Fotos: Divulgaçao / IAT – Plantio de mudas de araucária em Curitiba: preservação

Símbolo do Paraná e ameaçada de extinção, a araucária virou o carro-chefe de um grande programa de preservação ambiental no Estado. Por ano, haverá 150 mil mudas para plantio onde a araucária foi devastada, segundo dados do programa Paraná Mais Verde, iniciado neste ano.

Segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica publicado em 2019, a araucária ocupa menos de 3% de sua área original no Paraná. E apenas 0,8% da área original guarda as características da floresta primitiva – que ainda não foi explorada. Atualmente, não existe no estado uma área contínua com mais de 10 mil hectares de floresta de araucária. A árvore será extinta nos próximos 50 anos se nada for feito.

A produção de mudas de araucárias e outras espécies é feita pelo Instituto Água e Terra (IAT), vinculado à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável e Turismo, que mantém 19 viveiros no Estado. Os espaços produzem, por ano, cerca de 3 milhões de mudas de 80 espécies nativas, sendo 150 mil mudas apenas de araucária. A ideia é fazer o plantio de 10 milhões de mudas de árvores nativas de todas as espécies até 2022, incluindo outras espécies ameaçadas de extinção, como peroba rosa e imbuia.

“A preservação é imprescindível para que tenhamos uma vida melhor”, disse o secretário do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do Paraná, Márcio Nunes. “Estamos vivendo a maior crise climática dos últimos 100 anos, com falta de água em grandes centros e na agropecuária. Precisamos equilibrar a natureza com o plantio de árvores, a preservação dos rios e da vida humana”.

No caso das araucárias, as mudas são produzidas de um ano para serem disponibilizadas para doação ou plantio no ano seguinte. As mudas que estavam em estoque foram plantadas no dia 27 de outubro, com o objetivo de adensamento florestal, visto que a espécie é adaptada para um ambiente sombreado nos primeiros anos de vida. O plantio ocorreu nas regiões onde há a ocorrência natural da espécie – principalmente Curitiba e região metropolitana, Campos Gerais, região Central, Sul do Paraná e região do Vale do Iguaçu. Nessa ação, foram plantadas mais de 45 mil mudas durante uma semana. O reflorestamento alcançou 367 hectares.

O reflorestamento não precisa ser exclusividade do poder público. Qualquer pessoa pode plantar mudas de araucária. Elas podem ser solicitadas através do link www.sga.pr.gov.br. “Quanto mais preparada ela estiver para ser recebida pelo solo, maior são as chances de se desenvolver e atingir a maturidade com capacidade para dar frutos e servir de alimento para a população e os animais”, afirmou Everton Souza, presidente do IAT.

Ambientalistas alertam, contudo, que o manejo do plantio deve seguir diretrizes técnicas. Até para não se repetir erros anteriores. “Voltando um pouco no tempo, seria curioso buscar informações das 80 milhões de mudas nativas plantadas na gestão Requião, alguns anos atrás. Onde foram plantadas, e com que propósito?”, questionou Clóvis Borges, diretor da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).

Ciclo
A araucária demanda especial atenção porque ela pode ser cortada rapidamente, mas seu ciclo de vida e reprodução é lento. A árvore atinge a vida adulta somente após 15 anos e só depois disso é que passa a produzir sementes: os pinhões. As araucárias não são atrativas para animais polinizadores – como árvores com folhas e frutas – e dependem de dois fatores para se manter. Um deles é a disponibilidade do vento para dispersar as sementes. Outro é a gralha azul, pássaro que se alimenta de pinhões e ajuda na disseminação. Se não for depredada, a araucária pode viver até 700 anos e chegar a 50 metros de altura e 2 metros de diâmetro em seu tronco.

Araucárias adultas: ciclo lento de crescimento e reprodução

Preservação com plantio sustentável virou lei no Paraná
A preservação da araucária com incentivo ao plantio sustentável com fins comerciais virou lei no Paraná. O texto foi sancionado em 26 de maio deste ano. Nele, há regras de plantio, cultivo e exploração comercial da araucária.

Para quem plantar a araucária, a lei garante o direito de exploração direta e indireta. Quem plantar a espécie em áreas rurais para fins de exploração deverá cadastrar a plantação no órgão ambiental estadual. Além disso, a exploração deve ser declarada para fins de controle de origem. A lei incentiva ainda a certificação florestal voluntária dos produtos madeireiros e não madeireiros oriundos dessas plantações.

O plantio de araucária não poderá ocorrer nem ser registrado em Áreas de Preservação Permanente (APPs), Áreas de Reserva Legal e áreas de remanescentes de vegetação nativa onde houve desmatamento.

“A lei é positiva se for cumprida à risca, ou seja, só se permita o plantio em áreas que já estão degradadas. E que isso não abra subterfúgios para intervenções em áreas remanescentes de florestas nativas de araucária, o que é proibido pela Lei da Mata Atlântica, a lei federal 11.428/2006”, afirma o engenheiro florestal João Luis Guimarães, consultor na área ambiental. “A lei não pode ser usada como forma de acabar legalizando a madeira vinda de desmatamento. A fiscalização do instituto Água e Terra tem que ser rígida, para que a lei não seja desvirtuada”.

Araucária é anterior aos dinossauros e tem até dia próprio
A araucária (Araucaria angustifolia), árvore-símbolo do Paraná, é uma espécie bastante antiga no Estado. Mais antiga que os dinossauros, na verdade. E o destino pode ser o mesmo – a extinção – se nada for feito, segundo especialistas.

O gênero Araucaria faz parte do grupo das plantas gimnospermas, as primeiras a conquistar o ambiente terrestre. Isso ocorreu há mais de 300 milhões de anos. Há 19 espécies do gênero no mundo, sendo uma delas a Araucaria angustifolia. O evento cataclísmico que exterminou os dinossauros foi há 65 milhões de anos. As araucárias sobreviveram.

Há principalmente dois fatores que colocam a araucária em risco. Um é a exploração da madeira, considerada e ótima qualidade: leve e sem falhas. Essa madeira foi um dos principais produtos de exportação nos meados do século 20. Entre 1930 e 1990, calcula-se que cerca de 100 milhões de araucárias tenham sido derrubadas em todo o Brasil. E o Paraná é o estado que mais tinha a árvore.

Outro problema é a depredação da floresta, devido ao desmatamento e ao aquecimento global. Grande parte da área original virou área agrícola ou de reflorestamento de espécies exóticas (como o pinus). Isso comprometeu não apenas a araucária, mas todo o ecossistema da Floresta Ombrófila Mista, que inclui plantas como canela sassafrás, erva-mate, imbuia e xaxim, além de diversas espécies de animais.

Atualmente, a araucária é considerada “criticamente em risco”. Por tudo isso, criou-se um dia especial de conscientização e preservação, o dia 24 de junho.

“A redução da diversidade biológica no planeta tem sido tão severa que já é conhecida como a ‘sexta extinção’, em alusão às outras extinções em massa a que a Terra foi submetida, como a dos dinossauros”, diz a bióloga Lia Antiqueira, em artigo publicado no Dia da Araucária.