
A vida em sociedade exige uma série de adequações pra que o nosso “ser da caverna” interior dê espaço àquela pessoa legal, cheirosa e elegante que transita com habilidade por todos os tipos de ambientes e espaços sociais.
Antigamente, era comum aprendermos as regras básicas da boa educação dentro de casa, colocá-las em prática e seguir o baile, entre uma bola fora e outra, um conflito ou tropeção em público. Com direito a dar risada de si mesmo!
Alguns podiam contar com o privilégio de serem educados por uma rigorosa “babá francesa” que repassava todas as lições de civilidade ou então participavam de cursinhos intensivos destinados àqueles que almejavam adentrar o topo das classes sociais.
Entre desafios, aprendizados e inúmeros erros, as pessoas iam se ajustando aos poucos no melhor estilo “vivendo e aprendendo”, sem perder a essência.
Hoje, porém, a sociedade está cada vez mais plastificada – e não estou falando de procedimentos estéticos, que, por sinal, sou super a favor! Isso também não tem nada a ver com boa educação ou refinamento. Apenas com protocolos que vêm sendo ditados e replicados por pessoas que se julgam detentoras do saber social, que determinam como devemos agir, falar, comer e aonde ir.
Quer um exemplo bem básico? É deselegante convidar alguém pra ir a sua casa em cima da hora. Churrasco na laje, nem pensar.
Se o convite foi feito no prazo adequado, o convidado jamais deve comparecer de mãos vazias. Flores e vinhos são algumas das opções. Fica chique.
É importante sorrir, demonstrar felicidade, além de traquejo na hora de comer, falar e beber – principalmente beber!!!
Há dicas com relação à música, à dança, ao tom das conversas e sobre o horário de ir embora.
Pra um ambiente informal, é uma listagem tão grande de comportamentos adequados a seguir que chega a dar preguiça de sair de casa e buscar qualquer tipo de convivência social. Sim, dá vontade de voltar pra caverna!
Mas o pior nem é isso. O que eu acho que é “o fim da feira” é o fato de ninguém mais poder ser natural, transparente, falar umas bobeiras, dançar fora do quadrado, rir acima do volume permitido ou contar piada sem graça. Tudo isso está fora do protocolo atual.
Sou a favor da boa educação, mas acho que a vida fica sem graça se não tiver a liberdade pra chegar na casa de uma amiga chorando e desejando apenas colo, brigadeiro de panela e algumas horas de papo furado.
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e se esforça diariamente pra não dar bola fora.