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The Cult (foto: divulgação / The Cult)

Nesta terça-feira, dia 25, Curitiba receberá pela sexta vez a banda The Cult, agora em nova turnê mundial. A turnê, designada “8424”, iniciou em junho do ano passado, em Madrid, na Espanha e finalizou em dezembro, na Austrália, passando por três continentes (Europa, Oceania e América do Norte). A partir de fevereiro de 2025, agora chamada de “L’America 8525”, a continuidade da turnê terá uma volta por países da América Latina, incluindo três datas brasileiras.

O The Cult é, desde o início, um duo acompanhado por outros músicos de apoio ao longo da carreira. Há quatro décadas trabalhando juntos, o vocalista Ian Astbury e o guitarrista Billy Duffy representam o cérebro e o coração da banda.

E, da mesma forma que se atraem musicalmente, também agem de forma antagônica. E, ao longo de mais de quarenta anos, a amizade entre Billy e Ian segue perene, mas nem por isto as divergências deixam de existir entre eles.

Se por um lado, a cor preferida de Ian Astbury é o vermelho, a capa do álbum “Sonic Temple” com a icônica foto de Billy Duffy, tem a cor verde como destaque.

Tal qual as duas cores antagônicas, que se combinam, por vezes, se afastam, o The Cult teve vários fins alguns pacíficos e combinados e outros nem tanto (como no intervalo entre 1990, 1995 e 1999 e 2002).

Similaridades e antagonismos

Antagônicos também são os gostos futebolísticos. Ambos são grandes fãs de futebol e já fizeram feito parte de um time amador, o Hollywood United FC, formado por atores de cinema, jogadores de futebol profissionais e músicos famosos.

Enquanto Ian Robert Astbury, nascido em Heswall Chesire, nos arredores de Liverpool norte da Inglaterra (a cidade dos Beatles), torce pelo Everton (e Independiente da Argentina), já Whillian Por sua vez, Henry Duffy, natural de Hulme, Manchester (também localizada ao norte do país), torce pelo Manchester City. “Rivais” no futebol, se provocam mutuamente, de forma divertida, como ao final de um show ocorrido em outubro de 2024, na cidade de Manchester, durante a passagem da turnê pelas terras inglesas.

Trata-se de uma sólida amizade entre eles, apesar das diferenças comportamentais e de personalidade. Enquanto Duffy faz uma linha quase que de um rock star, Astbury age mais como um introspectivo multiartista: leitor voraz de muitos estilos literários, passando de cantor a cineasta, pensador, designer, estilista e dono de marca de roupas. E a influência literária na produção artística de Ian é evidente: Friedrich Nietzsche (“Beyond Good and Evil”); Charles Bukowski (“Born into This”); William Shakespeare (“Sound and Fury”; Keigo Higashino (“Under The Midnight Sun) 

Enquanto o guitarrista parece gostar mesmo da proximidade do estrelato e benefícios do agitado mundo do rock e motocicletas, o vocalista parece mais um intimista crítico de arte em uma visita a um museu de diferentes tipos de acervos e de correntes de pensamento. E assim vão seguindo, criando músicas que fazem gerações se divertirem ao longo de décadas.

O trabalho de ambos resultou em onze discos oficiais e dezenas de participações especiais e projetos paralelos de ambos, alguns mais voltados ao clima Hard Rock de Billy Duffy, outros muito mais diversificados, que contaram com o timbre barítono de Ian Astbury. Em resumo, a dupla forma uma sólida carreira musical com discos que, por vezes, apresentam grandes mudanças sonoras em relação a outras composições de outras épocas.

O início da jornada

A banda iniciou sua trajetória musical em 1984, na Inglaterra e, desde então, contaram com a atuação de mais de 60 músicos, entre músicos de estúdio, músicos de apoio, contratados para as turnês, eventos ao vivo e parcerias.

Destes músicos, muitos seguiram carreiras promissoras em outras bandas famosas: Lez Warner (que atuou em 1985), teve uma banda com Paul Inder, filho de Lemmy Kilmister, do Motorhead, e liderada por Julian Lennon, filho primogênito de John Lennon um dos maiores ídolos de Ian Astbury.

Outro músico de destaque foi James Kottak, falecido recentemente, que tocou no The Cult fez um grande sucesso com os Scorpions. Michael Lee, também falecido, saiu do The Cult para ocupar o posto mais desejado por um baterista: fazer parte da banda dos líderes do Led Zeppelin, Page e Plant.

