Em Ascot, a 40 minutos de Londres, no último sábado, dia 23 de março, foi encontrado no banheiro da mansão que permanecia no nome de sua segunda esposa, Galina, o magnata russo Boris Berezovsky enforcado segundo a Polícia do Vale do Tâmisa que não encontrou sinais de influência externa. Ela notou marcas em torno do pescoço e Nikolai Glushkov, outro exilado russo e muito amigo da família comentou: nunca acreditarei em morte natural de Boris. Ele era um homem cheio de vida. Não obstante, é verdade que ele atravessava uma fase de forte depressão e não era para menos. A justiça britânica levou-o à ruína ao congelar seus ativos e condená-lo a pagar cerca de 100 milhões de libras esterlinas a seu ex-sócio Roman Abramovich, o poderoso dono do clube de futebol inglês Chelsea. Segundo o jornal londrino The Guardian, a imprensa de Moscou está cheia de especulações porque no fundo todos sabem, por um lado, que não há fortuna feita na Rússia sem apoio de gente do governo e ligação com as máfias e, por outro lado, que opositores e desafetos pessoais de Putin e da velha KGB terminam desterrados, falidos, sem amigos e, ultimamente, mortos. Berezovsky, nascido há 67 anos em Moscou, filho de um engenheiro israelita, começou sua carreira de milionário vendendo carros Lada e depois aviões da Aeroflot. Considerando que política é o melhor investimento em 1993 aproximou-se de Tatyana, a filha do então presidente Boris Yeltsin, tornando-se conselheiro de finanças da família e depois diretor do Conselho de Segurança nacional e Secretário Executivo da poderosa Comunidade dos Estados Independentes (sucessora da URSS). Sendo, então, o homem mais rico do país, financiou a campanha de reeleição de Yeltsin. Uniu-se às gangues da Chechênia, mas sua sorte começou a mudar com a crise do rublo e a bancarrota do estado russo ao final da década de 1990. Foi o portador (em nome de Yeltsin) do convite a Vladimir Putin que, ao chegar ao poder concordou em não rever as privatizações. Contudo, Boris cometeu o erro de cobrar-lhe os favores prestados, caindo em desgraça até ser obrigado a exilar-se na França e logo na Inglaterra, de onde nunca mais conseguiu retornar. À frente da Fundação Internacional para as Liberdades Civis passou a conduzir uma corrosiva campanha tentando, sem sucesso, desestabilizar as lideranças russas. Mais recentemente foi condenado a 21 anos de prisão e a pagar 4,4 milhões de dólares por desfalque dado na Aeroflot. Nesse ínterim teve seis filhos, dois de cada uma de suas três mulheres, as esposas Nina e Galina, mais Gorbunova, com quem manteve longo relacionamento.No Brasil, Berezovsky tornou-se conhecido pela parceria entre a Media Sports Investment – MSI – e o Corinthians Paulista entre 2004 e 2007. Transações ilegais como as contratações de Carlito Tevez e Mascherano concretizaram-se intermediadas por um laranja iraniano, Kia Joorabchian junto ao presidente do clube Alberto Dualib que ainda hoje responde a processo do Ministério Público por lavagem de dinheiro, estelionato e formação de quadrilha. Em 2007 esquentaram as negociações entre o governo Lula e Berezovsky que pretendia mudar-se para São Paulo com a promessa de investir US$ 10 bilhões para construção do estádio do clube paulista. O negócio teria gorado face às investigações conduzidas pela Polícia Federal.Casos de acidentes fatais não explicados têm se sucedido na capital inglesa. O tenente-coronel Alexander Litvinenko, homem da confiança de Berezovsky, foi assassinado em 2006 por agentes do Kremlin que adicionaram polônio-210 radioativo ao seu chá (as investigações da justiça britânica têm seu epílogo previsto para outubro próximo). Dois outros exilados, vizinhos do magnata e críticos do regime – Alexander Perepilichnyy quando fazia cooper e Badri Patarkatsishvili -, faleceram vitimados por súbitos e inexplicados ataques cardíacos. O banqueiro German Gorbuntson levou seis tiros e sobreviveu acusando elementos vindos de Moscou e ligados ao primeiro escalão de governo central. Mais tarde a polícia política russa prendeu um moldavo como suposto responsável pelo ataque. Alex Goldfarb, autor do livro Morte de um dissidente: o envenenamento de A. Litvinenko, pergunta quem será o próximo, mas reconhece que embora o ex-campeão mundial de xadrez Garry Gasparov seja uma vítima provável, o número de candidatos escasseia a cada novo atentado.
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