
Num mundo cada vez mais dominados pela tela e em que os meios de comunicação se tornam, efetivamente, uma extensão do homem, um número cada vez maior de pessoas tem procurado refúgio na literatura. Trata-se de um movimento que vem gerando reflexos positivos para os sebos de Curitiba, que após um período de grande dificuldade na pandemia agora registram um crescimento pequeno, mas constante. Crescimento este que, curiosa e esperançosamente, é puxado justamente pela formação de uma nova geração de leitores
Segundo Guilherme Gomes Cardoso, proprietário do Sebo Leitura Oficial, o que acontece é que as pessoas, de maneira geral, estão começando a resgatar a tradição das mídias físicas. Na música, por exemplo, isso se traduz na alta da demanda por discos de vinil e CDs. Já na literatura, o que tem acontecido é o resgate dos livros físicos, em detrimento dos livros digitais (e-books).
“É um movimento que está acontecendo aos poucos. Desde o ano passado, por exemplo, não temos queda na procura dos clientes, que está se mantendo e crescendo aos poucos. 2023 está sendo muito bom”, comemora Guilherme, destacando ainda que o bom momento dos sebos reflete também um interesse crescente na literatura infantil. “Hoje o pessoal até fala, querem menos telas e mais livros. Isso é algo que pega muito pro lado de livros infantis, literatura infantil: os pais estão querendo incentivar as crianças a ficarem menos tempo na tela, mexendo no celular, e querem que elas leiam mais livros. É muito bom ver esse incentivo”, diz ele.
Na loja Sebo Líder III, Rodrigo García comenta que a procura por livros para os pequenos tem crescido muito fortemente nos últimos cinco anos, numa demanda que envolve, especialmente, crianças com idade entre 5 e 10 anos de idade. “É um segmento que cresceu bastante, cresceu bem a procura pelos sebos nessa parte de literatura infantil mesmo. Hoje, esse é o segmento que mais cresce dentro da nossa loja e o final do ano é justamente o melhor momento, porque os pais querem dar um livro para manter o filho entretido em casa no período de férias, fazer eles não ficarem só no virtual”, aponta o vendedor.
Um ponto que tem sido importante para atrair os leitores mais jovens, inclusive, é a variedade de opções. É livro para ser lido, para ser tocado, para ser sentido, para ser pintado… E isso tudo sem contar os temas, que também são os mais diversos: dinossauros, abelhas, natureza, super-heróis….
“Eu vejo que os pais procuram livros que tenham algum tipo de conteúdo mais controlado para os seus filhos, porque na internet não tem esse controle. Eles querem algo que seja seguro, eles consigam ler e fantasias juntos com as crianças nessas histórias, sem nenhum tipo de perigo, nada de inesperado e inadequado. Eles querem materiais que sejam adequados para a idade dos seus filhos e que possa estimular a imaginação, a parte sensorial e motora, como são os livros de toque para crianças menores. Querem agregar na parte cultural também”, comenta ainda Thamires dos Santos Pereira, vendedora do Sebo Leitura Oficial.
Como fazer despertar o leitor que há dentro de nós?
E como fazer despertar o leitor em potencial que há dentro de nossas crianças, ainda mais num mundo cada vez mais rodeado por telas e sensações instantâneas? Segundo Thamires, uma estratégia que muitos pais tem adotado é prestar atenção em interesses específicos das crianças e estimular isso buscando livros dessa mesma temática, para não deixar passar esse interesse infantil.
“Crianças autistas, por exemplo, podem ter um hiperfoco em dragão. Aí os pais vem aqui buscar livros que tenham dragões, porque isso é um estímulo, pode ajudar no desenvolvimento da criança a partir do que ela própria já tem como interesse, o seu hiperfoco. Isso acaba estimulando não só o desenvolvimento intelectual dela, mas também o social, porque no livro pode ter tem algum diálogo, algum ensinamento que sirva de estímulo para a criança”, explica a vendedora.
Mas se engana quem pensa que são só as crianças que estão descobrindo (ou redescobrindo) o prazer de pegar em um livro e as delícias de se ler. Também tem muito marmanjo, jovens adultos que nunca foram estimulados à leitura, e que através de séries e filmes começam a se interessar por outras formas de arte e de expressão.
“Hoje em dia também temos muito o pessoal do mangá, gente que assiste alguma série na Netflix, na Amazon, descobre que aquilo surgiu de um livro ou de uma HQ e depois vem atrás dessas outras obras”, afirma Guilherme, sendo ainda complementado por Thamires. “Isso, inclusive, é algo que tem feito muitos jovens adultos, pessoas com 18 ou 19 anos que nunca se interessaram por leitura, a virem no sebo para procurar algum livro. Acaba sendo uma iniciação para quem não teve lá atrás algum estímulo para a leitura.”
Livros ainda são o “carro-chefe” dos sebos curitibanos
Não é de hoje que os sebos não se limitam à venda de livros. Elepês (LPs), CDs, revitas, gibis, HQs e mangás também fazem parte do estoque desses estabelecimentos, que não raro trabalham ainda com uma gama ainda mais variada de produtos para atrair o maior número possível de clientes. Ainda são, porém, os livros o carro-chefe dessas lojas, a razão de existir desses lugares, essencialmente.
“O vinil hoje representa uns 25%, 30% das vendas. É uma coisa que explodiu nos últimos quatro anos, mas o livro em si ainda é o carro-chefe, tanto na loja física quanto no virtual. Livros, revistas em geral, gibis, são 70% das vendas. Livro fica em primeiro, com uns 40 ou 50%, e gibis, mangás e HQs aparecem na sequência e pegam uns 20%”, comenta Guilherme, apresentando uma lista parecida com a de Rodrigo, do Sebo Líder III. “O carro-chefe ainda são os livros. Em seguida vem os CDs, os elepês e aí as revistas. Mas o forte mesmo é o livro”, diz ele.
Além disso, também é cada vez mais premente que os sebos estejam presentes também no mundo virtual, em plataformas como Estante Virtual, Amazon e Mercado Livre. “Temos tido um bom aumento na venda de livros pela internet. Pessoal gosta disso de receber em casa e pelo mundo virtual conseguimos atender todo o Brasil, embora o comércio físico mantenha sua importância”, destaca o proprietário do Sebo Leitura.