
Eu não sei o que a neurociência diz sobre aquela vontade de parar tudo o que se está fazendo e dar uma choradinha rápida. Também não ouvi a Marcia Sensitiva falando algo a respeito disso. Será que pode chorar de vez em quando? Ou a positividade tóxica não permite?
Em geral, não costumo dar arroz e feijão pra tristeza, justamente pra ela não ganhar força e achar que pode chegar e botar banca. Seguindo essa filosofia, estou há tempos numa vibe meio Rita Lee: “ando meio desligada, nem sinto meus pés no chão. Olho e não vejo nada…”.
Só que, além dos dramas da vida particular – e que, em geral, são totalmente administráveis diante das desgraças do mundo atual – , a gente se vê obrigado a “engolir” diariamente notícias de crianças, idosos e animais sendo massacrados das formas mais horrendas possíveis.
Esses dias aconteceu com o Joca, o Golden assassinado por uma companhia aérea. Com a socialite carioca vítima do mordomo mau caráter – mas, que, por sorte, os familiares descobriram a tempo. Com o adolescente com autismo morto vítima de bullying praticado por outros estudantes em uma escola no litoral paulista.
Me pergunto: cadê a humanidade nessas situações? “Ah, era só um cachorro!”. “Era só uma velha rica de 88 anos e que não tinha pra quem deixar o dinheiro!”. “Era só um menino cheio de problemas”. Infelizmente tem muito pensamento desse tipo. Alguns são tão ousados que até se posicionam em postagens do mundo virtual.
Quando vejo que estou perdendo a fé na humanidade e percebo que os meus dias estão um pouco nublados por dentro, tenho mania de recorrer ao meu All Star amarelo e um batom colorido. Eles costumam disfarçar os terremotos interiores, o inferno astral cada dia mais perto e as paranoias que insistem em se digladiar dentro da minha cabeça.
Porque tem dias que a gente não quer meditar, não quer fazer exercício físico pra deixar a endorfina resgatar o pouco de saúde mental que ainda resta ou aplicar todos os ensinamentos descobertos com os líderes motivacionais da vida alheia no Instagram.
A gente quer surtar, xingar esses idiotas insensíveis que fazem plantão anônimo nas comunidades digitais e chorar todas as mazelas do mundo.
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e detesta filmes em que os cães morrem no final.