08Superman2
David Corenswet como Superman. Foto: divulgação / DC / Warner

Superman é Clark Kent. Ao contrário de Bruce Wayne, que coloca a roupa de Batman, ou de Tony Stark, que coloca a armadura de Homem de Ferro, Superman é o kriptoniano superpoderoso que, para andar pela multidão, coloca a roupa de um homem comum. Contudo, o herói tem um lado humano. Ainda bem. Do contrário, um alien virtualmente invulnerável estaria andando por aí pronto para colocar o planeta à sua mercê. E é esse lado humano que norteia ‘Superman’, filme de James Gunn, que estreia nesta quinta-feira (10) em Curitiba.

A dúvida que surge: precisamos de outro filme de Superman, doze anos depois de ‘Homem de Aço’ e dos filmes subsequentes com Henry Cavill no papel principal? Para James Gunn, que recebeu da Warner o controle do universo DC nos cinemas, a resposta é “sim”. ‘Homem de Aço‘ até contextualiza bem o herói para os tempos mais atuais, quando já não se aceita bem um alien entre os humanos. Mas foi feito debaixo de uma estética que funciona para o Batman, sombrio por natureza, não para o Superman, colorido por natureza. Seu protagonista é amargurado. Nesse contexto, o “Superman’ de Gunn está recheado de acertos.

Trilha

O primeiro acerto ocorre antes mesmo da primeira imagem: ainda com a tela vazia, pode-se ouvir os acordes da trilha histórica de John Williams para o ‘Superman’ de 1978. Nenhuma música representa tão bem esse herói. E ela surge em meio a explicações para contextualizar o filme – e por que o herói aparece derrotado logo de cara (esse spoiler está no trailer).

O herói

Outro acerto versa sobre o próprio herói, agora vivido por David Corenswet. E não é só pela roupa mais clara e pela clássica cueca vermelha por cima da calça – o próprio ator pediu para resgatar esse item, descartado nos quadrinhos mais atuais. Em suas batalhas, o Superman está sempre preocupado em evitar a perda de vidas. Se a narrativa do filme o coloca em xeque, criticando-o por ter entrado em uma nação soberana para acabar com uma guerra, a resposta salta como óbvia: “Eu estava salvando vidas”. Nos filmes desde 2013, Superman brigava quebrando tudo, sem pensar muito em consequências para o povo em volta. Demonstrava pouca gentileza. E as suas cenas de salvamentos eram rápidas e descartáveis.

Ambiente

Mais um acerto: a origem e o ambiente do herói. Não precisava recontar toda a odisseia da explosão de Krypton e a vinda do bebê Kal-El para a Terra, ou sua adoção por pais humanos, ou como ele conheceu Lois Lane, ou como ele virou o alvo de Lex Luthor, ou explicar a Fortaleza da Solidão. Gunn deu rápidas pinceladas sobre isso durante o filme e partiu logo para a ação.

Lois Lane

Um quarto acerto: Rachel Brosnahan como Lois Lane. Não existe mais a jornalista-donzela-indefesa que precisa que o herói a salve duas ou três vezes durante o filme. Aqui, Lois é dona de seu nariz. Capaz de peitar o Superman quando preciso – e muito melhor jornalista que Clark Kent. Personagem forte mesmo.

Lex Luthor

O quinto acerto é Nicholas Hoult como Lex Luthor. Não se trata de um vilão que é pouco mais que um vaidoso especulador imobiliário (com o Luthor de Gene Hackman no filme clássico de 1978). Ou um piá de prédio metido a cientista (como Jesse Eisenberg, em ‘Batman vs Superman’, de 2016). Hoult entrega um Lex Luthor inteligente, líder, com ampla influência entre a mídia e entre o governo norte-americano. Que domina a tecnologia e a usa em seu favor. Por isso mesmo, potencialmente perigoso até mesmo para alguém com força quase infinita.

Mais quatro heróis

Fora isso, a história traz mais quatro heróis: o arrogante Lanterna Verde Guy Gardner (Nathan Fillon), a enérgica Muher-Gavião (Isabela Merced), o genial Sr. Incrível (Edi Gathedi) e o misterioso Metamorfo (Anthony Carrigan). James Gunn também imprime um pouco de seu estilo cômico – em muitos momentos, personificado pelo cão Krypto. E traz surpresas escondidas. Como a Sala da Justiça do desenho dos ‘Superamigos’, dos anos 1970. Ou Bradley Cooper (de ‘Nasce uma Estrela’) como Jor-El. Ou Sean Gunn (de ‘Guardiões da Galáxia’) como Maxwell Lord – este, com grandes chances de ser o antagonista num próximo filme. Ainda há duas cenas pós-créditos.

Para não dizer que tudo é colorido, lindo e cheiroso, o roteiro escrito pelo próprio James Gunn traz algumas críticas ferozes. Há questões políticas (invasão de um país pelo outro com os Estados Unidos se intrometendo), críticas à sociedade de consumo (como o hábito de fazer selfies em momentos de perigo), citação direta às fake News – Lex Luthor usa a desinformação para acabar com a reputação de Superman – e exposição das mudanças de comportamento ditadas pela tecnologia, como o “cancelamento”. Dito isso, o Superman é, na verdade, o que James Gunn sempre se propôs a mostrar: um símbolo de esperança e humanidade para uma sociedade que cada vez mais dá provas que não consegue conviver consigo mesma.