Do mesmo modo, o The Cult revelou ao mundo o baterista Matt Sorum, que pode ser considerado um membro permanente da banda depois de idas e vindas. Sorum acabou se tornando um dos maiores nomes da bateria do rock mundial quando fez parte do Guns N’ Roses e com inúmeros projetos paralelos de sucesso

Os atuais músicos colaboradores

Atualmente, além de Ian Astbury (líder, vocalista e percussão) e Billy Duffy (guitarra líder e vocal de apoio) como espinha dorsal, o The Cult conta com o longevo baterista Jonh Tempesta (ex-Helmet, White Zombie, Zakk Wylde, Dead Daisies), que está ao lado da dupla desde 2006). No baixo e vocal de apoio, (Stephen) Charlie Jones, que entrou no The Cult, em plena pandemia, para então gravar o mais recente álbum da banda, o “Under The Midnight Sun”, de 2022.

Charlie Jones iniciou sua parceria musical em 1988, com ex-sogro, Robert Plant. Aquela foi uma parceria que durou mais de duas décadas, vários álbuns, DVDs e muitos prêmios. Além disso, Charlie Jones foi parceiro de trabalho do ex- baterista do The Cult, Michael Lee, também já falecido, que tocava na banda solo de Robert Plant e depois no projeto Page &Plant, inclusive vindo ao Brasil.

Foi também em 1988, ano em que Robert Plant, fã declarado do The Cult, convidou Ian Astbury para cantar com ele ao vivo, durante o bis, em três shows da turnê “Non Stop Go” que ele fazia pela Inglaterra. Em 2024, Robert Plant fez questão de prestigiar o The Cult durante a passagem da banda por Wolverhampton, na Inglaterra, com direito a presente e fotos no camarim.

Durante 2024, o “novo” The Cult agora contou com um quinto integrante, que não é anunciado publicamente: Matt Mckenna, músico profissional, ex-roadie técnico da banda, que faz ao vivo os teclados, samplearás, vocal de apoio e guitarra base, ficando “oculto” do lado esquerdo do palco. Sua participação tornou a sonoridade ao vivo mais parecida possível com as dos álbuns oficiais, o que tem agradado muitos fãs da banda e a crítica especializada.

Algumas curiosidades na trajetória de mais de quatro décadas

O The Cult tem algumas curiosidades em sua história de mais de quarenta anos no meio musical. Apesar de não ter chegado ao patamar de vendas tal qual outras bandas que podem ser consideradas como parceiras, eles já venderam mais de 25 milhões de álbuns.

É possível traçar um paralelo com bandas que podem ser tidas como parceiras, o U2, de quem Ian Astbury foi assistente de palco da banda, quando ele fazia parte do Southern Death Cult. Do mesmo jeito, já tocaram juntos com o Echo and the Bunnymen, durante uma turnê pelo norte do Reino Unido, no início dos anos 80.

Outra banda amiga do The Cult é o Guns ‘N Roses, banda que o The Cult deu oportunidade de abrir seus shows nos Estados Unidos e Canadá durante a excursão do álbum “Eletric”. Na época, os Gunners não eram muito conhecidos, e Ian teria dito para eles que “Um dia vocês serão bem maiores que nós, do The Cult”. Ian estava certo.

Oasis, Nirvana, Bon Jovi ou Metallica são outras bandas parceiras do The Cult. É claro que, quando o assunto é vendas de discos ou popularidade nas bilheterias são maiores, em que se pese os shows em grandes estádios na turnê do “Sonic Temple”, em 1989. Entretanto, o The Cult tem sido inspirador para muitos outros músicos, que se tornaram fãs da banda.

A fama, o auge, a reflexão e a primeira separação

Naquele fim de 1989, durante o auge da fama, quando o The Cult alcançou ao primeiro lugar da parada rock dos Estados Unidos, desbancando “tudo e todos”, ocorreria a primeira separação. Eles desfizeram a banda pela primeira vez, em maio de 1990. Era um momento em que Ian Astbury desacelerou. devido a morte de seu pai, não queria se tornar um (Dirty little) rock star.

Matt Sorum, que entendia não estar sendo valorizado o suficiente na banda, aceitou o convite de se juntar ao Guns ‘N Roses, deixando o The Cult. Seguindo caminho contrário, Ian renunciou a muito dinheiro e fama optou por trabalhos pessoais como o lendário “Gathering of the Tribes”, realizado em 1990.

Este festival deu origem ao Loolapalooza, liderado por Perry Farrel, do Janes Addiction, que na época se chamavam PsiCom (a primeira banda amiga do The Cult quando eles fizeram seu primeiro show nos Estados Unidos, em 1984).

