No Dia Mundial de Proteção às Florestas, hoje, o Paraná recebe uma notícia nada boa. A Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), divulgou a lista de 27 árvores mais ameaçadas em todo o mundo. A Araucária é a única indicada como criticamente ameaçada em lista internacional. A espécie já perdeu 97% da área original e a variabilidade genética está comprometida, segundo pesquisadores. A cobertura destas árvores correspondia a cerca de 40% da floresta ombrófila mista, que compõe o bioma da mata atlântica.
A Araucaria angustifolia, conhecida como pinheiro do Paraná, aparece também em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Encontrada em regiões com altitude a partir de 500 metros, a araucária pode atingir até 40 metros de altura e é responsável por proteger plantas menores, que precisam de áreas de sombra, e serve como base para a alimentação de roedores e pássaros. No inverno, o pinhão —semente da araucária —é a única fonte de alimento para várias espécies e de renda de muitas famílias. A legislação ambiental brasileira proíbe o corte das araucárias, o que, segundo especialistas, ironicamente acaba prejudicando o desenvolvimento da espécie. Muitos produtores rurais cortam as araucárias quando pequenas, porque acham que não poderão usar a área do entorno se existir uma planta desta espécie.
As mudanças climáticas têm dificultado a sobrevivência das coníferas pelo mundo. Segundo o levantamento, poragas e doenças estão se tornando cada vez mais uma ameaça, especialmente em áreas que experimentam eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, ou em áreas onde as temperaturas médias estão subindo. No Brasil, no entanto, a principal causa do desmatamento no Brasil é a conversão das áreas de floresta em pastagens ou sua utilização para a agricultura ou plantio de florestas de pinus e eucaliptos para a indústria de papel e celulose, destaca Martinelli. O estudo completo está no site www.iucnredlist.org
Secretaria do Meio Ambiente — O último diagnóstico oficial dos remanescentes de floresta com Araucária no Paraná, publicado em 2004, mostra a situação das florestas em estágio inicial de conservação totalizam 14,04% da área do bioma no Estado. As florestas com araucárias em estágio médio de sucessão, que passaram por uma degradação intensa, mas ainda guardam um pouco da diversidade florística e de formas de vida, representam 14,47% da área do bioma no Estado. Já as florestas em estágio avançado de sucessão, que representam as florestas de maior diversidade, correspondem a apenas 0,8% da área total de florestas com Araucárias no Paraná.
INCENTIVOS
. 5 reais por muda a cada ano. É o que cada produtor rural que cultiva pinheiro ganha
. 21 anos é o período de pagamento aos proprietários Depois deste período,já que não se trata de uma árvore nativa, ela se torna lucrativa.
. 40 metros de altura pode atingir uma Araucária, que garante sombra
UM TERÇO DAS ESPÉCIES AMEAÇADAS É CONÍFERA
No total, nove espécies de coníferas brasileiras integram a Lista Vermelha da IUCN. Além da araucária, outras duas são citadas como ameaçadas: a Podocarpus sellowii e a Podocarpus transiens, popularmente conhecidos como pinheiros-bravos. Elas ocorrem na região Sul e Sudeste. A segunda também está presente na Bahia e Goiás, conforme Gustavo Martinelli, coordenador do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNC Flora).De acordo com o levantamento internacional, 34% dos cedros, ciprestes, abetos e outras coníferas estão ameaçadas de extinção – aumento de 4% em comparação com a última avaliação, feita em 1998. Caracterizadas por suas copas em forma de cone, folhas pontiagudas e bastante escuras, as coníferas são consideradas espécies-chave para diferentes ecossistemas em todo o mundo e também na captura do carbono no planeta. Apesar de presentes no hemisfério norte e em regiões frias ou temperadas, várias espécies apresentam crítico estado de conservação.
CRIAÇÃO DE RENDA
Projeto estimula plantio de mudas
A Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos incentiva o plantio e a conservação da araucária, árvore-símbolo do Paraná e ameaçada de extinção, contribuindo para redução do gás carbônico na atmosfera. O projeto Estrada com Araucárias garantiu, em um ano, o plantio de cerca de 10 mil árvores em 46 propriedades rurais na Lapa e em Irati, e renda para os proprietários.
Esses dois municípios foram os primeiros a aderir ao projeto, desenvolvido em parceria com a Embrapa Florestas.
É previstos plantio de araucárias nas divisas entre propriedades e estradas federais, estaduais, municipais e particulares, desde que fora da faixa de domínio da estrada. O termo de cooperação é assinado pela Coordenadoria de Mudanças Climáticas, da Secretaria e Prefeitura.
Além de recuperar a vegetação da propriedade, o proprietário é remunerado por muda plantada por empresas que queiram compensar emissões de gases de efeito estufa. Os pagamentos efetuados por estas empresas aos proprietários rurais são as fontes de recursos para implantação e manutenção do projeto.
Já os municípios participantes do projeto são beneficiados com a recuperação de um ecossistema ameaçado, captura de gás carbônico, melhoria do ciclo hidrológico, embelezamento, melhoria do clima local, aumento da biodiversidade, turismo rural e aumento da consciência ambiental.
O Estrada com Araucárias pode ser financiado por qualquer empresa do setor privado. A Embrapa Florestas atua no mapeamento das propriedades e orientação dos proprietários. A iniciativa também conta com o apoio do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que fornece as mudas de araucárias, além de universidades e escolas agrícolas.
O secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Luiz Eduardo Cheida, explica que a meta é ampliar o projeto nos próximos meses. A ideia é envolver o maior número possível de municípios situados em regiões propícias para o cultivo da araucária, com prioridade para aqueles com baixo IDH, afirma Cheida. As novas árvores ajudam a recompor as formações ciliares, reconstituindo os corredores ecológicos e oferecendo condições propícias à fauna silvestre, ressalta Cheida.
Rosa Fiesrzt tem 250 pinheiros plantados em sua propriedade pelo projeto. Além da remuneração pelo cultivo das árvores, pretendemos aumentar a nossa renda daqui alguns anos com a venda do pinhão, projeta. Com 16 alqueires, a propriedade da família, na área rural da Lapa, cultiva verduras e frutas. Rosa ainda produz geleias, frutas cristalizadas e molhos. Toda a produção é comercializada na Lapa e em cidade vizinhas. Além de Rosa, outros 40 produtores rurais da Lapa são remunerados pelo projeto. No ano passado, eles receberam juntos mais de R$ 40 mil. A Secretaria do Meio Ambiente plantou 8 mil mudas de pinheiros no município.