem identificação do indivíduo com o coletivo, reforça a sentimento de união nacional ao mesmo tempo que extravasa tensões cotidianas e liberam raiva de insucessos pessoais, demonstrando os valores cultuados naquela sociedade, com toda a aparência externa de neutralidade. Sempre estiveram ligados aos interesses políticos e estratégicos de Estados e comunidades, tendo se desenvolvido em ações utilitárias que visavam simular situações de combate, caça e rituais religiosos, e desde a Grécia Antiga faziam parte do ideal grego de formação integral do homem, usadas como preparação militar para os jovens e permitir, por meio dos Jogos Olímpicos, intercâmbio cultural entre as cidades e celebração da paz entre os povos gregos.

Roma tinha seus equivalentes nos Jogos Públicos, e em espetáculos realizados nos circos e anfiteatros ao lado das execuções,  com corridas de bigas, lutas entre gladiadores, combates com feras, e popularizaram a “Política do Pão e Circo” principalmente em épocas de insatisfações populares.

Mas foi a partir do século XIX que uma série de eventos reafirmou a instrumentalização política do Esporte com o surgimento das Escolas Ginásticas em vários países, que visavam o desenvolvimento social, pedagógico e higienista humano. Eram utilizadas para preparação militar, propagavam nacionalismo e foram importantes instrumentos militares nas guerras napoleônicos e de unificação da Alemanha; mas foi na Inglaterra, com a regulamentação dos jogos populares, que surgiu o que hoje denominamos Esporte Moderno, utilizado principalmente como instrumento de disciplina e fortalecimento do trabalhador, visando evitar faltas e aumentar a produção nas fábricas.

A consagração definitiva da importância dos evento esportivos foi o Olimpismo à partir de 1894, inspirado pelas descobertas arqueológicas de meados do século XIX que trouxeram resquícios da antiga importância, reforçando o conceito de nação poderosa constituída por cidadãos fortes e saudáveis. Desde então, países democráticos ou totalitários passaram a usar o esporte como veículo publicitário de seus regimes políticos, e conquista de campeonatos nas várias modalidades atléticas passa a ser visto como arma ideológica na disputa pelo prestígio.

Aqui no Brasil a Constituição Federal Brasileira de 1988, considerou o lazer como direito social e o esporte como setor estratégico, de direito individual, a ser incentivado pelo Estado, e as discussões sobre as políticas públicas de esporte e de lazer, iniciaram uma grande produção teórica sobre o assunto, versando desde a agenda de megaeventos esportivos até a construção de novos espaços e equipamentos, às novas formas de gestão pública.

A educação física escolar ampliou-se graças à nova compreensão dos efeitos dela sobre a saúde e a forma física, à abertura de novos espaços de lazer como parques e praças, que tornam mais visíveis os equipamentos para a prática esportiva, e a maior oferta de cursos de formação de professores na área de educação física.

A saúde da população como um todo tende a melhorar quando ampliamos o processo educativo no aspecto global, e em particular no ensino da prática do esporte, seja individual ou coletivo, desde muito cedo nas escolas.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.