A forma de ver e viver o mundo de Astbury é claramente voltada a fazer música e em vez de, exclusivamente, fazer muito dinheiro com a música. Tanto que em 1999, quando o muito conhecido baterista Matt Sorum retornou à banda, Ian permaneceu focado em priorizar fazer a sua música do que fazer (muito) sucesso comercial com a sua própria música.

A admiração de outros músicos pelo trabalho do The Cult

De certa forma, é possível dizer que há um culto em favor do The Cult, que é uma das únicas  bandas da sua geração admirada por grande parte dos seus ídolos vivos e outros  que já se foram: integrantes dos The Doors, Led Zeppelin, The Who, David Bowie, AC/DC, Beatles, ZZ Top, The Clash, parte dos Rolling Stones, Sex Pistols, Deep Purple, Aerosmith, Iggy Pop, Blondie, U2, Lou Reed, Judas Priest, Iron Maiden, Billy Idol, Alice Cooper,  The Police, INXS, Motley Crue, Def Leppard e por aí vai.

David Bowie foi o ídolo que Ian mas foi bem tratado pessoalmente. Ambos fizeram um show juntos em Paris, em 1987 e se tornaram amigos. Já Robert Plant, em 1986 e Paul McCartney, em 2000, apareceram de surpresa no estúdio onde o The Cult fazia gravações, para os elogiar e reforçar a amizade. O Beatle até teria participado dos efeitos de distorção da música “War (The Process)”, do álbum de 2000. Tonni Iommi, com quem Ian Astbury gravou no seu álbum solo, junto com Brian May, do Queen, também é um amigo de tempos.

As decepções no meio musical

Poucas foram as decepções de Ian Astbury com outros músicos. Entretanto, uma ocorreu quando Mick Jagger foi muito indiscreto com sua então namorada na época, justamente quando o The Cult se candidatava à abertura dos shows dos Stones.

Também pode ser considerada decepção o encontro com Eric Clapton, quem não demonstrou nenhuma emoção ao conhecer o vocalista.

Momentos de intensa alegria

A maior alegria de Ian Astbury foi ter sido convidado, entre dezenas de vocalistas, para cantar no lugar de Jim Morrison junto aos The Doors. Pode-se até dizer que foi um “namoro” e que virou “casamento”.

Tudo começou em 1987, mas se consolidou em 1991, quando Ian foi convidado para fazer o papel de Jim Morrison no filme de Oliver Stone, mas recusou o papel  que foi para Val Kilmer. Logo depois da recusa, ele subiu ao palco e cantou junto com Billy Idol (outro grande amigo) na festa de lançamento do filme “The Doors Premiere MTV 1991”, chamando a atenção pela interpretação.

Na sequência, participou da gravação de um DVD com os integrantes do The Doors e acabou sendo convidado por Ray Manzarek e Robby Krieger para seguir turnê mundial com o The Doors, então chamado de “The Doors of the 21st Century”, por causa de uma disputa judicial entre os integrantes pelo uso do nome original.

Foram inúmeros shows, entre 2002 e 2007, com Astbury assumindo os vocais e ganhando elogios. Além da importância para um fã como ele, Ian ressaltou da importância de ter evoluído como músico, ganhando amadurecimento na relação com outros companheiros de palco.

As amizades no meio musical

Ian e Billy contam com amizade de inúmeros personagens do mundo da música e das artes. As participações musicais e declarações de apoio de outros músicos como fãs da banda são inúmeras. Na lista podem ser incluídos: Ray Manzarek, e Robby Krieger; Madonna; Paul McCartney, Julian e Sean Lennon, Yoko Ono; Dhanni Harison; Robert Plant, Jimmy Page e Jason Bonham; Lenny Kravitz; integrantes do Alice in Chains e do Soundgarden;  Ozzy Osbourne; Gleen Hughes; David Coverdale; Steven Tyler, Joe Perry e toda banda; The Who e Def Leppard; Steve Jones e todos os Pistols; Billy Idol e Steve Stevens; Brian Johnson; Billy Gibbons; Sammy Hagar e integrantes do Van Hallen; Slash, Axl Rose e Duff McKagan; Sthephen Pearcy; Perry Farrel; Nicko McBrain e Adrian Smith; Lars Ulrich; Wayne Hussey e Craig Adams; Mike Peters; Jeff Amment;  Nikki Six e Tommy Lee; Johnny Marr; Linda Perry; Neil Young; Zakk Wylde; Noel Gallagher; integrantes do Great White, Primal Scream, Happy Mondays, Stone Roses e New Order; Boy George; Bob Geldoff; Bananarama; James Lavelle e DJ Shadow (do UNKLE); hide (do Zilch); J (do Luna Sea); DJ Witchman; DJ Messiah; DJ Youth; DJ Foetus. E foi com um DJ, o DJ Black Asteroid, com quem Ian teve sua mais recente participação especial em uma música, lançada em 2024.

