Não é preguiça não, caro leitor. Eu gostaria de comentar neste espaço o
ato de violência que ainda me embasbaca, por fútil e despropositada. A
impressionante violência registrada contra a empregada doméstica Sirlei
Dias Carvalho Pinto, no Rio de Janeiro. Li a notícia no fim de semana e
logo me veio à cachola a cena da gangue liderada por Alex (Malcolm
McDowell) no filme “Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick.
Fiquei vexado, no entanto, em batucar qualquer opinião depois de ler o
que escreveu Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo de ontem. Lá de Lisboa,
o jornalista conseguiu traduzir o pensamento cínico do brasileiro que
faz do “canalha” um exemplo a seguir – lembre dos últimos vencedores do
Big Brother e analise.
Rossi compara o pai de um dos jovens agressores à dupla Maluf-Marta no
que, nu e cru, ele resumiu como “crime piores”. Na lógica de Ludovico
Ramalho Bruno, um representante da classe média nacional, colocar seu
filho atrás das grades, “gente que ‘tem estudo, que tem caráter’, é
inaceitável”.
“Claro que existem crimes piores”, continua Rossi. “Poderiam ter matado
Sirlei”. Assim também poderiam ter concedido o privilégio do perdão a
Maluf por ter dito “estupra, mas não mata”, que é um crime pior. E
desculpado a Dona Marta porque mandou que “relaxassem e gozassem” os
que padecem na bagunça dos aeroportos. Que nada.
Diz Rossi: “Foi exatamente de desculpa em desculpa no desprezo das
autoridades para com o público que se chegou ao estágio de barbárie que
o país vive. As frases tanto de Marta como de Maluf são profundamente
emblemáticas desse desprezo. Tão emblemáticas que colaram”.
Segue, portanto, o pai do jovem que espancou e roubou a doméstica, o
exemplo canalha que vem de cima. “Que importa”, emenda Rossi, “os
dramas que anônimos vivem nos aeroportos? Que relaxem e gozem.
Que importa que Sirlei tenha sido vítima de violência inominável?” Ora, mas não há “crimes piores”?
Rebeldes sim…
A notícia de que a bancada do PSDB na Câmara Municipal passaria a
contar com dez vereadores trouxe descontentamento aos tucanos. Uma
reunião foi realizada às pressas para tranqüilizar os macambúzios, que
já ameaçavam abandonar o barco.
…mas com causa
A situação só foi controlada quando chegou a confirmação de que as
porteiras tucanas estavam fechadas para vereadores com mandato. Aí tudo
blue.
Ufa
Apesar da discordância e do fiapo de má vontade, o presidente da
Assembléia, Nelson Justus (DEM) autorizou no prazo de 48 horas a
instalação das comissões especiais que irão investigar, de um lado, os
gastos de publicidade do governo, de outro, o pedágio.
Eu que fiz
Sobre a última, aliás, sussurros de bastidores dão conta de que a CEI
presidida pelo deputado Fábio Camargo (PTB) teria um quê de
encomendada. Camargo diz que é “obra individual”. Então tá.
Vapt-vupt
Corregedor-geral do Senado, Romeu “Eu Quero Absolver” Tuma (DEM-SP),
agiu com impressionante agilidade no caso de Joaquim Roriz (PMDB-DF).
Concluiu que se trata de quebra de decoro parlamentar.
Tudo a ver
Tem gente suspeitando – e não são poucos – que Tuma estaria louco para
arrumar um “boi de piranha” para abafar as acusações contra o amigo
Renan Calheiros. Faz sentido. O boi e a piranha.
Nepotismo 1
Esgotou-se ontem o prazo dado pelo Ministério Público do Paraná para
que o governador Requião exonerasse os parentes pendurados na
administração estadual. Como se tratou de uma recomendação, necas de
pitibiriba.
Nepotismo 2
Termina no próximo dia 5 de julho (quinta-feira da semana que vem), o
prazo dado para que a Assembléia Legislativa entregue a lista de
parentes lotados nos gabinetes dos deputados. O presidente da Casa,
Nelson Justus, garante que a relação sai.
Eu não
Até agora só o líder da oposição, Valdir Rossoni (PSDB), se pronunciou
sobre o caso. E garante que não tem nenhum parente contratado.
ARREMATE
A ministra Marta
“Relaxa e Goza” Suplicy (Turismo) desembarca hoje em Curitiba com a
uruca em seu encalço. Há quem torça para que o aeroporto feche para
pousos e decolagens. Há quem deseje que ela tropece na empáfia.
OBLADI-OBLADÁ
Os deputados
Nelson Justus, Alexandre Curi e Durval Amaral preparam-se para explicar
tintim por tintim, na próxima terça-feira, o projeto que cria a
nababesca aposentadoria complementar para os deputados. *** Os
parlamentares estão dispostos a derrubar o veto do governador Requião a
um item que é considerado filigrana jurídica. *** Ou seja, o vento
sopra a favor. *** Afirma-se que Requião só vetou para lavar as mãos e
que os deputados estariam fechados em torno da proposta. *** A única
exceção é o petista Tadeu Veneri. Mas, ora, uma andorinha só não faz
verão. E, olha, que verão!