Quando a 81ª. cerimônia do Oscar começar a ser transmitida na noite deste domingo, o espectador poderá contar como certo que: 1) Haverá desfile de belas atrizes no tapete vermelho, alguma em modelo caríssimo e gosto duvidoso; 2) vencedores vão subir ao palco, chorar e fazer longuíssimos agradecimentos (o que contribui para alongar a transmissão); 3 – O Melhor filme de 2008 (salvo surpresas de última hora) será Quem quer ser um Milionário? O maior prêmio do cinema pipoca tenta, em sua edição de 2009, recuperar uma audiência perdida nos últimos anos. Em 1998, quando Titanic ganhou tudo a que tinha direito, o show registrou quase 60 milhões de espectadores, quase o dobro dos 30 milhões do não passado, quando o filme dos irmãos Cohen, Onde os Fracos não tem vez, levou a estatueta de filme e direção. Para nós, a antecipação da cerimônia fez com que a festa caísse em pleno feriado de Carnaval, quando a maioria das pessoas está viajando. Para os que ficarem em casa, a única opção será a transmissão ao vivo pelo canal pago TNT, às 22h. A Globo transmite flashes durante o desfile do Rio de Janeiro. A cerimônia deste ano será conduzida pelo ator Hugh Jackman.


Apesar de sua duração extensa demais, dos musicais bregas e das piadas que fazem sentido apenas para o público americano, o Oscar continua atraindo a atenção mundo afora. Falem bem ou falem mal, não há cinéfilo de carteirinha que nesta época faça suas apostas. Sem contar que a premiação, sempre tradicional, às vezes surpreende e indica de certa forma o pensamento e as tendências da maior indústria mundial de cinema. O primeiro Oscar da era Obama tem importância especial. A escolha dos membros da academia tende a refletir os novos valores pregados pelo primeiro presidente afro-americano eleito pelo voto direto em cima de promessas como diálogo, tolerância e respeito às diferenças.


Daí que é muito difícil que Quem quer ser um Milionário? não leve para casa o mais cobiçado dos prêmios, o de melhor filme. Apesar de menos indicações (10) que O Curioso Caso de Benjamin Button, com 13, o filme de Danny Boyle faturou todos os prêmios possíveis onde foi exibido, inclusive o Globo de Ouro, considerado uma prévia do Oscar. Sem nenhum figurão em seu elenco, o filme, rodado em locações na Índia, é um conto de fadas contemporâneo em torno da superação da miséria, com direito a trama de amor juvenil. A trajetória de Jamal Malik, da infância miserável à fama e riqueza com a participação em um programa de perguntas e respostas, é narrada em tintas fortes, que expõem uma Índia bem diferente dos guias de turismo. Sobretudo para o público americano, que pode se chocar com o resultado cruel do regime de castas associado à globalização. Ao articular o tom de denúncia com uma fábula de superação que conta com a sorte, o filme construiu um apelo irresistível.


Dos outros indicados a Melhor Filme, o único que teria alguma chance de desbanca-lo seria o belíssimo e emocionante O Curioso Caso de Benjamin Button. A história do homem que nasce velho e vai rejuvenescendo é um daqueles filmes para ser lembrado durante muito tempo, porém deu azar de topar pela frente com uma produção que chama a atenção para o outro. E tudo que os americanos querem agora, depois de tirar o pé da lama da crise econômica, é deixar para trás o radicalismo e a arrogância dos oito anos de herança do governo Bush.


Ainda na categoria de Melhor Filme concorrem, sem chances, três produções: Milk, Frost/Nixon e O Leitor. Milk é o retrato do ativista político Harvey Milk, que nos anos 70 foi o primeiro homossexual confesso a vencer uma eleição para um cargo público nos Estados Unidos. É um filme honesto, que não endeusa seus biografado, mas fala mais às platéias americanas. É o mesmo problema de Frost/Nixon, que reconstitui os bastidores das entrevistas históricas que o ex-presidente Richard Nixon concedeu ao apresentador de TV pop David Frost, em 1976. Ambos os filmes carecem de uma alma, de um conflito que os tornem mais palatáveis a platéias fora dos Estados Unidos.


O Leitor, sobre o romance entre uma ex-guarda de campo de concentração na Alemanha nazista e seu romance com um adolescente, retoma o velho tema da culpa sobre os horrores da Guerra. É sensível, perturbador, mas não tem chances, ao menos nas categorias principais.