A lista de amigos admiradores é grande e nela podem ser incluídas personalidades de outras áreas culturais e desportivas, como: Liv Tyler; Nicolas Cage; Kevin Staab; Kostas Seremetis; Matthew McConaughey (quem tocou bongo em um show da banda); Simon John Pegg;Carmen Electra; Julia Roberts; Ice T; Demi Lovato; Cristina Aguillera; Yul Vazquez (quem fez um dueto acústico, com violão e voz de nome SOFT REVOLT ); Jason Statan; David Beckham; Michael Douglas; Misha Barton; Cristina Applegate; Mickey Rourke e a sempre estonteante Angelina Jolie.

Brasil, Argentina, Colômbia, Chile e Mexico

Para a turnê pela América Latina, os valores cobrados pelos ingressos no Brasil estão absurdamente caros e desproporcionais com os cobrados durante 2024. Isso porque, no início da turnê dos 40 anos, na Espanha e Portugal, os ingressos custavam 35 euros; já no Brasil o ingresso de pista está sendo vendido a um preço equivalente a 190 euros. Sem dúvida, um ponto muito desagradável e que não pode ser esquecido, pois afastará parte do público da banda.

A relação entre Curitiba e a banda

Sobre Curitiba, uma curiosidade especial e que Ray Manzareck, poeta, vocalista um dos maiores tecladistas da história do rock e, também fundador do The Doors, declarou em entrevista durante turnê, ao lado de Ian Astbury, em São Paulo (2003): ele disse ter parentes Manzareck, integrantes da comunidade judaica, que viveram na capital paranaense.

Nesta sexta passagem por Curitiba, uma cidade onde Ian Astbury e Billy Duffy gostam de se apresentar (a dupla já passou pelas terras curitibanas em 2000, 2006, 2008, 2011 e 2017), durante cerca de uma hora e vinte minutos é esperado que o setlist continue basicamente com 17 músicas que vinham sendo tocadas em 2024.

Curitiba é a única capital do país, fora do eixo Rio-São Paulo, a receber esta grandiosa banda, o The Cult. Para quem ainda não conhece, pode esperar um uma mistura fina de Led Zeppelin, Sex Pistols, The Doors, David Bowie, The Who, Stooges e AC/DC.

Os paranaenses e fãs de todo Brasil que vão estar presentes, com certeza, vão presenciar uma aula de hard rock executada por músicos da mais alta linhagem do rock and roll clássico mundial.

O que esperar do show?

Provavelmente, um set onde deverão ter composições de vários discos da banda e, evidentemente, não faltarão os clássicos da tríade de discos dos anos 80 (“Love”, “Eletric” e “Sonic Temple”), com “Wild Flower”, “Rain” e “Fire Woman”. E, é claro, as duas músicas mais tocadas na história da banda: “Love Removal Machine” e “She Sells Sanctuary”.

Além delas, a novata “Mirror”, uma música do mais recente disco da banda, intitulado “Under the Midnight Sun”. Como a banda já deu sinais de que pode estar trabalhando canções para um novo disco, não seria totalmente surpresa a inclusão de uma nova música nos shows em territórios sul-americanos.

Na turnê de 2024, Ian e Duffy voltaram a tocar uma música do disco “Beyond Good and Evil”, de 2001. Trata-se da faixa de abertura, “War (The Process)”. Duas décadas depois, o clima mundial parece propício para a inclusão da música nos shows.

E o que esperar do show? Os presentes podem esperar que nos primeiros acordes, a impressão de que choverá flores no Live Curitiba. Mais do que isto Bom, ao final eles “entregarão” o Santuário. Os fãs devem focar na sua própria diversão em vez de priorizar ficar tirando fotos ou registros em vídeo, pode ser uma alternativa interessante para compreender melhor o que Astbury quis dizer em 2009, no show no Royal Albert Hall, em Londres: [O poderoso acordo, entre a banda e os fãs da plateia] é “dar vida às palavras”.

Se os anos 80’ não podem voltar, não significa que você não possa se divertir agindo de forma mais analógica do que digital.