“Guido Viaro – um visionário da arte” é uma exposição que não pode deixar de ser vista no Museu Oscar Niemeyer. Apresentando a maior retrospectiva da produção do artista italiano que adotou o Paraná, ela é composta por aproximadamente 200 obras, incluindo pinturas, desenhos, gravuras e esculturas, e integra um grande projeto de resgate da produção do artista. A grande maioria das obras pertencem à família do artista e apenas 30 delas são de coleções particulares e instituições de arte. Complementando o projeto cenográfico da mostra, o público poderá assistir a um vídeo inédito sobre Viaro, elaborado pelo seu neto Túlio Viaro, e também ver a projeção de 1.100 obras catalogadas e fotografadas por Juliano Sandrini. O projeto de resgate da obra de Viaro está sendo desenvolvido sob a curadoria do filho do artista, Constantino Viaro, em parceria com Estela Sandrini e Maria José Justino.
Além da apresentação da retrospectiva de Viaro, haverá o lançamento do livro “Viaro, um visionário da arte”, às 19h do dia 20 de março. O livro, informa Maria José: “É o mais abrangente levantamento feito sobre a vida e obra do artista. Fui a São Paulo, onde passei 15 dias coletando dados nas bibliotecas e centros de pesquisa. No livro também estão todas as referências bibliográficas relativas ao que já foi publicado sobre Viaro”.
Segundo o curador Franz Manata, a exposição procura mostrar a face modernista da coleção relacionada com alguns objetos indiciais, correspondentes ao período de meio século de arte moderna brasileira. A curadoria privilegiou duas vertentes artísticas: o abstracionismo, dividido em informal e geométrico, e o figurativismo, cujas obras foram agrupadas em seis núcleos.
Os núcleos se dividem em realismo social, paisagem rural, festas, naturezas-mortas, marinhas e paisagens urbanas.
No excelente texto “Nervuras da Arte em Guido Viaro” Maria José escreve: “Há momentos extraordinários do Viaro pintor, em especial nos retratos. Entre eles, chamo a atenção para ‘O Medo’, ‘O Homem sem Rumo’ e ‘A Polaca’, uma das melhores obras de Viaro. É uma pintura que capta a alma da jovem, o seu interior, suas vibrações, sua luminosidade, seu perfume. As cores quentes dominam. O fundo pode revelar certa espiritualidade nas nuanças dos azuis, também no azul do olhar da jovem, mas a sensualidade se sobrepõe na escolha do vermelho como dominante no vestido e no carmesim dos lábios. O etéreo ganha carnalidade. Até o louro dos cabelos ondulados recebe reflexos do vermelho. Revela um pintor apaixonado: pela modelo, pela pintura, pela luz, pela cor. É uma mulher real que possibilita ao artista alcançar valores universais. É uma mulher loira particular, polaca, italiana ou alemã, enfim, uma mulher feita de luz, etérea; ao mesmo tempo, a pintura suplanta o referencial a uma mulher específica, galga uma transcendência, uma autonomia, são todas as mulheres em uma só, todo o feminino sintetizado. Há uma interação entre o mundo fenomenológico e o transcendental, do mesmo modo em que a tensão entre construção e emocional é resolvida. É uma pintura quase de manchas, que o aproximaria tanto dos impressionistas como dos ‘macchiaioli’, mas nela a expressão se afirma de maneira forte, as pinceladas nervosas captam o essencial. É uma pintura que estrutura as massas, onde o contorno não é um coadjuvante, mas nervura da obra. Incrível como a leveza dessa pintura no ar expressa a espiritualidade da jovem. É como se Viaro tivesse pintado essa obra de um só impulso, e trouxesse o infinito de um só golpe. Nada falta e nada sobra. A displicência das linhas desenhando a gola e as mangas do vestido é exata. Não houve escolha premeditada, os gestos aconteceram na medida. Primado da sensibilidade, da intuição e do instinto, brotados de uma região mais bruta, por isso mesmo tão sensível.
Nessa obra, Viaro é soberbo! E poderíamos falar de tantas outras obras de Viaro com igual entusiasmo”.
A exposição permanece aberta até 08 de abril, no Museu Oscar Niemeyer (R. Mal Hermes, 999 fone 41-3350-4400).