
“Todo carnaval tem seu fim”, como a galera dos Los Hermanos fez questão de frisar. E agora não adianta, não dá mais pra empurrar com a barriga, pois é hora de acordar pra vida e dar o “start” em 2024. Pouco importa se você “macetou” todos os dias de folia ou optou por acreditar no arrebatamento antes do Apocalipse final.
O Natal já era, Papai Noel está de férias e engordando as renas pro serviço de dezembro. As promessas de Réveillon ainda são apenas promessas – que ninguém mais lembra mais onde anotou – e as férias fazem parte das memórias de um tempo que já não nos pertence mais. É quase final de fevereiro de um ano bissexto.
Daqui a pouco é Páscoa e não dá pra ficar esperando as próximas datas do calendário pra fazer a roda girar e a vida acontecer.
A procrastinação está na moda, virou objeto de pesquisas científicas e tema recorrente nos consultórios. Pra traduzir, procrastinar é a arte de adiar as tarefas e projetos com base em argumentos geralmente frágeis como a falta de tempo, de vontade ou de conhecimento.
É possível procrastinar no trabalho, no relacionamento, nas tarefas domésticas e até no autocuidado – o famoso “amanhã eu volto pra academia” é um exemplo clássico. Desafio para as mais diferentes modalidades de terapeutas, pode ser reflexo do medo da mudança, do fracasso, do excesso de perfeccionismo, da falta de organização, além de uma renca de outras coisas que a psicanálise vai poder elencar bem melhor do que eu.
Eu adoraria procrastinar o retorno à vida real e continuar minhas férias à beira-mar, com o celular off. Mas tenho certeza de que ficaria entediada e começaria a procurar o que fazer. Acho que o ser humano precisa produzir pra encontrar sentido pra vida e se sentir útil à sociedade.
Quando estou de saco cheio da correria maluca do cotidiano, costumo fazer exercícios mentais de como seria a minha vida se eu não tivesse tantas demandas diárias. Não preciso de muitos minutos pra constatar que eu me engajaria em algum projeto social, iria me envolver em alguma causa humanitária no meio do Congo, faria projetos pra escrever uns dez livros – e procrastinaria o início de pelo menos nove deles.
Como ainda não é esse o caso e posso procrastinar mais algum tempo esse tipo de decisão, o jeito é encarar os fatos e voltar pra realidade. A pausa é necessária e recomendada pra não enlouquecer, a procrastinação caminha lado a lado com a inércia, mas a vida real depende do verbo agir, seja para começar, continuar ou terminar qualquer coisa.
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e volta pro mundo real nos próximos dias.