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Calendário 2024 (Foto: Josianne Ritz)

Pronto, o Natal passou e agora é a hora de “colocar a casa em ordem”. Correr atrás dos prejuízos pelos excessos gastronômicos e etílicos da ceia do dia 24, trocar os presentes que não deram certo, partir pra algum lugar diferente no mapa e fazer planos pro ano que se aproxima. Posso arriscar que meio mundo quer ser saudável, emagrecer e ganhar mais dinheiro. Outra parcela significativa – considerando inclusive parte da galera do grupo anterior – quer encontrar um grande amor e viver feliz pra sempre.

Pra seguir esse planejamento vale tudo: escolher a roupa no tom mais adequado aos objetivos estabelecidos, pular onda, montar um cardápio diferenciado, enfim… poderia passar o resto do texto só listando as iniciativas típicas pra começar bem o ano novo.

Cada um com seus projetos e suas maluquices, desde que não atormente e não prejudique a vida alheia, acho que está tudo bem.

Pra mim, particularmente, cada ano que se inicia é como um novo livro, totalmente em branco e sem direito a coautor. Ossos do ofício! Ainda não escrevi nenhum livro, mas trabalho diariamente com as palavras e, graças a elas, posso pagar direitinho os meus boletos e até me dar alguns luxos.

Sempre que inicio um novo projeto jornalístico ou um novo texto, é bem comum vir aquela dúvida básica: “como eu começo esse treco?”. Sim, as primeiras linhas são fundamentais pra conquistar o leitor. Um artigo cansativo ou mesmo sem informação interessante corre grande chance de cair na vala do esquecimento. Quem nunca deixou um livro de lado, logo após as primeiras páginas?

Arrisco dizer que qualquer semelhança com o começo de um ciclo, de um ano, não é mera coincidência. E isso não tem nada a ver com superstições ou rituais de passagem, mas com a decisão de ser protagonista dos próximos capítulos e saber escolher quem serão os coadjuvantes ou apenas figurantes dessa história.

A vida se divide entre os acontecimentos que dependem da minha ação e aqueles que não tenho governabilidade alguma. Questões como a paz mundial, a vida e a morte de pessoas queridas, o futuro da inteligência artificial, a robotização da sociedade, as mudanças climáticas, a degradação ambiental e a polarização política que está ganhando proporções mundiais podem até ter a minha contribuição – pro bem ou pro mau –, mas dependem de um contexto amplo e que envolve muito mais gente.

Porém, posso escolher com quem compartilhar meus dias, as músicas que escuto, as séries que assisto e se quero me aperfeiçoar na minha área de atuação ou deixar “a vida me levar”, pra parafrasear o grande filósofo brasileiro, Zeca Pagodinho.

Também é minha responsabilidade se vou cuidar da saúde ou apenas reclamar dos efeitos do tempo, se vale à pena aguentar um chefe babaca, um cliente chato e um emprego meia-boca. Ir pra academia, rir de piadas idiotas, escolher alimentos saudáveis e conviver com pessoas sensatas e bem-humoradas são decisões que eu não posso delegar pra ninguém.

O papel de protagonista desse livro que se inicia em breve é exclusivamente meu. Daqui a um ano, caberá apenas a mim fazer o balanço de tudo isso, pra rir ou chorar. Comemorar ou reclamar. Amar ou odiar o final desse livro. Não adianta colocar na conta de Deus, do universo, de Alá ou qualquer outra divindade. Isso é autorresponsabilidade.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e deseja que em 2024 as pessoas sejam mais autorresponsáveis