A Igreja Católica da Argentina, uma das mais conservadoras da América Latina, já foi acusada diversas vezes de cumplicidade durante os atrozes anos da ditadura militar, entre 1976 e 1983. E o papa Francisco, o argentino jesuíta José Mario Bergoglio, foi denunciado em 2005 pelo jornalista Horacio Verbitsky, que o acusou o então arcebispo de ter contribuído para a detenção de dois sacerdotes.
De acordo com a acusação, Orlando Virgilio Yorio e Francisco Jalics, que desapareceram naquela data, eram companheiros de Bergoglio na Companhia de Jesus. A acusação contra o atual papa foi apresentada em 2005 pelo advogado Marcelo Parrilli, com base em artigos jornalísticos e no livro Igreja e Ditadura, de Emilio Mignone, do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS).
Estas prisões aconteceram em 1976 e a história foi registrada no livro “El Silencio”, de Verbitsky, que obteve nos arquivos do Ministério das Relações Exteriores e Culto da Argentina um documento de 1979 em que o então diretor de Culto Católico do órgão, Anselmo Orcoyen, afirma ter sido informado por Bergoglio das “suspeitas de contato com guerrilheiros” e dos “conflitos de obediência” envolvendo o sacerdote de origem húngara Jalics.
Tais comentários teriam sido feitos oralmente quando Bergoglio entregou por escrito um pedido para renovação do passaporte argentino de Jalics, que, assim como Yorio, foi libertado em 1976.
Bergoglio falou com o jornalista argentino durante a preparação do livro e negou ter colaborado com a ditadura, afirmando que agiu para tentar salvar os sacerdotes enquanto estavam presos na Esma, a Escola de Mecânica da Armada, local de extermínio do regime militar.
Outra acusação contra o papa foi feita pelas Avós da Praça de Maio, organização em defesa dos direitos humanos na Argentina, que acusam Bergoglio de ter tido envolvimento com o roubo de bebês na época da ditadura. O nome do novo papa foi citado no caso do desaparecimento da neta de uma das fundadoras da organização Avós da Praça de Maio, Alicia de la Cuadra.
Em maio do ano passado, a Igreja Católica confirmou pela primeira vez perante a Justiça que, pelo menos desde 1978, sabia que a ditadura militar assassinava as pessoas detidas e desaparecidas, e também que as suas máximas autoridades discutiram com o chefe supremo da ditadura a respeito de como administrar a informação sobre esses crimes (veja mais).
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