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Representantes do Sindimoc fizeram ato na Câmara (Foto: Luís Pedruco)

“Quantos vão precisar morrer pra ser feito algo?” Com essa frase, o representante do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) abriu o diálogo com os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), na manhã desta terça-feira (29). O protesto reuniu motoristas e cobradores do transporte coletivo com o objetivo de chamar atenção das autoridades para os riscos enfrentados diariamente pelos trabalhadores do setor.

A manifestação aconteceu após a morte de um adolescente de 15 anos, no último sábado (26), no bairro Xaxim. O jovem se feriu gravemente ao tentar pegar “rabeira” em um ônibus biarticulado e, mesmo com a tentativa do motorista de evitar o impacto, não resistiu e faleceu após ser encaminhado ao Hospital do Trabalhador.

Representantes do Sindimoc enfatizaram que a culpa por tragédias como essa não pode recair sobre os profissionais do transporte, mas sim sobre as condições e comportamentos de risco que colocam em perigo tanto passageiros quanto trabalhadores. Segundo eles, menores de idade frequentemente se arriscam ao pegar carona na parte externa dos ônibus e também ao utilizar bicicletas nas canaletas exclusivas para o tráfego coletivo, prática considerada uma das principais causas de acidentes.

O sindicato cobra ações urgentes das prefeituras e órgãos públicos, incluindo a criação de leis que proíbam a circulação de bicicletas nas canaletas. A intenção é pressionar o poder público a implementar medidas efetivas que aumentem a segurança no sistema de transporte e previnam novas tragédias.

Resposta da Câmara

O presidente da Câmara, Tico Kuzma (PSD), conversou com representantes do Sindimoc. “Nós estamos tramitando uma lei que pode ser aprovada ainda em maio e regulamentada pela prefeitura em 60, 90 dias. Mas nós estamos aqui com a URBS e com prefeitura, pedindo esforços das fiscalizações, principalmente nos finais de semana, para que tenham mais ações da Guarda Municipal, Setran e PM”, disse Kuzma.

Em 20 de março, o projeto de lei que estabelece uma multa de R$ 500 para quem for flagrado praticando a ação de “pegar rabeira” em Curitiba avançou na Câmara Municipal. A prática, que ocorre quando ciclistas se agarram a ônibus, caminhões ou carros para serem arrastados, é considerada perigosa e ilegal. Se o projeto for aprovado, além da multa, as bicicletas dos infratores serão apreendidas e só poderão ser retiradas com o pagamento da multa. Se o infrator for menor de idade, a Promotoria da Criança e do Adolescente será acionada.

Prefeitura reforça fiscalização

A Prefeitura disse que vai reforçar a fiscalização para coibir a prática de pegar “rabeira” em ônibus do transporte público e outras atitudes perigosas nas canaletas. “Nós vamos reforçar ainda mais a fiscalização e campanhas de conscientização. É muito importante a conversa dentro de casa também, dos familiares com os jovens, para que isso não aconteça. Infelizmente esse adolescente acabou falecendo, minha total solidariedade à família. Era a terceira vez que ele estava numa rabeira, já tinha sofrido dois outros acidentes. Não podemos permitir que isso aconteça”, disse o prefeito Eduardo Pimentel na tarde desta segunda-feira (28).

A intenção é conscientizar a população não apenas sobre as chamadas rabeiras, mas também sobre o perigo de usar a canaleta para caminhar, correr, pedalar ou tirar fotos. Nesta época do ano, por exemplo, muita gente vai à Rua a Deputado Heitor Alencar Furtado, no bairro Mossunguê, para fazer registros das árvores avermelhadas, que são uma atração da capital. Alguns chegam a deitar na canaleta para fazer fotos. “Foto na calçada é tão bonita quanto na canaleta”, declarou o prefeito.

70 acidentes em 2024 nas canaletas de ônibus

Levantamento realizado pela Urbanização de Curitiba (Urbs) mostra que, no ano passado, houve 70 acidentes nas canaletas, envolvendo ciclistas e pedestres, volume 21% superior ao de 2023. De 1 de janeiro até 27 de abril ano, já foram 16 acidentes com ciclistas e pedestres nas canaletas da cidade, com 18 feridos e uma morte. No mesmo período do ano passado foram 21 acidentes envolvendo pedestres e ciclistas, com 18 feridos.

Os principais motivos de acidentes nesses espaços são ações proibidas: caminhar, correr ou pedalar na canaleta e pegar “rabeira” nos veículos, além de desatenção, causada principalmente pelo uso do celular ou fones de ouvido, e atravessar a rua fora do local apropriado.

“O impacto de um ônibus expresso ou um biarticulado é brutal, mesmo em velocidade baixa. Nós controlamos a velocidade dos expressos a 30 km por hora nas saídas de terminais e em frente às escolas, porém, ao longo da canaleta, eles podem chegar até 50 km por hora. Então, as pessoas precisam evitar andar, caminhar ou se exercitar nas canaletas e pegar rabeira nos veículos”, diz o presidente da Urbs, Ogeny Pedro Maia Neto.