O final do ano se aproxima e a boa notícia é que uma parcela considerável da população paranaense já está imunizada contra a Covid-19. Segundo dados da Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa-PR), compilados pelo Bem Paraná, até a última terça-feira (28 de dezembro) 75,52% dos moradores do estado já haviam completado o ciclo vacinal, ou seja, tomaram as duas doses ou a dose única do imunizante contra a doença pandêmica.
Apesar da boa cobertura vacinal no estado, chama a atenção as desigualdades na vacinação contra a Covid-19. Por exemplo, o município de Pontal do Paraná, no litoral paranaense, é aquele que apresenta a maior cobertura vacinal, de 98,65%. Com uma população vacinável estimada em 20.920 pessoas, a cidade já viu 20.637 moradores completarem o ciclo vacinal (duas doses ou dose única).
Por outro lado, no município de Marquinho, na região central do estado, a cobertura vacinal até a última terça-feira era de apenas 48,20%, com 2.401 dos 4.981 moradores daquela cidade tendo tomado as duas doses ou a dose única da vacina.
Existe no Paraná, então, um cenário no qual apenas 55 das 399 cidades (ou 13,8% do total) já conseguiram atingir a cobertura vacinal considerada ideal, com pelo menos 80% da população vacinável imunizada. Curitiba está dentro dessa lista, com o 80,8% da população imunizada: 1.415.595 pessoas já completaram o ciclo vacinal, dentro de um contingente de 1.751.907 vacináveis.
Além disso, em outras 176 cidades (44,1% do total) a cobertura vacinal varia entre 70 e 79%, enquanto em outras 17 (4,3%) fica bem distante do ideal, abaixo de 60%.
Raio-x
Os cinco municípios com maior cobertura vacinal no Paraná
Pontal do Paraná 98,65%
Floresta 96,27%
Porto Rico 95,65%
Maringá 90,99%
Douradina 89,24%
Os cinco municípios com menor cobertura vacinal no Paraná
Marquinho 48,20%
Laranjal 51,19%
Barbosa Ferraz 52,09%
Terra Roxa 52,70%
General Carneiro 54,13%
Vacinação contra a Covid-19 nas Macrorregionais e nas Regionais de Saúde no PR | |||||
Regional/Macrorregional | População | 1ª dose | 2ª dose | Dose única | Cobertura |
Leste | 5.004.944 | 4.318.265 | 3.621.879 | 159.696 | 75,56% |
Paranaguá | 265.392 | 245.359 | 203.434 | 7.933 | 79,64% |
Metropolitana (Curitiba) | 3.223.836 | 2.843.054 | 2.437.041 | 97.175 | 78,61% |
Ponta Grossa | 575.463 | 477.623 | 372.734 | 23.634 | 68,88% |
Irati | 160.962 | 132.140 | 107.515 | 4.478 | 69,58% |
Guarapuava | 441.070 | 346.307 | 275.102 | 13.552 | 65,44% |
União da Vitória | 165.299 | 131.338 | 111.717 | 5.759 | 71,07% |
Telêmaco Borba | 172.922 | 142.444 | 114.336 | 7.165 | 70,26% |
Oeste | 1.838.336 | 1.600.195 | 1.332.200 | 57.898 | 75,62% |
Pato Branco | 249.793 | 218.002 | 179.693 | 6.336 | 74,47% |
Francisco Beltrão | 337.703 | 288.280 | 244.491 | 9.633 | 75,25% |
Foz do Iguaçu | 388.795 | 341.457 | 283.858 | 11.430 | 75,95% |
Cascavel | 503.385 | 431.568 | 357.832 | 19.954 | 75,05% |
Toledo | 358.660 | 320.888 | 266.326 | 10.545 | 77,20% |
Norte | 1.861.653 | 1.563.402 | 1.320.091 | 57.538 | 74,00% |
Apucarana | 346.972 | 305.617 | 252.516 | 13.579 | 76,69% |
Londrina | 871.267 | 745.041 | 636.247 | 24.983 | 75,89% |
Cornélio Procópio | 225.966 | 176.731 | 151.585 | 6.695 | 70,05% |
Jacarezinho | 278.111 | 227.980 | 187.808 | 8.901 | 70,73% |
Ivaiporã | 139.337 | 108.033 | 91.935 | 3.380 | 68,41% |
Noroeste | 1.735.598 | 1.547.148 | 1.284.725 | 50.438 | 76,93% |
Campo Mourão | 334.125 | 269.437 | 226.862 | 8.601 | 70,47% |
Umuarama | 265.092 | 223.305 | 184.437 | 6.624 | 72,07% |
Cianorte | 142.433 | 122.009 | 106.203 | 5.443 | 78,38% |
Paranavaí | 260.544 | 216.339 | 178.883 | 7.647 | 71,59% |
Maringá | 733.404 | 716.058 | 588.340 | 22.123 | 83,24% |
PARANÁ (total) | 10.440.531 | 9.029.010 | 7.558.895 | 325.570 | 75,52% |
Questões políticas, culturais e econômicas explicam desigualdade
O Paraná é dividido em quatro macrorregionais (Leste, Oeste, Norte e Noroeste), que por sua vez são subdivididas em 22 regionais de Saúde. E embora entre as macrorregionais a diferença na cobertura vacinal possa parecer pequena (variando entre 74%, no Norte, e 76,93%, no Noroeste), quando analisadas as informações por regionais a desigualdade vacinal fica mais evidente.
As regionais com maior cobertura vacinal, por exemplo, são as de Maringá (83,24%), Paranaguá (79,64%) e Metropolitana/Curitiba (78,61%). Por outro lado, as regionais de Guarapuava (65,44%), Ivaiporã (68,41%) e Ponta Grossa (68,88%) aparecem na outra ponta, com as menores coberturas vacinais do estado.
De acordo com o infectologista Marcelo Ducroquet, que é professor do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), tal desigualdade na cobertura vacinal pode ser explicada, de modo geral, por questões como o desenvolvimento econômico e social de uma determinada localidade, por aspectos culturais e até mesmo por questões políticas e de ideologia.
“O desenvolvimento econômico, social e cultural é um fator conhecido para a vacinação [adesão ou não] de modo geral. Outra impressão que tenho, e que se confirmou nos Estados Unidos, por exemplo, é orientação política. Nos EUA, por exemplo, os estados republicanos tem cobertura vacinal bem menor que os estados democratas.
Não sei se isso vai se repetir aqui, mas quem é mais alinhado ao governo Bolsonaro tende a ser mais resistente à vacina. E pelo que converso com as pessoas, tenho a impressão que isso é um fator importante.
Agora, se explica uma diferença tão grande [como uma cobertura de 48% em Marquinho para outra de 98,65% em Pontal do Paraná]… Não sei se temos municípios tão polarizados politicamente, a aí temos de considerar fatores como o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]”, aponta o especialista.