Uma das passagens mais contundentes da dramaturgia universal, a tragédia Ifigênia em Áulis, de Eurípedes é o ponto de partida de IFIGÊNIA, a nova montagem da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico. O espetáculo, que chega à Curitiba para três apresentações – de 25 a 27 de julho, quinta-feira a sábado às 20h30, no Teatro José Maria Santos do Centro Cultural Teatro Guaíra – tem direção de Marcelo Lazzaratto e dramaturgia de Cássio Pires. Na fábula, Agamêmnon, comandante das forças gregas que se preparam para atacar Tróia, é compelido a sacrificar sua filha Ifigênia para que a deusa Ártemis cesse o longo período sem ventos que impede o embarque dos gregos. A inesperada chegada de Clitemnestra em companhia da filha e a intervenção de Aquiles, alheio à trama, complicam seus planos.

A montagem de IFIGÊNIA segue com a pesquisa da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico sobre o homem contemporâneo e a sociedade e faz parte do projeto Cia. Elevador e o Trágico. O diretor Marcelo Lazzaratto conta que o texto de Eurípedes foi escolhido como ponto de partida do novo espetáculo devido à sua estrutura formal e temática, onde se pode fazer emergir claramente os questionamentos e tensões entre coro e protagonista, entre indivíduo e sociedade.

Nessa tragédia de Eurípedes, vemos com clareza como o individuo, além das vontades dos deuses usa de sua consciência para escolher o seu destino. Ifigênia compreende a função e o valor de sua vida quando percebe a necessidade de sua nação e se entrega ao sacrifício. Eurípedes mostra o embate interior que a protagonista sofre entre seu desejo individual e a necessidade do coletivo, antevendo o homem como senhor de suas ações, explica o diretor.

Campo de visão e o improviso em cena
Fundada há 12 anos, a Cia. Elevador de Teatro Panorâmico leva aos palcos pela primeira vez uma tragédia. Para Marcelo Lazzaratto, que queria encenar uma tragédia onde pudesse usar o Campo de Visão, um sistema improvisacional que vem sendo desenvolvido por ele há 20 anos, a maturidade do grupo para realizar a montagem, já era latente. Também optamos por Ifigênia em Áulis pela abordagem do indivíduo e coletivo que a obra traz e que nesse momento é a nossa base de pesquisa, conta ele.

Nas oito cenas de IFIGÊNIA os atores trabalham o tempo inteiro com o sistema do Campo de Visão. A montagem apresenta um coro de nove atores que podem fazer qualquer personagem durante o espetáculo. É um jogo coletivo com ações individuais e muita sintonia, afirma Lazzaratto. A trilha do espetáculo também é improvisada em cena por dois músicos, juntamente com a iluminação.

Dramaturgia, a reinvenção da fábula
Em sua segunda parceria com a Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, a primeira foi em 2006 com Peça de Elevador, o dramaturgo Cássio Pires afirma que o texto de IFIGÊNIA não é uma adaptação. Parto do texto de Eurípedes e vou para uma reinvenção da fábula. Também não desconstruí o texto, pois a história está toda lá, onde dou uma ênfase maior para a narrativa, explica ele.

Cássio usou dois eixos para a dramaturgia. Um com foco no Campo de Visão para que os atores pudessem improvisar e outro na reflexão entre o coletivo e indivíduo. O maior desafio foi fazer uma dramaturgia que encontrasse a obra de Eurípedes sem que o material dramatúrgico atrapalhasse os atores, mas que os estimulassem a improvisar, conta o dramaturgo.

Areia, sol e tapetes
Cenário e figurinos assinados por Lu Bueno trazem para IFIGÊNIA tons terra, além de amarelo e vermelho. No centro, um espaço vazio rodeado por areia e tapetes, além de alguns objetos criados especialmente para a montagem que podem lembrar um guarda sol ou um cogumelo.

Outro destaque do cenário é uma espiral que representa o sol na qual são projetadas imagens, alterando seu significado a cada momento do espetáculo. Da mesma espiral cai uma fina areia até o início do espetáculo. Durante a apresentação a areia não cai, fazendo uma analogia com a peça, um momento de suspensão, sem vento. Ao final do espetáculo, a areia volta a cair.

Workshop gratuito de Campo de Visão
No dia 24 de julho, quarta-feira, das 19 às 22 horas, a Cia. Elevador de Teatro Panorâmico ministra o workshop Campo de Visão com o objetivo de instrumentalizar atores, bailarinos e performers por meio dos métodos básicos da pesquisa do grupo. As inscrições gratuitas (30 vagas – maiores de 16 anos) podem ser feitas pelo e-mail [email protected] (até o dia 23 de julho). Todos os participantes ganharão o livro Campo de Visão: exercício e linguagem cênica, do diretor Marcelo Lazzaratto.